(foto surripiada a uma amiga, que por sua vez a encontrou na net)
Estou aqui, estou a apanhá-los todos. Os fragmentos de vida, as fagulhas, os arco-íris.
Juntá-los-ei todos numa obra que será um musical mas também uma poesia.
Uma ode à vida, onde as dores também têm o seu espaço, onde a perda nos consome, mas também nos reforça o gosto pelos nossos tesouros.
Não tenho nada. Tenho a imaginação.
Mas sou mulher para guardar na caixa de recortes só o que conta. Contam os dias de Sol, os passeios e a praia. Conta a flor inesperada, a amiga alma-gémea, o chocolate negro, as corridas dos meus filhos para os meus braços. Contam os leitores que botam acima, os anónimos que acarinham, a telepatia, os retratos antigos.
E aqueles momentos de entusiasmo, uma música vibrante, um filme apaixonante, eu e os miúdos a descer pelo escorrega. Os livros trocados com amigas, os olhares marotos de quem fez asneira.
A lembrança de tudo o que vivi com os que já não estão cá.
Na minha caixa de recortes só há lugar para o que é positivo. Um pôr-do-Sol mágico, uma gole de sangria enquanto se rouba uma garfada ao prato do conviva do lado.
Risos, muitos risos, até às lágrimas.
Gelado no nariz e no queixo, cartas de amor, caras alegres.
Vou guardar os vossos gestos, as palavras mais belas, as dedicatórias que me deixam de lágrima ao canto do olho.
E conchas, estrelas do mar, borboletas coloridas e riachos que cantam. Peixes que emergem e voltam a mergulhar, Natureza, passeios de canoa.
E festas-surpresa, peças de teatro. Beijinhos à esquimó.
É que, como vos disse, nesta caixa só há espaço para o essencial.
E o essencial é o que nos faz bem.