(foto retirada do site da APAV)
Existem situações que são problemas sociais graves mas que não levam cada um de nós a reflectir sobre elas.
Hoje comemora-se o Dia Internacional Contra a Violência contra as Mulheres. A violência, é importante frisar, não é constituída "apenas" pelo estalo, o encontrão, o pontapé, o empurrão, a violência sexual. Esta é a violência do macho (por vezes com capa de ser social perfeito, bom anfitrião, aparentemente atencioso com mulher e filhos), reiterada, com repetidos pedidos de desculpas que vão sempre redundar num regresso à agressão.
Violência é muito mais abrangente que isso. Pode ser insidiosa; instala-se sem que a vítima se aperceba inicialmente. Primeiro perde-se a comunicação, depois a calma, a seguir o respeito, por fim qualquer limite pode ser ultrapassado. Ou não. Mas ficam as sequelas psicológicas. E, consequentemente, sociais, económicas.
Se os números dos registos da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) têm registado uma tendência de aumento, o projecto europeu DoVE (Domestic Violence against Women/Men in Europe: Prevalence, determinants, effects and policies/practices) frisa que se estima que um terço das mulheres em Portugal tenha sido já vítima de algum tipo de violência doméstica.
Um terço é demasiado! Imaginem quantas pessoas cada um de nós conhecerá que se enquadra nestas estatísticas! E não sabemos… Será que fazemos por saber?
Para quando a conscencialização global? Para quando a denúncia por parte de quem tem conhecimento, já que boa parte das vítimas não apresenta queixa? Para quando a punição real, e em tempo útil, desta forma de violência cobarde, socialmente escamoteada e destruidora de famílias?
Para quando uma sociedade justa, igualitária e com uma consciência global?
Talvez quando cada um de nós faça algo mais que leitura, quando o tema é um tema como este. Delicado. Porque não dizer: vergonhoso?
10 comentários:
vergonhosos, sim... e passa-se ao lado de tanta gente, impávida e serena, que até assiste...
sempre contra toda a espécie de violência, física ou psíquica, lutar até ao fim!
bom texto, parabéns
beijinhos
Os números (os conhecidos) são arrepiantes; não só a violência, a morte horrorosa, tantas vezes tão novas...
Ter a consciência de, chamar a atenção de, educar para.
Abraço e as melhoras do menino.
Que a violência não é só contra as mulheres, embora este dia seja simbolizado para este tema.
Eu nem queria acreditar (só porque eles são, na generalidade, mais fortes) mas há violência dirigida a homens.
Vergonhoso.
Decadente.
Inadmissível.
Que vamos fazer para para esta crescente tendência?
Bj
A quente, quente, não tenho palavras.
A frio talvez amanhã... estou a falar a sério, filoxera.
Beijinho
Este seu texto dá-me um puxão de orelhas! Aceito. Devia ter-me referido ao tema. Talvez ainda o faça.
Cortantes as suas palavras, que nos levam a reflectir.
A tolerância, a compreensão, o respeito, a partilha e o amor são hoje valores cada vez mais ausentes.
A voracidade predadora da sociedade consumista em que vivemos leva as pessoas a esgrimirem sentimentos, não na busca de pontos de concórdia, mas tão só desembocando na violência vergonhosa (não só física), como lhe chamou, e bem.
É a violência sobre crianças, mulheres e, até, sobre o homem.
Uma das formas de violência que mais me magoa é a obscura ignorância em que a sociedade actual vai crescendo, perante uma passividade quase global.
Continua actual o pensamento de Luther King:
"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons".
É urgente que o ser humano replante a árvore do amor, para voltar a ser coisa viva. Hoje mais se assemelha a um zombie.
Foi Mia Couto que escreveu:
"O amor é a mãe de toda a coisa viva".
Desculpe ter-me alongado.
Um beijo
é???
Então vais já levar uma grande tareia de beijinhos!!!!!
É Vergonhoso tanta falta de escrúpulos, ainda ante-ontem se passou um assassinato aqui na minha terra, sem apelo nem agravo e lá está, de que se tirou a vida a uma pessoa e o assassino continua a viver.
Filoxera,
Felizmente, apesar de tudo, já se avançou muito nos últimos anos.
Há uns anos atrás, perante uma agressão violentíssima que se estava a verificar no prédio em que vivia - o homem, um jovem, agredia a mulher e ameaçava atirar o bebé do 2º andar - chamei a GNR e a resposta foi a da altura, não podiam fazer nada.
Como a tarde ia a meio, tentei contactar pessoas que conhecessem a família da jovem, e só eles é que vieram pôr fim ao desacato.
Agora imagina a impotência com que assisti a sucessivas cenas destas.
Agora uma coisa que acho tremendamente injusta é a mulher, depois de agredida, ser obrigada a deixar o lar.
Porquê? Porque não levam o agressor para longe?
Se alguém souber, agradeço que me responda.
Bem hajas, amiga!
Um beijinho
Gaivota:
Normalemente, as vítimas não dão luta... Infelizmente, muitas vezes nem recorrem aos meios disponíveis para obterem ajuda.
Bettips:
Obrigada. Pelo comentário e pelos votos de melhoras :-)
AnaMar:
Claro que os homens também são vítimas de violência; eu, por acaso, tinha noção disso. Apenas me referi à violência sobre as mulheres por ser o dia desta, mas qualquer tipo de violência é condenável.
Maria:
De cabaça fria e mais descansadas, havemos de falar.
Carlos:
Quanto ao comentário, adorei, pelo que o pedido de desculpas não faz sentido. Como sempre, as suas pertinentes palavras contêm uma mensagem forte e uma poesia inerente, uma poesia realista. Contêm o saber de uma vida rica e o sabor de quem as prova e as reparte com quem o lê.
Senti-me honrada com o comentário, porque me deu a entender que o post poderia cosntituir uma fonte de inspiração.
António:
Tareias de beijinhos, isso sim, é admissível; por vezes, até, desejável.
Meg:
que sufoco, essa sensação de perigo eminente!
Quanto à deslocação da vítima, claro que devia era ser o inverso: uma medida cautelar que afastasse o agressor, permitindo à vítima continuar a sua vida normalmente...
A todos: beijinhos.
Ninguém tem noção do que isto é, antes de passar por isso.
Um dia, talvez tenha coragem para falar abertamente do assunto.
Agora não tenho.
Beijinhos
Eu antecipei-me um pouco e falei há dias neste drama...
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