13 abril 2011

Deixei-te o Sorriso em Casa

Agora apanhaste-me desprevenida. Pedes-me que te aconselhe um livro para leres.


Vou fazê-lo de cor, amigo. É que já não o tenho comigo. Como sabes, ultimamente deixo os livros cá de casa desamparados na solidão numerosa uns dos outros porque não tenho comprado mais. Visito a biblioteca e eles colam-se-me às mãos, como costumava acontecer nas livrarias. Ao fim e ao cabo, são todos feito da mesma matéria, essa matéria que se me cose à pele: as palavras.

Deixei-te o Sorriso em Casa. Não deixei. É o título do livro. Começa logo aí, o meu fascínio. Que é comum a outros títulos do mesmo autor, tão desconcertantes quanto apelativos: Os Sapos Vivos Estão Pela Hora da Morte e O Pescador de Girassóis.

Faltam-me os sapos, porque os sorrisos e os girassóis já os devorei.

Começando pela razão deste livro.
Começa sempre pelos sentidos, que isto de ler, para mim, é intuição, em dose igual à paixão. Se der em romance, tanto melhor. E deu.

Para onde quer que tenhas ido, onde quer que estejas, estarás sempre comigo para além do tempo.- frase magnetizante, que só não prende quem nunca lamentou a perda de alguém. Começou, portanto, no título e nesta frase, a sedução.

Detive-me com gosto no Nuno e na sua livraria, no tio misteriosamente desaparecido, no velho feiticeiro de sorriso perdido que faz de tudo para o reencontrar, na Isabel, coleccionadora de sorrisos em parceria com Nuno, nas gémeas livreiras e cozinheiras, com um passado amoroso de caixão à cova, todos aqueles participantes das tertúlias secretas madrilenas. E na Ana, claro. Insidiosamente sedutora, mas não vou adiantar-me…

Há também os poemas de Guerra Junqueiro, as promessas por cumprir, as tentações que deitam tudo a perder, planos e amor, sorriso e coração. E os locais por onde o Sorriso me levou a passear. Mas o que me enamorou mesmo, foram as imagens. A forma inédita que as palavras assumem nesta narrativa que me empolga pelo estilo. “Não é o que dizes, mas como o dizes”- conheces a expressão? Mergulhei na leitura, repetindo a mim mesma “é assim que eu sinto; estas imagens podiam ter sido escritas por mim”. E felicitando-me pela descoberta deste criador de uma escrita deleitosa.

3 comentários:

Isamar disse...

Ainda não li qualquer das obras de António Santos, embora já estivesse tentada a ler o seu primeiro romance, mas tu despertaste-me o apetite.O título também é sugestivo mas o teu conselho é muito importante.

Bem-hajas, amiga, que tão bem escreves!

Beijinhos

Jony River disse...

Mais uma vez....
Até num simples conselho tu fazes....Magia!!!
E por favor, Nunca Deixes o Sorriso em Casa, nem na tua nem na de ninguém.....;)
Ainda nao li nada do senhor, mas ainda nao vai ser desta....ando desinspirado para leituras....eheheh

cris disse...

Gostei de passar aqui! Não conhecia este autor mas vou conhecê-lo de certeza...A biblioteca também é um dos meus locais predilectos e as BLX têm quase tudo (e acesso pala net).
Escrever é realmente um dom e escrever com magia é um dom ainda maior! Gostei mto da forma como recomenda o livro e vou, certamente, ler o seu conto.
http://otempoentreosmeuslivros,blogspot.com

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