01 maio 2008

Infeliz dia do trabalhador

Felizmente que é feriado.
Assim, o senhor engenheiro faz uma pausa no seu excelente trabalho (o que, pela qualidade do mesmo, só beneficia o país).
E vem lanchar comigo. Isso mesmo. O chefe do governo vem comer um pão com manteiga e beber um chá. Lanche simples, que o rendimento não dá para lhe oferecer mais.
Vai esclarecer-me acerca daquelas questões que não lhe tiram o sono mas deixam insones tantas famílias portuguesas.
Se começar por perguntar-lhe se considera admissível uma multinacional da indústria farmacêutica (por sinal, a primeira no ranking de vendas) despachar grávidas e lactantes com resultados de trabalho comprovadíssimos, o senhor engenheiro talvez se engasgue.
Deixá-lo-ei recompor-se e, então, indagarei se tem conhecimento que a Comissão para a Igualdade no Trabalho ainda se atreve a emitir um parecer positivo acerca de tais despedimentos.
Mais: corrobora-os já fora de prazo, dado que o parecer tem de ser solicitado antes de a empresa nos apontar o caminho da porta.
O pão já custa a passar-lhe pelo gargalo. O senhor primeiro-ministro denota um certo desconforto. Talvez um pouquinho mais de chá, para ajudar a "empurrar" o pão...
Mas não; lamento, o orçamento familiar não o permite.
Aproveito e altero o rumo da conversa. Sabe o que são empréstimos à habitação? Sabe.
Menos mal. Então saberá que estes oscilam consoante as danças da taxa de juro, que, danadas para a brincadeira, optam por um ritmo cada vez mais acelerado.
E sabe que a rede de escolas públicas não satisfaz a necessidade da população portuguesa e, portanto, grande parte desta tem os filhos entregues a instituições particulares e cooperativas? Pois.
Agora, senhor engenheiro, esclareça-me: perante a subida das taxas de juro, o aumento do preço dos bens essencias, a começar pela alimentação, dos combustíveis e transportes, dos serviços indispensáveis ao funcionamento de uma habitação familiar, imagina o quanto os portugueses estão estrangulados? Certo...
Por fim, senhor chefe de governo, se o português em situação estável já não sabe que voltas dar aos números para cumprir as suas obrigações, diga-me: o que farão os desempregados?
Que remédio nos trará para o sono que nos foge?
Para a casa que um dia nos pode vir a faltar?
Para o ensino dos nossos filhos? Diga-me porque é que temos de obrigar crianças de 5 anos, que já sabem todas as letras do alfabeto e até se exercitam a fazer contas e estão ansiosos por aprender mais, a repetir a pré-primária só por terem tido a infeliz ideia de nascer após 15 de Setembro?
Explique-me tintim-por-tintim como é que se designa uma política por "protecção no desemprego" se as medidas que a constituem parecem ser destinadas a enxovalhar-nos?
O senhor engenheiro, numa lembrança súbita, consulta o relógio e balbucia um pedido de desculpas; tem um compromisso inadiável dentro de poucos minutos.
- Falaremos mais noutra oportunidade...
- Pois... Um feliz dia do trabalhador para o senhor engenheiro.

11 comentários:

Carminda Pinho disse...

Amiga, como te compreendo...e, tu sabes disso.
O sr. engenheiro/1ºministro não é um trabalhador amiga, ele é um oportunista, aldrabão, prepotente, amigo só de gente rica.
Ele tira o pão da boca dos pobres, com as politicas de direita que tem implementado neste País que, devia correr com ele e com os amigos dele.
Veremos para o ano...

Beijos

Espaços abertos.. disse...

São os pobres deste país a "carne para canhão" dele subtraiem tudo e mais alguma coisa através dos impostos para que o Governo possa comprar merçedes e outras cenas mais...
Bom Feriado amiga
Bjs Zita

Isamar disse...

Estou contigo, amiga! Eu sei bem do que falas! Eu estou a par disso.Há gente muito pobre, sem emprego, que barra o pão com lágrimas.
Para quando um Portugal mais justo, mais igualitário, mais Abril?

Beijinhos

Rui Caetano disse...

Feliz 1º de Maio, nosso dia...

jo ra tone disse...

É compreensível amiga tudo o que descreves
O sr ministro não está com os pobres, não quer saber das necessidades de cada um.
Não se conseguirá pôr termo a esta ditadura, a não ser com o voto em branco nas próximas eleições.
Vão por mim
O país está estrangulado
Beijinhos

Anónimo disse...

Cada vez acredito menos nos políticos!

Olha,
Feliz Quinta ferira de Ascenção.

Beijo

Maria disse...

Amiga Filoxera

Fiquei com o teu post "entalado" na garganta, e não é por falta de chá... é pela lucidez do mesmo, e de quanto eu gostaria que o teu convidado virtual o lesse mesmo....
Sei que não lhe causaria qualquer alteração de expressão, mas tinha curiosidade em ouvir a resposta. Porque ele, demagogo como é, arranjava logo uma resposta que começaria "bem, sabe..... etc. e tal..."
O desemprego é um flagelo. Um desempregado de longa duração, que tenha terminado o subsídio e que não tenha apoio porque não tem mais família, não sei como pode sobreviver...

Um abraço solidário

Anónimo disse...

Um escrito escrito que se lê com muito agrado, pelo tema e pelo humor, e até pela visão que nos apresente ado senhor Presidente do Conselho de Ministros. Uma delícia. Boa semana.

O Profeta disse...

Vivemos e um perverso pás...lamentável!


Na água tudo se perde
Lavas do rosto a desventura
Uma lágrima é simples gota
Perdida do mar da ternura

A chuva percorre um caminho incerto
Viaja nas asas do vento norte
A manhã é cadeia de anseios
Que dita a boa ou a má sorte


Bom fim de semana


Doce beijo

BlueVelvet disse...

Grande Post amiga!
Só não acho bem é que lhe tenhas oferecido chá...davas-lhe um copito de àgua e ia com sorte:)))
Por estas e outras é que tens lá umas coisinhas para levantar no meu bistrô novo.
Já o viste? Viste a caixinha dos veludinhos? Não é a dos comments. É a do lado.
Beijinhos e bom fim-de-semana

António Inglês disse...

Bom dia Filoxera

Sabe que tinha uma amiga de infância, amiga de escola a quem chamava carinhosamente, Filó...Filoxera...?
Bem mas não foi por isso que aqui vim.
Quando entrei, dei de caras com o "nosso" primeiro à conversa consigo e pelo que vi, tratou-se de um monólogo porque a ele nem ouvi abrir a boca...
porque terá sido?
O pãosito que lhe deu tinha dois dias? E o chá estava fora de prazo?
Não percebi, algo lhe tirou a fala...
Olhe que um dia destes, se o continua a convidar para "chás" destes, ainda a constituem arguida...
Um beijinho e bom fim de semana.
António

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