14 junho 2009

Até um dia, Gírio!


Foram várias as viagens que empreendemos todos juntos. Um grupo de amigos que seguia os programas de viagens organizadas pelo meu pai numa época em que Gorbatchov abria as mentalidades e as portas da URSS ao turismo.
A notícia da morte de Manuel Gírio apanhou-me de surpresa. Nunca estamos preparados… apesar da distância no tempo, pois há muitos anos que o Alzheimer do meu pai nos fez apartar de uma série de amizades, não deixei de sentir a perda de mais um homem da cultura e do espectáculo português.
Espero que lá, nesse plano infinito, se reencontrem, ele, o meu pai, a Lucinda -que também connosco viajava com frequência- e aproveitem para pôr em dia temas políticos, culturais, familiares.
Lamentando não ter na minha posse nenhuma das letras que o Gírio costumava compor para as marchas de Campolide, percorri a internet em busca de elementos que me ajudassem a deixar-lhe uma homenagem merecida. Fui dar a um blogue , o Torre da Couraça, onde encontrei estas linhas. As primeiras são um poema da autoria deste amigo viajante, sendo as restantes a homenagem que o autor do blogue lhe dedicou, com as quais estou plenamente de acordo.

NA LINHA DO OESTE

Não tenho tempo a perder
Nem truques a ganhar
Nem frases para entreter
Nem promessas de embalar
...
Levo o meu rumo traçado
E um caminho para andar:
Deixar p'ra trás o passado
E só p'rá frente avançar.
...
-Quem hesita na partida
Ficará a hesitar
o resto da sua vida....
...
Eu quero seguir a rota
que o bom senso me indicou
ser tal qual como a gaivota
que pr'a trás nunca ficou.
...
- Vou embarcar no comboio
que a vida me destinou...
...
Vou p'la linha do Oeste
atrás da minha vontade
já num azul-celeste
vi o sol da Liberdade!...
...
Onde é que ficou a esp'rança
naquele Maio projectada?
quando é que de Abril se alcança
a promissora alvorada?
...
-E é do comboio que avança
esta lembrança mordaz;
«Ficou p'ra trás, ficou p'ra trás, ficou p'ra trás...»
...
Mesmo se o combóio parar
eu hei-de seguir viagem.
Aqui não me quero ficar
Não me falte a coragem!
Sozinho ou acompanhado
devagar ou a correr
não hei-de ficar parado
porque parar...é morrer!
...
O Manel não morreu, prosseguiu viagem. Porque só tardiamente tive notícia da sua partida, não estive lá, nesse derradeiro cais onde embarcou, só com bilhete de ida como sempre acontece, para dele me despedir com a promessa de que ainda um dia nos haveremos de encontrar para longas conversas sobre teatro e música.
Até lá fica a lembrança desse homem afável e educado, culto e sonhador, companheiro de Abril e de outras jornadas, como a do inesquecível Jornal de Alenquer onde saíu o belíssimo poema de que acima transcrevemos alguns excertos em sua homenagem. Esse poema havia sido dito no Sporting Clube de Alenquer num aniversário do jornal (1979) e toda a sala o apaludiu de pé.
O Manuel Gírio escreveu e encenou teatro. No teatro de Revista atingiu alturas que o levaram a ser representado por companhias profissionais. E quem não se lembra de todos esses espectáculos que puseram Alenquer a rir e a chorar? O Manel era igualmente um excelente letrista.
E é situando-o no palco, à boca de cena, agradecendo os aplausos pelo sucesso de uma vida, enquanto as cortinas lentamente se fecham e as luzes se apagam, a última imagem com que quero ficar dele. Até sempre Manel.

9 comentários:

FERNANDINHA & POEMAS disse...

MINHA QUERIDA AMIGA, LINDA HOMENAGEM A ESTE GRANDE HOMEM... FIQUEI FELIZ DE TE LER... VOTOS DE BOM DOMINGO... ABRAÇO-TE COM CARINHO,
FERNANDINHA

Pena disse...

Comovente. Lindo.
É maravilhosa, sabia?
Excelente. Adorei!
Beijinhos de pasmo, de respeito imenso e de parabéns sinceros.
Cordialmente e fascinado...

pena

OBRIGADO, pela sua preciosa amizade.
Bem-Haja!

Maria disse...

Um abraço para ti, bem apertado.
E um beijinho...

Carminda Pinho disse...

Há pessoas que nos deixam tantas saudades...

Beijinhos, linda.

amigona avó e a neta princesa disse...

Mais uma recordação para a caixinha da AMIZADE...deixo-te um abraço solidário. Posso estar mais ausente - por vários motivos - mas não me esqueço de ti, amiga...

Anónimo disse...

Uma bela homenagem!

Anónimo disse...

Boa tarde Filoxera,
entrei no seu bloque nem sei porquê,
mas as coisas não acontecem por acaso este fim de semana estive me Alenquer por causa de um Estágio de Karate e o seu texto fala de Alenquer.Gostei do blogue.
Beijos,
Helder Carvalho

Entre "linhas" disse...

Uma linda homenagem a um grande homem.
Bjs Zita

ANTONIO SARAMAGO disse...

Tu, és algo de muito Especial, sabes não sabes???

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