21 março 2013

Aventureiros



Que desenhemos um mapa de expedição
À descoberta duma secreta geografia.
Que eu te envolva, num jogo de sedução,
Despindo acordes em íntima coreografia.
 
Que se conjuguem todos os verbos do prazer
Numa janela  onde exibimos fantasias,
Que as tuas mãos me algemem este querer
E a tua língua me torture maresias.
 
Que eu te deite, então, quieto, submisso,
E te devore com ambas as minhas bocas.
Que reconheça no teu aroma o feitiço
Voluptuoso das formas como me  tocas.
 
E explore teu território no desvario
Líquido desta seiva orientadora,
Te descubra a montanha, o vale e o rio,
E os consuma no fogo que me devora.
 
Seremos aventureiros brincando aos amantes
Em ousada campanha de prospecção,
Nos nossos trilhos, descobriremos diamantes,
Gemidos cúmplices antecedendo nova explosão.

19 março 2013

Pai



Só te disse adeus meses depois.
Não me ocorreu dizer adeus quando vi a tua urna ser engolida pelo forno crematório.
Nunca se está preparada para dizer adeus. Nem ao fim de dez anos de doença. Dez anos que levaram o que eras, deixando-me, em vez de ti, um ser amorfo, sem brilho no olhar, sem força na atitude, sem a mordacidade das nossas “bocas”.
Fiquei sem poder de negociação quando o Alzheimer se instalou em ti. E ficou, para sempre, o meu calcanhar de Aquiles.
Naquele dia eu não estava preparada para te dizer adeus. Não quando, para se despedirem de ti, vieram do Porto familiares, que te eram tão próximos, e que continuaram desavindos e não se reaproximaram.
Não quando eu tinha uma vida dentro de mim, prestes a ver a luz dum dia onde já não te encontraria.
Tenho vivido estes últimos quase sete anos com a dor aninhada, carinhosamente, no lado esquerdo do peito, onde se guardam as tatuagens invisíveis que a vida nos oferece sem pedirmos.
Tenho sabido lidar com ela, garanto-te que tenho.
Mas hoje fazes-me tanta falta! E essa do ocupa-me todo o meu ser.
O Vasco está enorme e parece ter herdado alguns aspectos do teu carácter.
A Mafalda far-te-ia babar. Menina, loura, olhos azuis, sempre preocupada com os outros, toda ela charme.
Fazem-me falta as nossas danças cúmplices, rodopiando sobre nós mesmos, num passo desajeitado que faria qualquer pessoa rir-se de nós. Os olhares que nos dispensavam palavras. Até a tua exigência demasiada. A forma crua como me fazias ver que cabe a cada um de nós enfrentar as suas fraquezas, bater-se pelas suas causas.
Não te cheguei a dizer que foste um pai exemplar em quase tudo.
Não me preocupa isso, porque sei que te disse, sempre, o quanto te amava e admirava.
Mesmo quando já não me retribuías o abraço, quando o te cérebro doente não decifrava as minhas os meus lábios encriptados. Disse-to sempre. Não nos faltou diálogo nem o meu aconchego em ti.
Hoje, promete que não me censuras a lamechice, sim?
Porque hoje sou só saudade e lágrimas. E lamechice. Lamento.
Lamento não saber quando te vi pela última vez. A gravidez impediu-me de entrar na enfermaria onde te foram roubados os últimos sopros. Saíste de lá para um desfile triste de rostos conhecidos.
Lamento não termos conversado sobre os livros que me deixaste e os autores que descobri depois.  Os filmes que gostarias de ter visto. Lamento não termos assistido a mais concertos, não me termos bebido juntos uns copos de vinho, a acompanhar uns conselhos paternais sobre os meus amores e desamores.
Lamento já não estares para te rires por eu levar as angústias e as alegrias ao teu ouvido, tudo em doses generosas.
Segui os teus conselhos, pai. E os gostos que me incutiste. E a garra.
Estás em cada linha que leio, cada palavra que escrevo, cada luta que venço, cada manifestação que engrosso, cada sorriso. Cada lágrima.
Estarás sempre.
Só uma coisa não conseguiste ensinar-me:  o que fazer com esta saudade dolorosa. Infinita…
E, desta vez, sou eu que peço: aparece. E ri-te das minhas lágrimas. Não me deixes aqui sozinha…

16 março 2013

Zarabadim


Ontem fomos ao teatro.
E foi um serão fabuloso, o deste Zarabadim!
Cantámos, rimos, encontrámos amigos.
E a Mafalda, entre “revisão da matéria dada”, letras e ditongos, soltava as maiores gargalhadas da sala.
Foi um momento lindo, em que nos deixámos levar na história de um livro que sabe tudo, um palhaço, uma bailarina, um pinguim e uma galinha. E pelas suas cantigas, contagiantes.
Houve de tudo: uma ida aos bastidores, para conhecer a bailarina. Livros. Abraços. Tudo aquilo que enche a alma e nos reitera o sentido da vida.
Queremos voltar. E aconselhamos os amigos a irem viver uns momentos sorridentes, até 21 de Abril, na Malaposta.

08 março 2013

No dia da mulher. Que é, como todos, também dia do homem



No dia da mulher…

Não me dês palavras. Rouba-me uma dança.

Não me elogies. Faz com que eu me aperceba que me admiras.

Não me desejes um dia feliz. Sê feliz comigo.

Não me perguntes pelos filhos. Sussurra-me mundos não sonhados.

Não me leves jantar. Dá-me à boca a gula partilhada.

Não tomemos um copo num bar. Faz do meu umbigo a tua taça.

Não me fales do mundo. Inventa comigo um universo nosso.

Não me ofereças um perfume. Tatua o teu aroma em mim.

Não me presenteies com nada de material. Só te quero a pele.

Não esperes que te responda. Cala-me com um beijo quente.

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