29 setembro 2013

Talvez...

 
Talvez o amor se canse de esperar
Talvez o medo impeça de tentar
Talvez a Lua nos veja dançar
Talvez os versos não devam rimar.
 
Talvez eu fique em casa se chover
Talvez as dores tenham de doer
Talvez o ventre inche de prazer
Talvez os lutos ensinem a viver.
 
Talvez um mimo te faça sorrir
Talvez os filhos não queiram dormir
Talvez um dia tenha de partir
Talvez ainda possas sugerir.
 
Talvez a obra exceda o criador
Talvez a sorte nos traga o melhor
Talvez perder seja um mal menor
Talvez ainda me dês uma flor.
 
Talvez no Inverno eu te procure
Talvez um abraço tudo cure
Talvez te roube um beijo e jure
Que seja eterno enquanto dure.

23 setembro 2013

Outono e praia

 
Sinto o calor do Sol baixo, derramando-se sobre o corpo todo, como uma carícia nas costas.
Uma sensação de massagem nos pés quando estes se expandem no areal.
Há um aroma de fim de Verão no ar. Boicotado pelo odor do tratamento de águas. Logo o sossego deixa de o ser quando uma família discute o lanche “Ó João, queres o teu Bolycao?”, seguido duma disputa entre o João e o António, primos que reclamam o mesmo cromo do lanche-surpresa de valor nutricional duvidoso.
A mãe/tia a arbitrar o conflito, alegando que ele já deve ter aquele cromo. As crianças, indiferentes aos argumentos, teimando na disputa. A senhora opta pela estratégia da fuga em frente. “E temos iogurtes, queres iogurte?” Que sim, quer iogurte. A mãe/tia saca um conjunto deles do interior dum saco térmico, onde deve ter trazido todo o conteúdo do frigorífico para uma tarde de quatro pessoas na praia. Um saco térmico grande, aparentando um recheio generoso.
Os miúdos encetam o lanche, a conversa redundante continua. Parece que cromos e guloseimas têm uma relação filosófica que lhes permite serem tema de discussão dum momento de lazer.
Aborda-se também o assunto jantar. Frango assado. E mais uma série de frases em torno do mesmo. Já me questiono se a verdadeira vocação desta família será a filosofia, se a gula.
Felizmente, Setembro e o Outono são aliados, quando se trata de ir a banhos. A praia tem mais zonas livres.
Determinada, pego nas nossa toalhas, mochilas e havaianas e migro para outro ponto, onde a areia não parece ameaçada por conversas indesejadas.
Do que eu gosto mesmo, na praia, é de sentir o Sol pintar-me a pele. Mergulhar umas quantas vezes.  Olhar, sorrindo, os miúdos eufóricos no body-board e nas brincadeiras. Deleitar-me com a boa literatura que levo sempre, para uns momentos de maior estado “zen” J

14 setembro 2013

O Verão na pele

 
Há, neste Algarve tranquilo, algo que me apazigua.
Férias sem burocracias e questões a tratar, embora algumas tentem imiscuir-se nestes dias de pausa, após meses complicados e quando me esforço por dar espaço ao luto recente.
O Sol, aqui, despede-se sempre em tons de brilho suave. Não abafa. Promete, no entanto, um calor aconchegante para cada dia seguinte.
Continuo a ser a mãe cuja atenção as crianças reclamam em intervalos de escassos minutos, infalivelmente.
Mas sou uma mãe menos dispersa, aqui.
Não deixo de ser a cozinheira, porém os almoços são dos que menos me prendem ao fogão. E sempre servidos no terraço, disputados pelas abelhas, num ambiente florido, de cor e descontracção.
Fecho os olhos, deixo-me hipnotizar pelo canto das gaivotas. Viajo com elas.
Homenageio as espreguiçadeiras, lendo languidamente romances que me levantam os pés do piso demasiado duro do restante ano.
Por vezes detenho a atenção na piscina. Nos mergulhos. Nas brincadeiras. Nos risos. Nas pequenas escaramuças infantis.
Saboreio os finais de tarde amenos, tão diferentes dos que temos em casa, ventosos.
A vida passa a ser apenas isto, por uns dias. Este ritmo brando, os poucos deveres, os bons dias duma pequena comunidade que se reúne em torno da piscina, o carinho dos amigos recém-reencontrados, a troca de palavras de apreço com mãe e tia, ao telemóvel.
Tenho o Verão na pele. As cigarras como manto. O amor dos meus filhos.
Se a felicidade tem uma fórmula, é esta.

(Algures a Sul, 8/9/13)

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