28 junho 2011

Sempre gostei de ti

“Começando pelo princípio, que é como se devem começar as coisas, sempre gostei de ti.”
Leio a frase, no Terceiro Livro de Crónicas, do Lobo Antunes, e revejo a nossa história.
As imagens torpedeiam-me a memória, desassossegadas, atropelando-se, ansiosas por se destacarem, ganharem protagonismo em relação às restantes.
E é como se ambos lêssemos, em uníssono, um álbum fotográfico de memórias. Cenas que começam na pré-adolescência e se desenrolam, lenta, suavemente, pelas décadas de crescimento, pela maturidade jovem de quem se foi sentindo, mesmo na ausência.
Lemos com o olhar; como nos olhamos agora, em profundidade. E interpretamos com o coração as imagens de miúdos que, em grupo, esboçam partidas, jogam ao prego ou se escondem atrás de segredos partilhados.
Percorremos o álbum com a alma presa à lembrança de conversas entrecortadas pela risota, slows dançados num entusiasmo tímido de passos lentos, cartas enviadas  com a cooperação de uma  coadjuvante cúmplice. Sempre gostei de ti.
Há retratos de praia, pequenos percursos de motorizada, saídas breves no verde da noite, tentativa-erro-descoberta e olhares que se doseiam num esconde-esconde intenso mas curto.
Perfilam-se confissões de época pascal, alternando com desfiles de festividades pagãs. A ida ao pão na manhã por desvendar, o mão-na-mão morno, todavia, tão quente.
E as músicas acompanham o nosso trilho de palavras guardadas em cartas de amor antigas, sempre vivas, palavras que se repetem em sussurros feitos reencontros, que se perpetuam com a tecnologia tornada romântica.
E há imagens de futebol e volley, cães ferozes, outros dóceis. Há festas de família e contos de fadas, cactos de boa memória e tantos lado-a-lado nos momentos gravados. Uma enormidade de lembranças comuns em quinhentos anos de vivência semi-próxima, demasiado distante. Unida pelo sentimento. Sempre gostei de ti.
Sorrisos aos quais falta o à-vontade da ousadia e sobra o enlevo da ternura. Gestos que denunciam o que no íntimo, silenciosamente, ecoa.
A demanda, inevitável, incessante, até ao reencontro. Um dia.
Anos de nada. Tudo em meses.
Emoções em torvelinho, atropelo de intenções. A presença constante, desalinhada da geografia. Planos que ganham existência. Fora desta realidade. Do outro lado da Lua.
Sempre gostei de ti.

21 junho 2011


Sou a asa que voa, do falcão desasado
Sou a menina que dança, o velho deitado
Sou o Sol e a garça, a águia e a Lua
Sou um desejo antigo numa noite tua

Sou a água do rio, correndo, manso
A onda que lambe a areia, em descanso
O arco-íris que se exibe no céu
A magia que povoa cada sonho meu

Sou tudo e nada, um embuste estranho
Matilha, vara, cardume, rebanho
Força que se solta, desabrida, em tropel
Mil patas correndo num único corcel

Sou silêncio e música, palavra e canção
Sou censura, liberdade, ternura e paixão
O muito que sinto e fica por dizer
O  tanto que quero, ainda, viver.

(foto oferecida por um amigo)

14 junho 2011


Sinto-te na cadência ardente dum bolero,
Turbilhão que me invade no interior da pele.
Olhas-me pressentindo o quanto te quero,
Regas-me num brinde ao som de Ravel.

Sinto-te em ondas fortes de desejo,
Amor consumado em altar ao relento,
Consagrado na paixão ébria dum beijo
Que redescobrimos a cada momento.

Sinto-te em vagas salgadas e quentes
E, juntos, navegamos nessa ondulação
Que une amantes em ritmos ferventes
De rituais mútuos de adoração.

09 junho 2011

É feito de silêncio, este meu pranto,
De horas sós, bordadas de tristeza
Nele me deito, perdida, na incerteza
De rever esse sorriso que amo tanto

É casebre moribundo, em ruína,
Este meu corpo que adormece, morno
Na saudade do teu e do abandono
A que nos damos, cumprindo a nossa sina

E quando novo dia me resgata à noite,
Faço-me ave em voo terminal,
Procuro galho onde a solidão me acoite
E pouso nele o meu estertor final.

01 junho 2011

À minha filha, no seu 5º aniversário

Será possível alguma vez te dar os parabéns sem me emocionar?
Será possível, quando tudo é mágico em ti?
Foste a gestação mais complicada, repleta de preocupações e tristezas, e hoje és a menina cuja alegria e vitalidade transborda do olhar azul belíssimo para todos os que te rodeiam. Vieste ao Mundo no dia da criança e do teu “avô” inglês. Num parto rápido, antecedido por um sinal que tomei por bom presságio para a tua vida. A minha vida ficou muito mais bela a partir desse 1 de Junho de 2006.
Embevecida, olho-te todos os dias com a paixão de quem te foi gerando ao longo de nove meses, com a rendição de quem te pôs no Mundo num momento tão feliz, de quem te admira pela tua beleza. Quem não te conhece, não sabe que por dentro és ainda mais maravilhosa.
Contigo não há tristeza, não há limites. Tudo é possível.
São todos dias de festa. Com uma energia interminável.
Por tudo isto, não é só hoje que estás de parabéns, meu amor. Estás sempre.
E eu serei sempre uma mãe orgulhosa, que torce para que a vida te traga ainda mais felicidade que a que me proporcionas a mim.

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