25 abril 2015

Abril, sempre

Abril foi sempre um mês importante na minha vida.
Um mês de datas especiais. Os aniversários do meu pai e do meu irmão, o da liberdade, o do casamento dos meus pais. De algumas mudanças de emprego. Da morte do meu pai. Da criação do meu blogue, há 8 anos.
Quem me conhece sabe o quanto o 25 de Abril é especial, a emoção que sinto, o quanto me empenho em transmitir aos mais novos a liberdade, gémea da responsabilidade, da família da consciência.
Hoje, o meu cravo vermelho vem comigo para o hospital, tímido, dentro do peito. Só eu o vejo.
Hoje, a minha liberdade será, “apenas”, a de decidir, minuto a minuto, o que fazer. Mimar a minha mãe, enquanto ouço as memórias de outros 25 de Abril, às cavalitas do meu pai, a desfilar na avenida, a ouvir o Grândola, a ter todos os sonhos pela frente.

Ainda sonho. Hoje, o meu sonho é só um. Vocês sabem.

22 abril 2015

21 de Abril


Quando telemóvel tocou, tinha um filho de três anos e meio junto de mim e uma filha com quase oito meses de gestação no meu interior.
A notícia não era boa.
Foi há nove anos e as circunstâncias, como de costume, não ajudavam.

Tive dez anos para me habituar a uma doença que nunca aceitei. 
Feitas as contas, perdi o meu pai há dezanove.
Mas consegui apaziguar a saudade.
Aprendi a viver com olhos de ver bonito. Como os seus.
Não conheci mais ninguém para quem a felicidade parecia renascer, todos os anos, no dia em que as andorinhas regressavam aos nossos beirais, procurando a Primavera.
Nem que fizesse do acender do cigarro um ritual incandescente, com início numa lupa exposta ao Sol.
O meu pai e eu tínhamos sorrisos próprios, olhares codificados, uma dança exclusiva, “bocas” e disputas dum repertório só nosso.
É tudo isso que hoje recordo. Para ver se reponho a asa num espírito desasado. O meu, desde que ele voou para outro plano.

(Ontem, tinha eu acabado de publicar este texto noutro espaço, tocou o telemóvel. Nove anos depois, a notícia voltou a não ser boa.
A minha mãe sofreu nova queda grave. Novo hematoma sub-dural.
Um dia de cada vez. E ela mais fragilizada...)

20 abril 2015

III Etapa do Circuito Regional de Surf (do Desporto Escolar)


Nem só de desporto vivem os campeonatos de surf.
Ali, respira-se maresia e cidadania. Jovens de diversos locais convergem para as ondas, levando consigo uma equipa de professores, encarregados de educação, família, animais.
O ambiente promove tanto o espírito de competição como a consciencialização ecológica. São constantes os apelos da organização aos atletas, para que deixem o areal mais limpo que à chegada. Estimula-se o seu espírito crítico e responsabilidade ao fazê-los avaliar o desempenho dos outros competidores.
O meu filho ainda continua a perguntar-me se não é “uma seca” para mim, estar presente durante estas provas. Sobretudo quando o vento frio nos chicoteia e fere os ouvidos. É claro que não. Estar tão pertinho do mar, apreciar a sã convivência entre desportistas que não se conhecem, ou dos que se vão conhecendo, vê-los jogar raquetas ou à bola, dar uns toques de volley com cães saltitando em seu redor, sentir a harmonia entre famílias e escolas é tudo o que eu gostaria que mais encarregados de educação pudessem viver. Sentir o quanto estes professores acarinham os seus alunos, o quanto se empenham por eles.
O meu filho foi até às meias-finais de skimboard e eu não vou ao ponto de dizer que a classificação não tem importância. Tem. Mas sou sincera. E o que se aprende num dia de competição num torneio destes ultrapassa o mensurável.
Só lamento a falta de condições com que os professores se debateram nesta que pretende uma localidade do surf: a Costa da Caparica. Que raio de país deixa os seus atletas e professores dormir no chão duma escola durante um torneio a ainda fazer grande publicidade em torno de um campeonato? Admite-se que não esteja uma equipa de primeiros-socorros sempre presente e alerta, como aconteceu em S. Pedro e em Peniche?
Desta etapa do circuito de surf, resta a convicção de que o cansaço de quem corre por gosto é muito mais saboroso. Todos estes alunos e professores estão de parabéns. A sociedade bem podia aprender com estes desportistas as regras de convívio, respeito, responsabilidade e entre-ajuda.

17 abril 2015

Ao meu pai, num aniversário que já não comemoramos...


Já sei que quem amamos não morre. Acompanha-nos sempre.
Mas -caramba!- há datas em que sentimos mesmo a sua falta física. Pois quem é que não deseja, acima de tudo, poder abraçar os que ama?
O meu pai faria anos hoje.
Eu far-lhe-ia um bolo, cujas velas sopraria na companhia da mulher, da filha e destes netos.
Assim, passarei o dia observando o meu filho numa competição de surf, enquanto irei tendo uma conversa surda, que ninguém ouvirá, com o meu pai. Os nossos diálogos dispensam, já, as palavras.
De resto, não era homem de grandes falas. Era mais de ouvir. Não me elogiava directamente. Orientou-me, como qualquer pai -verdadeiramente pai- orienta. Louvável atitude, para quem cresceu sem pai.
Deu-me conselhos, a maioria dos quais não pedi. Mas segui-os.
Aprendi, com o seu exemplo, a justiça, a liberdade, a coerência, a perseverança, a responsabilidade, o espírito crítico, o brio, o gosto pelo saber, a ajuda.
O meu pai foi o meu primeiro orgulho. Um herói com pés de Barros.
Tanto do que sou provém dele.
Foi pouco, o tempo que tivemos. É sempre pouco, quando se ama.
Mas valeu tanto!
Hoje, o meu coração dói, de tão inchado. Saudade e orgulho, em doses equivalentes.

15 abril 2015

Há três anos, o lançamento do meu livro, "Antes de Sermos Dia"


Da esquerda para a direita: mãe da autora; o poeta José Fanha, autor do prefácio, a quem coube apresentar a obra; editor Paulo Afonso Ramos; o cantor Rogério Charraz; a autora


O auditório do Campo Grande, antes de esgotar a capacidade de lugares sentados


 José Fanha, Sofia Barros e Paulo Afonso Ramos


A mesa com os protagonistas da apresentação


José Fanha e o porquê dos poetas escreverem


Deana Barroqueiro, que leu um dos poemas e lançou o debate sobre as 
diferenças entre a poesia no feminino e no masculino


 O poeta leu alguns dos poemas de "Antes de Sermos Dia"


 Rogério Charraz musicou e interpretou "Campo Lavrado", um dos poemas. 
Que agora faz parte do seu novo CD, "A Chave"


O agradecimento emocionado da autora


As âncoras emocionais nas primeiras filas


José Luís Outono leu "Todo o tempo é pouco"


 Uma tarde de sorrisos


Há momentos em que as palavras não bastam


A emoção, escrita a quente


O encontro de amigos. Uma tarde de magia.

09 abril 2015



O cenário: um gabinete de ortodontia.
As personagens: uma médica, uma mãe e dois filhos.
Uma conversa que começou sorridente e terminou às gargalhadas.
“Tens um dente a mais” – a ortodontista diagnosticou imediatamente o que se passa na boca do pré-adolescente . Resposta pronta da mãe: “Uns com tanto, outros com tão pouco!”
Um enredo semelhante ao da semana passada, na consulta de estomatologia.
Não há instrumentos que demovam o humor destas crianças ou ameacem os seus bichinhos carpinteiros. Quase não se consegue ter um diálogo com rumo e objectividade. As frases sempre interrompidas pelas perguntas da lourinha, que manuseia pinças, seringas e utensílios de nome desconhecido como se de brinquedos se tratasse.
Médica e mãe concluem que não há cabeça infalível. As agendas em papel guardam as anotações, mas é preciso que se olhe para elas.
Após a definição da estratégia para a dentição do miúdo, saímos, ainda rindo com a sugestão da mãe, que lhe sugeria que desse um dente à avó.

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