
Consumindo as derradeiras energias num estertor letal, gatos contorcendo-se no meio da estrada. Triste demais.
Se a primeira cena se passou há anos, na Avenida Almirante Reis, em Lisboa, e não me saiu da cabeça, esta não me largará nunca.
São flashes que voltam à memória uma e outra vez. O terrível espectáculo de um ser inocente num movimento desenfreado de dor, de desespero. Desespero que se entranha em quem assiste ao acontecimento.
Há uns doze anos, numa avenida em que eu própria seguia ao volante, com uma série de outras viaturas atrás de mim em velocidade constante, a única coisa que pude fazer foi contornar o animal, evitando tocar-lhe com alguma roda. Ficaram as lágrimas e a triste lembrança.
Hoje, porém, a minha atitude foi outra. Pedi a quem conduzia que parasse o carro. Sinais de luzes para quem se preparava para cruzar o entroncamento. “Que se passa?”- ainda perguntou a senhora.
Eu, precipitei-me numa ânsia protectora para aquele minúsculo gatinho que esgotava a vida numa luta perdida. De início, nem sabia onde era o seu ferimento. Sangue, pedacinhos na via de circulação.
Cá dentro, ansiedade. Cabeça fria, no entanto, que nestas alturas nunca perco o raciocínio.
Apliquei todo o meu carinho no gesto de pegar naquele peso-pluma. Um bebé preto, que revelou uma cabecinha esfacelada. Um coraçãozinho precipitando-se para a eternidade.
E foi no mimo das minhas mãos que ele se despediu deste sofrimento. E eu fiquei assim, como estou agora. Mas com a certeza de que fiz o que devia ser feito e que ele partiu cheio de carinho.
Apliquei todo o meu carinho no gesto de pegar naquele peso-pluma. Um bebé preto, que revelou uma cabecinha esfacelada. Um coraçãozinho precipitando-se para a eternidade.
E foi no mimo das minhas mãos que ele se despediu deste sofrimento. E eu fiquei assim, como estou agora. Mas com a certeza de que fiz o que devia ser feito e que ele partiu cheio de carinho.
Escrevo este post "pesado" com o intuito de recordar a cada um de vós o que o meu instrutor de condução costumava frisar: um carro é uma arma que temos nas mãos.