30 outubro 2012

Paradigma podre



(foto encontrada na net e que me deu o mote para este post)
 
Vivemos uma vida desumana.
Em vez de vivermos cada momento, corremos dum momento para o seguinte, na esperança eterna de que seja melhor que o presente.
Não fazemos nada para mudar este, pelo que o futuro será, na melhor das hipóteses, igual, na mais realista, pior.
Não educamos os filhos. Compramo-los, se pudermos. Atafulhamos-lhes os cérebros em desenvolvimento com consolas, computadores e televisores e esperamos que não nos questionem nem nos dêem preocupações. Se não tivermos poder económico para os comprar, aí talvez lhes sobre imaginação, talvez saibam o que é um carinho. Ou talvez se limitem a crescer em frente à tv, com alguma ida ocasional a um shopping como passeio de fim de semana.
Não os deixamos andar sozinhos na rua, mas também não lhes ensinamos a responsabilidade.
Preparamos-lhes as mochilas para a escola, para que não tenham faltas de material, como se orientar fosse o equivalente a fazer as coisas por eles.
Esquecemos a educação e o sorriso, não cultivamos as amizades e esperamos que eles cresçam, ainda assim, harmoniosos e sem carências emocionais.
Queremos o que requeira o menor esforço. A expressão não é fácil… atira-se à toa como desculpa para não se meterem mãos à obra.
Julgamos os outros, sem sermos exigentes connosco próprios.
Descuramos os nossos velhotes, sem nos lembrarmos que brevemente nós seremos os velhotes. Esquecemos o amor que investiram em nós, como se não fosse mais que a sua obrigação.
Não nos coibimos de publicar nas redes sociais que precisamos dum abraço ao menor embate da realidade, que tão duramente nos retirou a possibilidade de irmos de férias, mas não valorizamos as existências duríssimas de quem tudo suporta e, em vez de dizer adeus às férias, está na fase de dizer olá ao banco alimentar.
Usamos e abusamos das palavras e deixamos cair em desuso as ações.
Alimentamos mal o organismo e pior o cérebro, como se a comida rápida nos deixasse mais tempo para vivermos e a cultura fosse coisa de extra-terrestres.
Continuamos a achar que os outros são outras vidas, sem nos darmos conta que a geometria da vida é feita de retas paralelas, de pontos de interceção e pontos comuns. Que há um círculo comum que, no final, nos envolve a todos, inexoravelmente.
Insistimos num paradigma comportamental podre, ignorando as provas de que está errado. Entronizamos o dinheiro e conseguimos a proeza de virar a cara ao ser humano, por mais indefeso que este seja, por mais próximo que esteja. Infringimos os direitos dos animais e ferimos de morte a Natureza em geral.
E, no fim, ainda acreditamos no Natal.
Sim, eu disse no Natal.
Não no Pai Natal.

10 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

"Continuamos a achar que os outros são outras vidas, sem nos darmos conta que a geometria da vida é feita de retas paralelas, de pontos de interceção e pontos comuns. Que há um círculo comum que, no final, nos envolve a todos, inexoravelmente."

Isto não é um desabafo, minha querida
É a Geometria da Vida...

Bem descrita!

Maria disse...

Texto fortíssimo!
O segundo que leio hoje e que me tira as palavras. Fico com um nó, apenas.
Abençoado o momento em que coloquei esta foto na net...

Beijo.

vieira calado disse...

Pelo Natal
logo se vê quem acredita...

Bjsss

São disse...

A foto , já a vira no facebook.

O texto é lúcido, certeiro e tocante.

Pena que muito mais gente não possa reflectir sobre as verdades que escreveste.

Um feliz final de semana

São disse...

Tens uma oferta para ti no "são": espero que te agrade e aceites.

Bons sonhos, linda

Nilson Barcelli disse...

Faço minhas as tuas palavras, fortes mas verdadeiras.
Esquecemos tantas coisas fundamentais que a tendência é para pior...
Fizeste um excelente texto.
Querida amiga, tem um bom fim de semana.
Beijo.

Braulio Pereira disse...

olá Querida amiga

vamos dar Amor. para um Mundo melhor.

obrigado.


beijo.

Branca disse...

Muito bom minha querida, é tudo verdade e como já há muitos anos dizia uma canção dos Beatles que todos conhecem, tudo o que precisamos é de amor.

Beijinho grande para ti, em quem penso sempre, apesar da época de silêncios que me atravessa.

Branca

Fernando Santos (Chana) disse...

Excelente texto...
Tem um prémio lá no meu blog....
Cumprimentos

albana disse...

Muito realista...tão comovente!

beijinho

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