Não é a árvore genealógica, mas uma árvore que nos acompanha há uns nove anos.
A primeira "dona" abandonou-a quando nos vendeu a casa. Era alta e esguia demais e ela não esteve para ter o trabalho de levá-la, até porque, agora que os filhos estavam cada um a viver na sua própria casa, ela ia mudar-se para um apartamento pequeno, num condomínio de luxo. Não era hora para levar todas as tralhas; era hora de viver sem grandes trabalheiras, despojada de "pesos" supérfluos.
A nossa mudança não foi imediata; a casa tinha muitos anos, havia que arranjar as paredes, pintá-la, fazer umas pequenas obras. Entretanto, continuávamos a viver na casinha pequenininha para a qual me mudara quando saí da casa dos meus pais. O pouco tempo que sobrava do trabalho e do desporto, consagrava-o a ir ver os meus pais, pelo que pouco acompanhava estes trabalhos, até porque ambiente de obras não me atrai, a não ser no final destas.
Assim, a árvore foi criando pó e acumulando sede. Muita sede. Não só eu não me apercebera de que ela ficara para trás, na varanda, como os pintores não estavam propriamente enternecidos a cuidar dela. Ficou absolutamente abandonada até ao dia em que passei da sala para a varanda, subindo a persiana numa das ocasionais passagens pelo futuro lar.
Ai, fiquei de coração apertadinho. Coitadinha da pobre, ali especada, sem poder pegar em si mesma e matar a sede. Foi arrebatamento instantâneo. Comecei a cuidar dela com o enlevo de quem lamenta a sorte alheia. Água e vitaminas, pó limpo e lustro notório. Ela nunca se deixou abater. Recompensou-me dos cuidados exibindo o porte altivo e elegante de quem passa pelas agruras sem mácula.
Viçosa, foi crescendo. Um dia, atingiu o tecto. Tive de cortá-la. Coloquei em água a extremidade decepada e esta revigorou, com raiz que logo conheceu a terra. Sempre sôfregas de vida, cresceram ambas. Uma deu um rebento. Anos mais tarde, flores. Lindas e com um perfume delicioso. Encantada, continuo a admirar esta proeza da Natureza, que hoje já conta com cinco pés.
14 comentários:
Está linda. Há plantas muito resistentes . Tenho uma que veio de poda há 16 anos de outra que era da minha sogra e que tinha mais de 20 anos.
Um abraço
Pois amor em tudo o que fazes, e isso dá frutos.
No caso, flores.
Beijinhos
Eu por cá, tive que cortar um cacto que já contava duzia e meia de elementos. Situado no eterior da casa, apoiava-se numa grande parreira, ou latada. Hoje a espécie, continua a viver num vaso, e já tem um metro de comprimento.
Bjo
Quando a Natureza é tratada com carinho!!!!
Ah, como eu também adoro as árvores!
Felizmente já plantei uma...
Bjs
Eu também gosto imenso de plantas...E relaxa-me imenso cuidar delas...
Pena é que o tempo seja tão escasso e...por vezes esqueço-me de as alimentar e mimar...
Adorei este texto...aliás como dos outros !...
Amanhã envio mail porque estou de rastos...
Beijos
É! As plantas quando tratadas com cuidado e carinho, ficam assim...agradecidas.:)
Beijos
Pois eu diria "a beleza da natureza", sempre a renovar-se e a agradecer-te....
Beijinho
Crónica da vida duma planta...A descrição é tão simples e suave que é impossivel não gostar...
Eu tenho uma verdadeira sobrevivente, também, com uma história semelhente: foi dada à minha mãe cortada de outra, um raminho pequeno num copo com água, em 1973. A minha mãe pô-la num vaso e ela tornou-se linda. Mais tarde a minha mãe mudou de casa e eu herdei a casa dela com todas as plantas. Jovem que era, ainda a estudar, ligava-lhes tão pouco que morreram todas excepto aquela. Resumindo, ainda hoje é planta, na minha cozinha. Deu flor durante anos, flores lindas, que exalavam um perfume incrível durante a noite. Hoje deixou de florir, provavelmente devido à idade, mas continua a crescer, já devagarinho.
Gosto muito de plantas mas tenho pena de não ter "mão" para elas.
beijinhos verdes
Também tenho uma dessas. Tocava no tecto, e já esté em nossa casa há 15 anos. Entretanto tivemos que a cortar, e está outra vez mais pequena. mas tenho a certeza que daqui a 15 anos estará de novo lá em cima. Ou menos!
Tiago
muito bom teu blog, parabens , foi muito bom conhecer.
Maurizio
Lembro-me muito bem dela na tua antiga casa, de cada vez que a via ficava com a ideia de que mais um pouco e ela furava o tecto... É sem duvida uma senhora planta. Tenho algumas assim que já mudaram de casa de cidade e até de distrito, e por aqui continuam.
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