25 abril 2013

25 de Abril



Eu era apenas um ano e tal de gente, pequena demais para me aperceber quando o 25 de Abril aconteceu.
Não sabia que o meu pai tinha ido para Lisboa, em busca dos acontecimentos que as notícias diziam revolucionários. A minha mãe, em casa, comigo, receava pelo que pudesse acontecer, temendo um volte-face na situação, mesmo alguma escaramuça...
A minha memória dos 25 de Abril subsequentes prende-se com aquele brilho no olhar dos meus pais, com as manif's, com as canções de Abril que me fazem vibrar cá dentro as cordas da emoção e me convocam ao olhar as lágrimas cúmplices dum coração que estremece.
Esta é, para mim, a data. Marca-me de tal forma que a escolhi para criar o Escrito a Quente, há seis anos.
Porque a liberdade é essencial à vida, como escrever se tornou essencial para os meus dias.

17 abril 2013

No dia que era o do aniversário do meu pai




Para mim, hoje continua a ser o teu dia.
Só não iremos mais apanhar bichos-de-conta para os fazermos rolar nas nossas mãos, enquanto esperamos que o comboio chegue, na estação do Estoril.
Nem haverá mais sessões de cinema na tv às quartas à noite, comendo amendoins.
Não terei mais oportunidade de dançar contigo aquela “amostra de dança”,  de passos pequenos e patetas, que só nós dançávamos. Ou de trocarmos um olhar codificado, cujo significado sabíamos e nos despoletava caretas ou sorrisos.
Não te ouvirei mais dizeres-me que posso escolher para ler qualquer dos inúmeros livros que tínhamos em casa, como me disseste quando eu tinha uns doze anos, acrescentando que, se algum me não trouxesse boas sensações, deveria pô-lo de parte, pois podia não ser próprio para a minha maturidade.
Também não viajaremos mais, nem nos “enfrentaremos”, debatendo acaloradamente os nossos pontos de vista, nem sempre coincidentes.
Não acenderás mais cigarros na praia com uma lupa, numa verdadeira manobra de diversão que deixava os miúdos boquiabertos.
Não haverá mais despertares de supetão. Nunca tiveste jeitinho nenhum para me acordar…
Mas sempre me recordarei da “palmadinha” que me deste nos primeiros anos para que eu adormecesse.
Não te ouvirei mais assobiar uma melodia pela casa, ou soltar um daqueles estridentes assobios no meio da rua para chamar a atenção de algum neto extraviado.
Desapareceu, da estação de S. Pedro, o cheiro do teu tabaco, que acendias mal saías do comboio e deixava um rasto que me fazia saber se calhava vir no mesmo horário, que saíras no mesmo comboio, numa carruagem mais à frente.
Mas, sabes? As andorinhas, que tanto apreciavas, continuam a fazer ninhos nos beirais dos telhados. As crianças é que deixaram de brincar no pátio, excepto os meus filhos, que ainda lá andam, uma vez por outra, a jogar à bola ou de bicicleta.
Eu continuo a ouvir as músicas que me ensinaste a gostar, continuo a levar sempre comigo um livro, para onde quer que vá. E a comer nougats, de vez em quando…
E Abril será sempre um mês muito especial…

08 abril 2013

Sabe bem...





Ouço a mesma canção vezes sem conta.
Um loop constante a passar-me por todas as fibras do meu corpo.
Como a breve memória do que antevi.
Sem explicação.
Não é nostalgia, nem chega a ser sonho.
Não é masoquismo, porque sabe bem.
Sabe bem deixar-me ir por aí. Pelas escassas frases, pelas poucas imagens. Pelo que não se disse. Não se diz.
Sabe bem sentir um licor correndo nas veias, levar para a cama luares estrelados que não farão história.
Não racionalizar. Sentir sensibilidades convergentes. Deixar-me levar na história que se faz. Conduzida por um inexplicável sorriso musical.


 

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