- Bom dia, estou a falar com a mãe do Vasco?
(aperto no peito)
- Está, sim…
- Olhe, daqui fala a Isaura, da escola do Vasco. Eu estou a ligar-lhe porque ele caiu durante o intervalo e diz que está cheio de dores. Parece melhor levá-lo ao hospital para fazer um raio-x…
(minha cabeça à roda)
- … quer vir cá ou quer que chamemos a ambulância e vai ter ao hospital? Acha que pode?
- D. Isaura, nem sei que lhe diga. Agora estou tão preocupada... Ma sim, é capaz de ser melhor.
- Então nós chamamos a ambulância.
- Faça-me esse favor, então, e eu vou ter ao hospital.
- Esteja descansada, eu vou com ele.
Falei com o chefe, arranquei para o hospital. Pulso acelerado, pensamentos ainda mais acelerados. Será que fracturou? O que terá acontecido? Qual será o braço? Será o esquerdo, que é a mão com que escreve? Como estará ele? Assustadíssimo, de certeza… e cheio de dores, coitadinho do meu querido!
Eu, aquela mulher de sangue frio em situações pesadas, até me enganei no caminho. A chuva, densa como nevoeiro, escondia-me o percurso, os vidros embaciavam e eu desliguei a música e liguei o ar condicionado.
Queria contar a alguém o sufoco, desabafar. Mas hesitava. Não iria espalhar preocupações vãs? Liguei só ao pai, alertando-o que talvez fosse só uma medida de precaução.
Cheguei. O Vasco ainda não tinha dado entrada. Fui esperar na rua, frente à urgência. A ambulância chegou logo a seguir. Dela vejo sair o meu menino, com ar triste e frágil.
Passo o braço em seu redor, mimo-o sem grande ênfase enquanto me inteiro do que se passou. Reparo que a zona do cotovelo está muito inchada. O pulso e os dedos também apresentam edema visível. Passada a papelada e a triagem, radiografia. “A senhora pode esperar aí fora”…
Sufoco.
Ele sai. Ninguém diz nada. Terá fracturado?
i-n-f-i-n-i-t-o-s m-o-m-en-t-o-s…
Chamam-no novamente. Precisam de fazer novas incidências. Desta vez posso entrar. Continuo sem informação absolutamente nenhuma. Será que partiu?
Ao regressarmos à urgência pediátrica, a enfermeira, nossa conhecida, informa que não partiu. “Isto hoje vai ser muito gelo e repouso”. Alívio.
Mas vai ser visto pelo ortopedista.
Não é mais que uma tendinite no cotovelo, mas requer tala. Após muito choro aflito, “não quero gesso!”, “quando é que eu tiro isto?”, saímos. Braço suspenso com uma tira de gaze. Pensamentos nas camisolas viáveis para os próximos dias, esperança que a consulta na próxima Sexta seja já para o aliviar daquele peso desconfortável.
A primeira noite foi interrompida mais que uma vez pelas dores. Agora, a rotina lentifica-se, seja no vestir e despir, no banho ou em qualquer outra tarefa. Mas o coração de mãe bate normal quando não está nestes momentos.
(este episódio aconteceu na passada Segunda)