31 dezembro 2007

É tempo de prémios na blogosfera






Quem dedica algum tempo à blogosfera sabe que este é um espaço rico em amizades e em atenções. Estas, podem assumir a forma de comentários ou de prémios. Eles circulam por aí, multiplicam-se com toda a sua carga subjectiva, não deixando praticamente ninguém de fora desta onda de solidariedade.

Desta vez, foi a Blue Velvet, do blog http://babyvelvet.blogspot.com/, que distinguiu o Escrito a Quente com este prémio. A ligação afectiva não terá, provavelmente, sido alheia à escolha. No entanto, sinto-me babada e grata pela distinção e passo a dar seguimento à atribuição do prémio. Não sem antes divulgar as regras que presidem a tal atribuição.

Regras "É um blog muito bom sim senhora!" Não há regras, excepto linkar a imagem ao meu blog (se vos apetecer), de resto a regra de escolher o ou os blog(s) fica à responsabilidade de cada um.
Agora, e com toda a carga subjectiva agravada por um conhecimento pouco vasto em matéria de blog's e coroada pelo reboliço de dois filhos "eléctricos" que correm, jogam à bola, fazem barulho, pulam no sofá e fora dele e sa magoam, terei de distinguir outros sete a quem repassar a "batata quente". São eles:

1- Fundamentalidades, pela forma exemplar como alia o estilo jornalístico a uma sensibilidade poética. Pelas opiniões.
2- Grau Zero, pelas imagens, pela identificação com as suas palavras.
3- A Qualidade do Silêncio, magazine de artes (e não só) sob a forma de blog. Umas Histórias Fulminantes fabulosas!
4- Ao Sabor do Olhar, pela originalidade da forma e da autoria.
5- Sophiamar, pelo modo único como nos embala nas suas histórias. Porque consegue ver beleza no mais comum dos percursos pessoais.
6- De Amor e de Terra, porque a sua poesia nos embeleza os dias.
7- Memórias Vivas e Reais, pela paixão e pela sensibilidade que poucos homens demonstram e que Pena não se inibe de exibir.

Saliento, no entanto, que da minha selecção de links de outros blog's, foi difícil ter de seleccionar sete. Qualquer um dos restantes destes links, e não só, seria também uma boa escolha.

24 dezembro 2007

O que hei-de eu oferecer-lhes?

Há tempos, deixei no ar a ideia de escolher prendas de Natal para aqueles que são os meus amigos bloguistas.Não se trata de uma lista real, nem nada que se pareça.
É uma brincadeira, só para ver se acerto mais próximo ou mais distante da mouche no que toca a intuições para presentes a quem não conheço ou conheço apenas dos blogs. Não se sobrepõe aos votos de paz, amor, harmonia, saúde e de tudo o que prezamos na vida.
Desafio-vos, portanto, a lerem, com espírito natalício, a lista de compras de Natal que levaria comigo numa expedição consumista destinada a bloguistas:

À Alex (Grau Zero) daria um cachorro fofo e brincalhão. Não repõe os amores já partidos, mas cria um novo.
O Alex Gandum receberia uma semana de férias num turismo de habitação no Alentejo, para matar saudades, seguida de outra semana no Porto, para conhecer melhor.
A Amigona seria presenteada com uma verba choruda para utilizar com aqueles a que apoia no seu dia-a-dia.
A Bárbara Cecília merecia vir a Portugal um mês, conhecer o país e conhecer-nos a nós.
À Blue Velvet ofereceria uma garrafa cheia de magia, para que ela própria pudesse ir doseando a saída dos seus desejo, concretizados.
À Carminda, o mesmo que eu quero para mim: trabalho e livros.
A Maria (desses blogs que ficam entre nós), receberia um bilhete de avião para um país africano que nós duas sabemos. Voaríamos ambas rumo ao passado.
A Maria Mamede, pela sua veia poética, teria de receber uma edição centenária d'Os Lusíadas, ou outra edição, qualidade premium, de um autor a seu gosto.
A Sophiamar seria presenteada em duplicado: com o cd "Mar de Sophia" e a publicação de um livro com as histórias com as quais nos deleita.
O Tiago receberia uma surpresa literária: "Os Pilares da Terra", de Ken Follet.
O Victor teria no sapatinho a edição em dvd de "O Sétimo Selo", de Ingmar Bergman. A sugestão partiu do próprio Victor.

Acertei? Não? Para o ano, já vos conhecerei melhor, será mais fácil dar o seu a seu dono...A quem eu não referi, peço que compreenda que me referi apenas aos bloguistas com quem mais tenho trocado impressões.Mas a todos formulo aqueles votos de tudo de bom que a vida possa trazer.

20 dezembro 2007

Parabéns, Tia!

A infância, passou-a entre o Algarve natal e o Alentejo, para onde a profisssão itinerante do pai conduziu a família.
O tempo era de escassez de recursos e abundância de artimanhas para dividir o pouco por muitos.
Em casa, a Beatriz era a mais velha de três irmãs. Os pais haviam tido oito filhos, mas as maleitas da época reduziram, logo à partida, a conta para metade. Além das três meninas, restara Alberto, cuja idade o afastava das irmãs no andamento da vida.
Na escola, a professora, rígida e exemplar no que tocava aos antigos modelos de educação, castigava-lhe as mãos, vítimas da falta de compreensão e de capacidades que a profissão deveria espelhar.
Animais domésticos eram sempre uns quantos, chegando um coelho a partilhar as refeições
à mesa. Era animal que se impunha, inclusivé, ao gato da casa. Quando era imperativo demonstrar quem reinava, desatava a bater ruidosamente com as patas, fazendo o gato mostrar num ápice para que queria as patas. Mas já estou a desviar-me da menina da nossa história.
Destemida, via nas cobras do rio uma forma divertida de afugentar as irmãs. Assim, levava-as para casa, pois então. Era vê-las ficarem sitiadas num quarto, apelando, em gritarias aflitas, ao socorro materno! Trepava às árvores, sujava-se na terra e fazia apitos de qualquer ervinha que se exibisse no seu caminho. Assobiava; contudo, não era hostil aos ditames sociais.
Na adolescência, o papel de guardiã da moral fazia com que olhasse de esguelha as amizades masculinas das irmãs, coisa sempre considerada vigiável, se não mesmo censurável, no Alentejo de então.
A ambição de continuar a estudar, para vir a ser enfermeia, ficou, também, refém dessa moral anquilosada que estipulava a enfermagem como pouco recomendável para futuro profissional das jovens. Foi assim que a Beatriz viu o seu sonho ser cancelado, a sua ambição frustrada. Sempre dinâmica, era obrigada a estacar perante as convenções sociais. A carreira acabaria por se desenhar com linhas, presas em tecidos como a sua vida, presa às deslocações pelo país fora, ao serviço de uma empresa fabricante de máquinas de costura. Não ensinava apenas o corte e a costura; lançava também as suas alunas na magia criativa da beleza dos bordados à máquina.
Desses tempos, ficaram amizades ou lembranças delas. E muitas, muitas histórias...
Décadas decorridas sobre esta vida itinerante, ainda tentou cativar-me para o pedal da costura, mas, por falta de entusiasmo meu e não de vocação sua, continuo leiga nesta matéria...
Outros empregos passaram pela sua vida, outros acontecimentos a marcaram.
Pela inexorável mão do tempo ou do azar, perdeu a mãe e, anos mais tarde, o irmão quase-herói. Dilaceradas, Beatriz e a irmã mais nova tentam encontrar as melhores frases para desferir no pai o golpe da perda do filho. Mas, ultrapassada a dor impotente, Pedro ainda encontraria forças para enfrentar, e vencer, uma doença de mau presságio.
Partiria, também ele, anos mais tarde, pouco antes da minha chegada a este mundo. Já não tive tempo de conhecer este avô, mas a tia Beatriz é âncora de qualidade incomparável no meu percurso de vida.
Os resquícios do seu temperamento traquina de menina ecoaram na forma como contrariava os cuidados com que o meu pai me alertava para os perigos deste salto em altura ou do contacto com aquele animal indomesticável. Aliás, é convicção familiar que o seu papel é, precisamente, o de fazer com que as crianças percam os medos. Como a subtileza com que foi insinuando o contacto desconfiado do meu filho com o mar.
Nos fins-de-semana na casa desta tia, que entretanto perdera também o amor da sua vida, o banho era de "emergência" (que eu assim designava por confusão com "imersão"), o tempo era de descoberta e os programas variavam entre o passeio em quatro rodas (que os meus pais não podiam proporcionar-me), uma ou outra sessão de cinema infantil como a Annie, e, numa fase mais adiantada no tempo, o madrugar para ir para a quinta, lá para a Azambuja.
À noite, a cama recebia esta ocupante em ponto pequeno, assustada, de início, com as costumeiras lesmas e osgas que habitavam com frequência o quarto.
As favas foram-me impingidas à revelia, mas no que tocava a gemadas tive de me impôr: nada de misturas, só gema, purinha com açúcar.
E havia a imagem do anjo-da-guarda à cabeceira, o galo a anunciar o dia, os troféus africanos trazidos pelo meu tio, que ainda dão à casa o seu tom de originalidade museológica.
Impelida pela curiosidade e pelo espírito da descoberta, percorreu a Europa em autopulman e de avião, vindo, mais tarde, a expandir o seu percurso viajante para outros continentes. Sem falar inglês nem francês.
Aos treze anos acompanhei-a numa pequena excursão a Marrocos, aos catorze fomos passar uma semana de férias a Benidorm, moda estival da época.
Foi mais ou menos por estes anos que a minha tia me deixou começar a experimentar a sensação de conduzir, sempre em locais onde a segurança não ficasse hipotecada.
Um dia, foi ela quem me ofereceu a carta de condução e me deixava guiar sempre que estávamos juntas, com uma confiança inabalável; o meu pai chegou, um dia, a encolher-se no banco de trás, num daqueles dias em que todo o céu era não azul, mas água. As estradas, rios. E ela ali, no "lugar do morto", o seu carro nas mãos de uma condutora inexperiente, a não transparecer nada mais que optimismo.
O mesmo optimismo que, finalmente, conseguiu reencontrar neste seu 76º aniversário, comemorado numa reduzida mas agradável reunião familiar, apesar da doença que importunara já pai e irmã e decidira atravessar-lhe agora no seu percurso.
A má notícia arrumada numa estante, juntamente com as relíquias testemunhas de outras vidas. Os tratamentos, tão frequentes e tão frescos, vencidos pela personalidade duma mulher que foi aprendendo a adaptar-se às circusntâncias que a vida lhe foi apresentando.
Voltou a ser a minha tia, a dos arranjos milagrosos nas calças do meu filho, que, outras mães se veriam tentadas a mandar para o lixo.
A que responde sempre que está bem, preocupada em não nos trazer inquietações.
A que, nas reuniões familiares, traz sempre aquilo que se comprometeu em trazer e mais algumas coisas, de que se lembrou entretanto.
A que é frontal comigo, mesmo quando isso implica desacordo, tal como eu sou com ela. Porque somos assim, diferentes e parecidas. Impulsivas, intempestivas, transparentes reciprocamente. E adoramo-nos, o que se sobrepõe a quaisquer minutos ou horas de esgrima verbal.

19 dezembro 2007

Uma história que me tocou




O texto seguinte é da autoria de uma mãe. Uma mãe de dois filhos, um filho e uma filha. Uma mãe brasileira que, infelizmente, se tornou conhecida deste lado do Atlântico pelas piores razões.
A Flávia, sua filha, está em coma vigil. Metade da sua vida tem sido assim.
Apelo a que conheçam a sua história, quer lendo o texto que transcrevo, quer visitando o blog http://flaviavivendoemcoma.blogspot.com/.
Só hoje dediquei um tempinho ao meu blog, pelo que este post não saiu no dia 17, dia assinalado na blogosfera por uma postagem colectiva em nome da Flávia. De qualquer modo, não quis deixar de me associar, como ser humano e como mãe, a esta iniciativa. Até porque as causas não se cingem a datas marcadas.

[Photo] A arte desta foto é um trabalho de Isabel Filipe do blog Art&Design, de Portugal.Apresento a vocês a minha família. Meus filhos Fernando e Flavia. Eu, ao lado deles. Sempre.Fernando vai completar 24 anos em abril de 2008. Está no último ano da Faculdade de Publicidade, na ESPM de São Paulo. Mas Fernando trabalha mesmo é como ator, profissão que adora e na qual vem se destacando dia a dia. Meu filho é motivo de orgulho para mim.Hoje, 16 de Dezembro de 2007, é aniversário de Flavia. – 20 anos, metade dos quais em cima de uma cama hospitalar, desde que entrou em coma vigil, por ter quase se afogado quando teve seus cabelos sugados por um ralo de piscina, mal vendido, mal instalado e nunca fiscalizado.As fotos minha e de Fernando são recentes, mas aqui Flavia foi fotografada 4 anos atrás.Talvez algumas pessoas possam estranhar o fato dela estar com os olhos abertos. Essa é uma característica do estado de coma vigil. A pessoa abre os olhos durante o dia e os fecha à noite para dormir. Este sorriso de Flavia aconteceu uma única vez em quase 10 anos. E isto foi no dia em que ela completou 16 anos. Eu estava por perto, e cliquei esse momento raro e mágico.O estado em que fica uma pessoa após sofrer um acidente que deixe seu cérebro lesionado, nunca é igual ao outro, cada caso é diferente, pois isto vai depender da extensão da lesão cerebral sofrida. No caso de Flavia por ela ter ficado, não se sabe quantos minutos presa ao ralo da piscina pelos cabelos, ela sofreu quase afogamento e teve morte dos neurônios e de acordo com o neurologista que a acompanha desde que há quase 10 anos ela, já inconsciente, deu entrada na UTI do Hospital Santa Isabel em São Paulo, Dr.Fernando Norio Arita, a extensão da lesão causada ao cérebro de Flavia é de grandes proporções e seu estado de coma, é considerado irreversível. Flavia, ficou apenas com a audição preservada. Percebi isso quando ao ouvir os latidos de Michele, nossa poodle, Flavia estremecia na cama como se tivesse levado um susto. Notei que o mesmo acontecia quando uma porta batia ou um trovão se ouvia. A expressão de seu rosto também muda quando ela sente dor. Embora sutilmente, reaje a sensações agradáveis, como um carinho, um beijo no rosto, um afago em seus cabelos. Sempre que lhe faço massagens, percebo na expressão de seu rosto que Flavia sente o toque de minhas mãos. Fora isso, Flavia ficou completamente dependente de tudo e de todos para toda e qualquer atividade. Não fala, não se move, não responde e nem reage a estímulos verbais. Ficou com uma severa disfagia que é a incapacidade de engolir, e por isso precisa receber aspirações traqueais várias vezes ao dia, para evitar que venha a ter problemas respiratorios. A disfagia faz com que ela tenha que ser alimentada por uma sonda gástrica introduzida cirurgicamente em seu estômago. Outra seqüela debilitante do acidente é a hipertonia, uma hiper atividade do tônus, que se não forem feitas fisioterapias diárias, a pessoa vai ficando deformada. A fisioterapia é fundamental, mas dependendo da condição em que ficou a pessoa, mesmo recebendo tratamento fisioterápico diário, ela vai adquirindo deformidades ao longo dos anos. Infelizmente é o caso de Flavia que tem as mãozinhas e os pés sempre rígidos e crispados, como se estivessem o tempo todo sob forte e constante tensão. Presenciar isto dia após dia é doído. Sinto uma impotência tamanha, que me faz pequena diante do grande sofrimento de minha filha. Amor de mãe deveria ter mais poder.Com este relato não pretendo absolutamente despertar pena ou piedade em quem quer que seja. Pena merecem as pessoas que por medo de se expor, não exercem a cidadania para si ou para seus entes queridos. Minha intenção é mostrar em quão dolorosa pode se transformar a rotina de vida das vítimas que sofreram acidentes parecidos com este de Flavia. Conforme venho documentando em posts anteriores, acidentes com ralos de piscinas são mais comuns do que se pensa. Por favor, leiam os casos documentados no blog de Flavia e precavenham-se. Se você mora em um prédio de condomínio, exija que o síndico providencie, por empresa devidamente habilitada, vistoria técnica no sistema de sucção da piscina. E se você é responsável pela compra e instalação de qualquer equipamento de sucção de piscinas, exija que o fabricante desse sistema, ( no caso de Flavia, a JACUZZI DO BRASIL ) efetue a venda com todas as informações necessárias à correta instalação desse sistema. Precavenham-se.Fiquem com nossos sorrisos e nossos agradecimentos pela divulgação que possam fazer da história de Flavia, que representa UM CASO, DE TANTOS QUANTOS SABEMOS EXISTIR DE NEGLIGÊNCIA E IMPUNIDADE.Que o exemplo de Flavia, possa servir para evitar novas tragédias e que a solidariedade de vocês possa acordar nossa Justiça em coma. Este, profundo.Muito obrigada e até a BLOGAGEM COLETIVA DE AMANHÃ, dia 17.12. Contamos com sua participação.PS: Isabel, muito obrigada por seu trabalho com nossas fotos, um lindo presente de aniversário para mim e Flavia.
publicada por Odele Souza às
0:12 a 16/Dez/2007








09 dezembro 2007

Hoje, jantei em frente à tv. Jantar não é o termo certo; petisquei. Um copo de vinho tinto a acompanhar umas tostas com queijo. Tinha uns pedacinhos de queijo da Serra e de Brie e fui "debicando".
Deixei-me ficar, ali no sofá, engolindo indolentemente enquanto prestava uma atenção relativa a um documentário que se desviou dos mergulhos dos pinguins para a hibernação dos ursos sem que eu me tenha apercebido da mudança.
Curioso! Tantos anos sem ligar à tv e agora isto! Lembro-me que, quando os miúdos eram pequenos, eu ansiava por um tempinho para mim; para ler ou para não fazer nada... Os dias escoavam-se sem sequer, às vezes, permitir momentos para emagrecer a lista de assuntos pendentes. Descansar era sempre verbo para conjugar no futuro.
E agora as horas arrasatam-se. Faço qualquer coisa para fugir à sensação de casa vazia, mesmo que tenha de ligar a tv ou passar horas ao telefone.
Na agência, o ritmo é demasiado corrrido, pelo que, quando chego a casa, me entrego ao desleixo e à preguiça, se para aí estiver virada.
Mas, quando chegam os fins-de-semana, a modorra acaba por pesar e, frequentemente, deixo-me entupir pelo vazio.
Compro os jornais, leio, dormito, vejo tv e, sempre que o telefonte toca, troço para que não seja o Manel. De há tempos para cá, deu em multiplicar os pretextos para reencontros que não me apetecem.
Tenho de gastar um bocadinho de conversa de chacha quando me cruzo com algum vizinho nas escadas mas, quando entro em casa, sinto-me uma refugiada a salvo da curiosidade alheia.
Mergulho em prazeres adiados demasiado tempo e redescubro o encanto de um bom romance, o suspense de um filme ou os planos de um encontro com esta ou aquela amizade antiga. De vez em quando tenho também que voltar a um passado juvenil, quando a minha mãe resolve atormentar-me, ao telefone, com as suas angústias e a exigência de uma visita que é tão mais prorrogada quanto o grau de censura na sua voz...
Bem, mas hoje não vou escrever mais. Quero procurar o dia de amanhã; acordar bem-disposta e sem o ar de quem foi atropelada por um camião. É o dia do almoço com os ex-colegas da faculdade. Um dos dias mais aguardados do ano...

05 dezembro 2007

Desafio

A Sophiamar deixou um desafio aos leitores do seu blog. Apesar de achar que há temas mais interessantes para escrever do que eu própria, vou dar seguimento, para não me achar uma "desmancha-prazeres".
Assim, aqui vos deixo as dez coisas que me ocorre dizer sobre a minha pessoa e que contribuam para me conhecerem melhor:

1. Adoro ler e escrever.
2. Adoro viajar. Embora, nos últimos anos, não tenha tido sorte neste aspecto.
3. Tenho vários defeitos; o mais óbio parece-me o ser ansiosa.
4. (ligado ao anterior ponto) Detesto perder tempo, sou quase fundamentalista neste capítulo.
5. Sou tolerante, tento viver de mente aberta.
6. Não sou consumista.
7. A minha alma está presa ao Porto, sobretudo cidade, mas também clube. Embora eu seja de Lisboa.
8. Tenho de sentir-me produtiva.
9. Sou mãe de um menino e uma menina lindos, espertos e reguilas.
10. Sou muito dada a "excursões mentais".

A quem o quiser aceitar, deixo o mesmo desafio.

03 dezembro 2007

Resposta ao desafio

A minha amiga Sophiamar (http://sophiamar.blosgpot.com) deixou-me um desafio a que dei agora seguimento.
Trata-se de pegar num livro (oh, meu Deus, qual há-de ser?) e escolher uma página ao acaso e um parágrafo ao acaso.
O livro escolhi-o, de entre as memórias de livros que me tocaram. Não tenho relido livros, mas este talvez merecesse... É que há sempre tantos à espera...
Quanto ao acaso da página e do parágrafo, já não foi tanto acaso, pois alguns parágrafos nada mereceriam de grandes cogitações...
Aqui vai:

João de Melo, "Gente Feliz com Lágrimas":

"Sabe que em breve a amará e odiará também por isso. Talvez venha a ender-se a essa maternidade instintiva, ao modo como ela sempre prtogera os irmãos mais novos. Mas odiará o tom imperativo dessa voz que continua resignada perante a infelicidade. Não tolerará ouvi-la consagrar ao Divino tanto sofrimento, nem firmar-se na certeza de que só Deus a curará. No combóio, tivera tempo de sobra para planear a sua fuga para fora da esfera de Deus. Decidira desobedecer-Lhe em tudo e dar a si mesmo o excesso de viver e amar a vida do lado de cá dos muros. Começaria por esquecer-se dos Domingos."

Pela densidade psicológica, pela abrangência cultural e geográfica, pelo rio cronológico deste romance, fica a vontade de a ele voltar e o desafio a quem não o leu: esta é uma história que vale a pena conhecer.

O desafio lançado pela Sophiamar fica aqui, lançado ao ar. Quuem quiser que o agarre...

26 novembro 2007

O momento mais romântico dos útimos tempos

Ontem.
Regressávamos a casa. Noite.
O carro subia a rua que antecede a nossa casa.
A lua, cheia, emoldurava o vidro da frente.
Na rádio, anunciavam o Jorge Palma. Encosta-te a Mim.
Parámos de imediato o carro. Ali, a poucos metros de casa.
Quedámo-nos no embalo doce da música romântica. No nosso calor.
E demos as mãos, numa pieguice linda.
Eu e os meus filhos.

25 novembro 2007

Lembras-te?


Evaporámos os anos. Foi-se o tempo que nos separou.
A conversa flui, as horas do contra, como naqueles anos.
Por momentos, as ideias borboleteiam em torno da vida visível, a do dia-a-dia apartado pelas circunstâncias.
E depois volta tudo. A areia não seca da onda que a banhou. A ondulação não pára, antes adquire novos ritmos. Traz consigo o aroma e a cadência de outros tempos. Envolve-nos nas histórias vividas no compasso da adrenalina juvenil, aproxima-nos e afasta-nos, simultaneamente. Sobretudo, estreita-nos.
Recordamos episódios caricatos, memórias estudantis, partidas da vida, quando esta se vivia descontraidamente, ao momento.
Foram risadas, noitadas, parvoíces partilhadas a conta-gotas. Passeios nocturnos e encontros diurnos, amigos comuns e cursos diferentes.
Num ambiente só nosso. Cão e céu nocturno testemunhas eventuais.
Cuplicidade além-fisionomia...
Escondemos cafés onde ninguém os viu, desatolámos carros e contámos estrelas em corridas de submarinos.
Deixámos os estudos a marinar para a noite pós-solar. Ou para o dia após essa noite.
Fomos aqui e não chegámos a ir ali, mas a espontaneidade esteve sempre do nosso lado.
Agora há assunto a sobrar do tempo. Tantas palavras por dizer... Mas também, dizê-las todas não foi, nunca, a nossa preocupação...

17 novembro 2007

Foi assim, o meu fim-de-semana


O caminho faz-se por um estado de alma em terra batida.
O Sol envergonha-se por não comparecer à nossa chegada ao monte perto de Beringel, onde uma casa branca debruada de azul nos aguarda.
A receber-nos, a amiga a toda a prova. E uma beleza de paisagem abraçando a casa.
Vizinhos, só os cavalos,as ovelhas, os patos, galinhas e outros animais. É tudo o que eu imaginava, sendo ainda muito mais do que idealizava. É a vontade de criar raiz aqui, o impulso de abandonar definitivamente a confusão e fundir-me nesta paz.
Respirar fundo e gravar na memória momentos de sossego e de Natureza.
O alpendre convida a um almoço grelhado, horizonte alargado ao infinito. Saboreia-se o porco preto e a companhia, amalgam-se planos para a tarde.
E, quando esta se anuncia, é tempo de pular a cerca. Entrar nos domínios das ovelhas, cuidadosamente. É que, enquanto procuramos as bebés, atentamos ao trilho percorrido; não queremos esmagar os ovos ocasionais que as galinhas esquecem por aí.
A lição sobre a expressão "carneirada" é uma aula prática e os ovos, esses, exibem-se, prontos a levar para casa.
Não há limite para a urgência de explorar o corpo desta terra, fértil de tranquilidade. Paredes meias com a casa, os equídeos reclamam mimos. Cumprimentam os forasteiros e saboreiam, pouco depois, cenouras oferecidas por mãos infantis. A pequenita quer entrar na esfera deles, agarrá-los.
O terreno é pródigo em matéria prima e alonga-se até onde os nossos olhos se estendem.
A curiosidade urbana conduz-nos ao encontro dos porcos e das cabras, o Vasco sentindo-se incomodado. A irmã, pelo contrário, exibe o tradicional interesse pelos animais.
A anfitriã nada deixa ao acaso; aliás, quem entra em casa apercebe-se que os pormenores não são descurados, embora o espírito da casa não seja de perfeccionismo, mas de funcionalidade, como convém.
Uma porquinha de Beja aguarda o nosso paladar, secundada por trouxas de ovos ebolo de laranja; laranjas e diospiros são presente da terra.
Na almofada de cama, o bombom apela ao descanso do corpo, não do paladar. Um raminho de margaridas contribui para o ambiente acolhedor do quarto e da casa.
O serão é passado na cozinha, moderna mas rústica, de lareira a acompanhar a conversa fluida e a leitura e escrita, iluminadas pelo fogo comum à lareira e às velas. Aqui, o tempo é de calma, amizade e partilha. A electricidade relegada para o aquecimento dos quartos e a ligação do computador em que inicio este relato apaixonado.
A manhã dá os bons-dias com a profundidade do silêncio, apenas quebrado pelo nosso assomo ao alpendre, na verificação do consumo dos restos por parte dos gatos que vadiam por aqui.
Há que aproveitar o que o campo nos oferece; assim, partimos à recolha de azeitonas, nozes e amêndoas, explicando a flora ao meu filho. Uma represa pontua de brilho o trilho por onde passamos.
As pedrinhas rolantes conferem musicalidade ao passeio e uma ou outra rasteira ocasional aos pequenos.
Encho os pulmões enquanto saboreio o momento, com a sensação de que poderia arrastá-lo indefinidamente sem dele me saciar.
Os estômagos caprichosos conduzem-nos de volta a casa. O almoço é pontuado por ideias, sugestões de passeios para a tarde e considerações sobre as localidades das imediações.
Decidimos, por fim, uma ida a local ainda desconhecido, ao encontro da água: Alqueva. E saímos, gravando na memória e no memory key a imagem deste reduto tranquilo.
O percurso é oportunidade para queimar os últimos cartuchos duma amizade à distância.
E fico presa à vontade de regressar, não só para desfrutar da rusticidade duma casinha linda, mas também para fotografar as paisagens alentejanas de amontoados brancos de construções térreas e de árvores pontuais ou conjuntas, emolduradas num plano ora azul e verde ora dourado-terra.
E chegamos à imensidão da planura líquida. Quebrada aqui e ali por harmoniosas ilhas no leito da barragem. Do lado posto, a estrutura técnica, pesada e eficiente. E, no exterior dos seus limites, a beleza da vegetação contrasta o colorido do meu deslumbramento.
Foi neste estado, meio poético meio saudoso, que me despedi da mais maravilhosa anfitriã que conheço, a minha amiga que me religou ao Alentejo materno.
No regresso, tentei registar na memória visual a magia do Sol de Novembro rasgando de tons rosados um céu amarelo pintado de nuvens azuis. E idealizei a escrita do restante registo deste fim-de-semana onírico bem real, enquanto a música atapetava a estrada de retorno.






13 novembro 2007

Perdas e ganhos

Esta música toca-me.
Toca-me quase tanto como as palavras que recebo aqui no blog, e não só, vindas daqueles que me lêem.
Aqui tenho ganho muito. Aprendo, treino, pesquiso.
Mas o que é realmente importante é que me identifico com alguns de vós, admiro estilos e personalidades. Prendo-me.
Perco-me na noite, guiada pela mão de quem me apreciou sem me conhecer. Esta parece-me ser a única "perda", a das horas de sono. Deito-me ainda com as vossas atenções, com os mimos recebidos.
Aqui sou, como hoje alguém dizia, eu própria. Aliás, a maioria de nós joga limpo. Primeiros posts pendurados na franqueza do anonimato, posts subsequentes alicerçados na cumplicidade do círculo habitual.
Já me admirei, já ri, sorri. Já fui esmagada pela apreensão.
Cantarolei, apoiei, comentei, recomendei.
E fui, e vou, mais longe.
Acompanhei, descobri. Corri blogs até aos primórdios. Dei-me a conhecer.
E fui conhecendo.
Inquietando-me com as tristezas e desilusões dos amigos.
Lamentando perdas.
Aplaudindo.
Aqui me fortaleci. Aqui me vulnerabilizo.
Porque faço o mesmo que na minha vida: mergulho a fundo, valorizo, acompanho, exploro, Apaixono-me, não retenho emoções.
Este é um post de inquietações, de sentimentos, de expectativas. Às vezes perdemo-nos, outras conquistamo-nos. Mas deixar de dar está fora de questão.
Quem me conhece sabe-o. Sensibilidade da cabeça aos pés. Capacidade de fazer manter frio o sangue quente.
Urgência de viver. Ânsia em conhecer. Porque a vida é para ser partilhada.

12 novembro 2007

Encontro dos bloguistas

Amigos da blogosfera:
A Blue Velvet e eu lançamos um desafio a todos: que tal um encontro de Natal, para cimentar o espírito participativo e, tantas vezes, solidário destas nossas reuniões escritas? Algures em Dezembro, talvez almoço ou jantar...
Que dizem?
'Bora aí fazer uma tempestade de ideias acerca do assunto? Aguardamos as vossas contribuições.
Publicaremos brevemente como a ideia tem sido recebida.

11 novembro 2007

Ainda tenho umas semanas pela frente para pensar o que seria o meu presente ideal para cada um dos meus amigos bloguistas. Quando tiver concluido esta lista, também a publicarei.

Carta ao Pai Natal

Então, se é assim, já com o consumismo a apelar ao Pai Natal, eu também me vou adiantar e pedir-lhe já as coisas que mais gostaria de receber neste Natal
































(Espero que o orçamento do Pai Natal seja generoso, ao contrário do meu...)
Ah! E se vierem roupas (interiores ou exteriores) e adereços também não calharia nada mal... Assim como um curso de Gestão do Tempo...

















-Não é vedade que o Pai Natal não tem tefone?

10 novembro 2007

Canoagem


Ando novamente com uma vontade enorme de fazer canoagem num dos próximos fins-de-semana.
A ver se desta vez não fico tanto tempo a desejar...
Não sei onde se faz, nem os preços, mas vou informar-me.

08 novembro 2007







Reclamação atendida: faltavam as legendas!
1ª foto: Maia. Chamo-lhe "O obelisco". Representa as freguesias da Maia.
fotos do rio Douro, passeando junto à Foz.
Últimas duas, no centro da cidade: Igrejas do Carmo e das Carmelitas. A torre é a dos Clérigos.





01 novembro 2007

Porto, aqui vou eu!


Adoraria poder passar agora pelos blogs de cada um de vós, meus amigos. Li os vossos comentários e não resisti a vir aqui deixar-vos este post. Para vos agradecer e para que saibam que vou, finalmente, matar saudades do Porto. Quase dois anos sem ir lá, eu que sou "tripeira" de coração!...
Por isso, tenho de me deitar e deixo aqui um beijo a cada um dos amigos da blogosfera, e a promessa de que irei saborear os vossos blogs logo que possível, algures na próxima semana.
Até já! (que era o que eu costumava dizer sempre que me despedia do Porto durante a minha infância e adolescência).

30 outubro 2007


A Sophiamar lançou um desafio a alguns bloguistas, entre os quais me incluiu.
Pela honra que senti, esforcei-me por conseguir dar seguimento. Eis as indicações:


1) Pegar num livro que tenhas à mão ... não vale procurar
2) Abri-lo na página 161,
3) Procurar a 5ª frase completa.
4) Postá-la no blog.
5) Passar o desafio a 5 bloggers
6) É proibido ir buscar o melhor livro e postar a frase que acharmos mais interessante.
7) Divulgar o nome e o autor do Livro.


A frase é curta, mas bem ao estilo "neologístico" de Mia Couto:


"Mas, num contra-repente, o silêncio se mostrou."

Imaginativo, não é?
O silêncio é de ouro, por ser um bem escasso. E, às vezes, faz tanta falta!
Sem silêncio, chegamos a ser impedidos de ouvir os nossos próprios pensamentos...

O autor é o acima mencionado, a obra "Cronicando", sendo a editora a Caminho.
É difícil escolher apenas cinco desafiados, mas aqui vai:

Sobe e Desce
Alex
Alexandre
Victor Nogueira
Blue Velvet

Espero que gostem destes desafios. Divirtam-se!

26 outubro 2007

Parabéns, Vasco!




O meu poeta faz hoje 5 anos.
Cinco anos iniciados com um trabalho de parto arrastadíssimo e brutalmente doloroso, compostos por noites mal dormidas (N), desgaste físico, dedicação em exclusivo e depois partilhada, pequenas maleitas e todas aquelas preocupações que estes pequenos seres nos reservam.
As dores, ao contrário do que se diz, não se esquecem. Mas são ultrapassadas e altamente recompensadas. As noites desperdiçadas não são dadas por mal empregadas, o desgaste físico decorre daquele "correr por gosto", a dedicação quase se torna uma dependência nossa.
Tudo escorraçado para um canto, pelos progressos do meu primeiro amor incondicional. As primeiras palavras, as brincadeiras, os primeiros dentes, os passos iniciais registados com o maior enlevo. O carinho espontâneo memorizado para sempre no meu coração. O vocabulário rico, a curiosidade e vontade de aprender a fazerem-me admirar este miúdo admirável. Os sorrisos e as gargalhadas a curarem o pior dos meus dias. A ligação emocional a intensificar-se até ao infinito.
O meu filho é lindo, sociável, cheio de fantasia. É tão tolerante que se esquece de me acender o semáforo amarelo quando me excedo, conforme combinámos. E é o meu amigo número um.
Parabéns ao meu maior professor: aquele que me ensinou a ser mãe!




25 outubro 2007

Críticas e sugestões face à política de desemprego

Oeiras, 23 de Outubro de 2007
Acta da Reunião de Trabalho
(realizada em 12 de Outubro de 2007)

As notícias em Portugal sobre o desemprego tornaram-se numa rotina, desvalorizando-se a realidade económica e social subjacente, reflectindo problemas humanos, pessoais e familiares que os números das estatísticas não revelam.
A taxa de desemprego em Portugal atinge actualmente 8,3%, cujo valor elevado está associado a implicações de natureza social graves.
A estrutura do desemprego sofreu alterações importantes que devem ser motivo de preocupação: aumento do desemprego de longa duração e da sua durabilidade, bem como do desemprego de jovens à procura do primeiro emprego.
Engrossam as fileiras do desemprego de longa duração trabalhadores oriundos de sectores tradicionais da actividade económica, como por exemplo determinados sectores da indústria com uma estrutura etária mais elevada e com baixas qualificações profissionais e, aumentou o número de jovens (com menos de 25 anos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística) à procura do primeiro emprego, incluindo recém-licenciados que permanecem mais tempo à procura de uma oportunidade de trabalho.
De referir também que o desemprego estatístico está abaixo do desemprego real e que o subsídio de desemprego não abrange aqueles que estão à procura do primeiro emprego, não cobre situações de desemprego que não cumpriram o mínimo legal de contribuições para a segurança social e ainda outras situações decorrentes de esgotarem os prazos de acesso ao direito, assim como não abrange os desempregados que se encontrem a receber formação por desígnio do IEFP.
A situação do desemprego e as inúmeras situações de fracos ou inexistentes apoios no âmbito da Segurança Social aos desempregados e suas famílias constituem um mal social que nos deve preocupar a todos e, em particular, ao Governo.
O subsídio de desemprego deve funcionar nessa medida como um “seguro” social para fazer face a situações excepcionais de perda de rendimento de trabalho.

Assim, aos doze dias de Outubro do ano de dois mil e sete, realizou-se a presente reunião com a seguinte ordem de trabalhos:

a) Objectivo da reunião
b) Identificação das reclamações
c) Sugestões a apresentar
d) Implementação das acções a tomar

No decorrer da reunião, e na sequência da ordem de trabalhos, identificaram-se os aspectos do desemprego considerados menos adequados e as respectivas sugestões de melhorias:

- Dever de apresentação quinzenal;
- Regime de faltas na apresentação quinzenal;
- Faltas registadas por motivos de saúde;
- Falta de coordenação na informação a conceder ao desempregado;
- Falta de acompanhamento adequado a conceder pelo IEFP;
- Falta de clarificação do montante a atribuir na frequência de formação profissional;
- Impedimento de procurar trabalho enquanto se realiza a formação profissional;
- Estatuto atribuído ao desempregado na qualidade de formando;
- Falta de meios tecnológicos.

Nesta sequência, foram identificadas as respectivas sugestões de melhoria para os aspectos acima relevados:

- Reconsideração do dever de apresentação quinzenal;
- As faltas injustificadas não devem dar ocorrência a advertência escrita;
- As faltas por motivo de saúde devem sempre revestir a natureza de faltas justificadas;
- Melhorar a utilização da base de dados do IEFP para apoio ao desempregado;
- Formação actualizada a conceder aos funcionários do IEFP;
- Esclarecimento dos montantes a atribuir na frequência de formação profissional;
- Incompatibilidade dos horários da formação com a procura de trabalho;
- Clarificação do estatuto do formando;
- Extensão do programa das novas tecnologias aos desempregados e formandos.




Anexo: Detalhe dos pontos abordados

Presentes:

(nomes dos 19 participantes)

Pontos analisados

Reconsideração do dever de apresentação quinzenal

No âmbito dos deveres dos beneficiários consagrados nas alíneas f) e g) do art. 41º e alínea c) do nº 1 do art. 42º do regime jurídico aprovado pelo Decreto-Lei nº 220/2006, de 3 de Novembro, considera-se que o modo de controlo dos desempregados para além de “ferir” a dignidade do trabalhador, fragilizado pela sua condição profissional, viola alguns princípios fundamentais consagrados na Constituição da República Portuguesa.

As faltas justificadas não devem dar ocorrência a advertência escrita

Relativamente ao cumprimento do dever de apresentação quinzenal, tem-se verificado que na falta de comparência do beneficiário à respectiva convocatória até à data limite definida, quer por motivos de saúde do mesmo ou de seus familiares, é registada uma advertência escrita e, embora o beneficiário se apresente em dias posteriores com justificação válida do ocorrido, a advertência não lhe é retirada, sendo ainda comunicado verbalmente que, com uma próxima falta, lhe é retirado o subsídio de desemprego.
Face ao exposto, propõe-se que seja feita uma análise mais cuidada desta situação apresentada por forma a fazer cumprir o estipulado do art. 44º do Decreto-Lei acima referido.

As faltas por motivo de saúde devem sempre revestir a natureza de faltas justificadas

Mediante o Regulamento do Formando, art. 9º, nº 4, alíneas a) e g) existem diversas situações de faltas que são possíveis de justificar, aplicando-se para isso a legislação laboral e normativos legais específicos em vigor.
No entanto, no mesmo artigo, no ponto 5, refere-se o facto de o número de faltas justificadas não poder ultrapassar 5% da duração total da formação, quando esta situação ocorrer, aplica-se o número 7 do mesmo artigo, que determina a perda de 1/30 da bolsa mensal de formação.
A um desempregado que esteja de baixa é-lhe pago o subsídio de desemprego na totalidade.
Tendo em conta que o valor da bolsa de formação que auferimos é descontado ao valor do subsídio de desemprego, assim este diminui. Se o formando estiver de baixa e ultrapasse o respectivo percentual de faltas justificadas perde parte da bolsa, coloca-se pois a pergunta: o formando em baixa médica vai receber tendo em conta o subsídio total inicial ou, este valor menos a bolsa?
Exemplificando, um desempregado de baixa recebe a totalidade do subsídio de desemprego, um formando de baixa que ultrapassou o limite de faltas justificadas recebe a totalidade do subsídio de desemprego, bolsa de formação ou tem penalização por ultrapassar faltas justificadas?
Para um curso de 800 horas, 5% perfaz 40 horas, que será 5,7 dias de formação. Se o formando gozar o direito referido no art.º 9, nº 5 relativo a 5 dias de casamento, ficará numa situação que praticamente não poderá dar mais faltas justificadas. O que sucede se houver a morte de um parente ou cônjuge, será que o formando para ir terá de ser penalizado no valor da bolsa? O que sucede se o formando ficar doente com justificativo médico? Será que ainda vai ser mais penalizado?
Não deve ocorrer a perda de remuneração aquando da falta por motivos de saúde no caso do desempregado ser reconduzido pelo IEFP a realizar uma acção de formação profissional, por motivos de equidade entre os desempregados e os formandos.
Será que não se viola o art.º 64 da Constituição da República Portuguesa, fazendo com que os formandos, para não serem penalizados no valor da bolsa deixam de ter direito à saúde? Não parece fazer sentido.

Melhorar a utilização da base de dados do IEFP para apoio ao desempregado


É necessário haver uma revisão dos procedimentos para se alcançar uma coordenação efectiva das informações solicitadas, de forma a não ocorrerem erros nas comunicações fornecidas que possam prejudicar o desempregado.
Considera-se assim que o acompanhamento prestado pelo IEFP ao desempregado está aquém do desejado. Não existe uma avaliação assertiva relativamente à formação e competências do desempregado e, por conseguinte, o acompanhamento que é feito não é o mais correcto nem eficaz no sentido da sua recondução para formações/ofertas de emprego de acordo com a sua área de formação de base e/ou experiência profissional.
Desta forma não é feito por parte do IEFP um aproveitamento válido em termos de recursos humanos, tornando possível o desajustamento do encaminhamento dos desempregados. Esta actuação conduz a um estado de desmotivação e descrença do mesmo, quando o objectivo do IEFP é precisamente o inverso.

Formação actualizada a conceder aos funcionários do IEFP


Sugere-se a aposta na formação aos funcionários do IEFP, de modo a evitar lacunas e, a informação a prestar ser a mais adequada aos interesses dos desempregados, por forma a este não ser ainda mais penalizado.
Ao sermos confrontados com informações erradas e contrárias por parte dos funcionários dos Centros de Emprego, deparamo-nos com o problema de os desempregados não disporem de respostas eficazes no sentido de evitar possíveis penalizações, acentuando-se a fragilidade da situação em que se encontram.

Esclarecimento dos montantes a atribuir no caso da frequência de formação profissional

Com base nos artigos números 4º, 14º, 40º, 41º, 42º, 52º e 80º do referido Decreto-Lei, a suspensão total ou parcial das prestações de desemprego com atribuição de compensação remuneratória na frequência de formação profissional conduz a que o desempregado aufira, enquanto titular do direito às prestações de desemprego, apenas o montante resultante da diferença entre o montante da prestação a que tinha direito e o montante da compensação remuneratória (quando a primeira é superior à segunda).
O valor global da prestação não aumenta cumulativamente, excluindo-se para este efeito os subsídios de almoço e de transporte.
Este facto deve ser assim explicitado com clareza, de modo a evitar desentendimentos quanto ao montante dos valores a receber.
Considera-se ainda relevante a sugestão do estabelecimento de uma data fixa para recebimento dos valores monetários para permitir ao desempregado uma gestão financeira adequada.

Incompatibilidade dos horários da formação com a procura de trabalho

Na frequência de formação profissional, regista-se a natureza intensiva ao nível do horário, impedindo a procura paralela de trabalho, acção necessária ao formando no sentido de evitar a futura situação de desempregado.
Isto sucede seja na procura de trabalho por conta de outrém, seja quando se pretende a prossecução de um projecto pessoal. Sugere-se, assim, acções de formação profissional menos intensivas em termos de carga horária.

Clarificação do estatuto do formando

Pretende-se a clarificação do estatuto do formando, nomeadamente na concessão das regalias e direitos anteriormente adquiridas na qualidade de desempregado.
Assim, sempre que o IEFP reconduzir o desempregado a frequentar uma acção de formação profissional, ao adquirir o estatuto de formando, este não deve perder as regalias e direitos que anteriormente usufruía. Isto ocorre nomeadamente com a impossibilidade de justificação de faltas por motivo de doença que corresponde a uma perda dos direitos na qualidade de formando, como foi já referido anteriormente.
Considera-se pelo contrário, e desejável a atribuição aos desempregados e formandos de um conjunto de direitos e regalias que lhes aumente a capacidade de ultrapassar as dificuldades em que se encontram para reinserção no mercado de trabalho, nomeadamente através da concessão de um regime de transportes subsidiado.

Extensão do programa das novas tecnologias aos desempregados e formandos

Portugal sofre de uma carência acentuada na qualificação dos seus trabalhadores e, nessa medida, considera-se fundamental para o desenvolvimento do País o maior contacto com as Novas Tecnologias, as quais constituem um meio poderoso para adquirir conhecimentos por forma a obter uma maior visão abrangente do mundo em que vivemos.
Sendo o conhecimento, a inovação, a tecnologia e o crescimento premissas subjacentes ao Plano Tecnológico do Governo, o qual contempla um conjunto de iniciativas como o e-oportunidades, e-escola, e e-professores, consideramos ser uma mais valia para o País que este Plano fosse alargado aos desempregados, ao abrigo do qual se proporcionaria a possibilidade de aquisição de computadores com ligação à internet a preços reduzidos.
Desta forma, o Governo estaria a contribuir para melhorar o conhecimento, aumentar a competitividade e a desenvolver as novas competências aos desempregados, proporcionando-lhes uma maior capacidade de reintegração no mundo do trabalho.

ESTE TEXTO É, GROSSO MODO, AQUELE QUE O GRUPO DE FORMANDOS DO IEFP EM QUE ME INSIRO REDIGIU PARA ENVIAR AO PROVEDOR DO DESMEPREGADO, APÓS REVISÃO E ASSINATURA PELOS PARTICIPANTES.

21 outubro 2007

Um ano e meio.
Completa-se hoje um ano e meio desde que partiste, pai.
O mundo segue o seu curso, mas coxo por não te ter.
E eu sinto-me cada dia um bocadinho mais órfã.

20 outubro 2007

Encontrei o fio da meada. Agora não me apetece largá-lo. O pior é que o sono não pode ser adiado uma noite e outra e outra. E outra. E outra...

12 outubro 2007

Parabéns, D!



A D chegou junto de mim duma forma inédita.
Conhecemo-nos antes mesmo de nos conhecermos. Fomos aproximadas por alguém que partira mais de quatro décadas antes, sendo também a nossa diferença de idades superior a quatro décadas.
Ao começar este post disse "chegou junto de mim" porque, de facto, a D desbravou terreno até conseguir comunicar comigo.
O primeiro contacto foi intermediado por uma portadora duns papeis e dum cd. Elementos referentes àquele elo comum, desparecido muitos anos antes. Obtive, depois, o email da D, através do qual lhe agradeci os dados que me enviara. A "conversa" foi surgindo naturalmente; email após email, fui admirando a personalidade dinâmica desta mulher. Arrojada, inconformista, revelou-se um espírito aberto, mais familiarizado com as novas tecnologias que muita gente com menos de metade da sua idade.
Um dia apresentou-me o seu blog. Conhecedora do meu gosto pela escrita, incentivou-me para que eu também criasse o meu blog. Perspicaz, esta D! Foi um dos melhores conselhos que alguma vez me deram.
Surpresa puxa palavra, palavra puxa amizade e pouco passou até que eu lhe telefonei. A sua voz revelou-se surpreendida e jovial. O diálogo saltitou de assunto em asunto, cada tema uma pedrinha das que atravessavam o lago onde as palavras fluiam.
Impelida pela vontade de conhecê-la, rumei a sua casa num improvisado passeio domingueiro, fazendo-me acompanhar dos meus filhos e da minha mãe, desejosa de revê-la.
Percebi a facilidade com que a D terá suscitado aquela paixão que testemunhei, de certa forma, à distância. Uma história apaixonante de duas pessoas que se identificam uma com a outra antes de se conhecerem, numa década de 50, distante ainda de telefones e internet.
Um espírito positivo, triunfante sobre os muitos desgostos trazidos pela vida, aliado a uma facilidade de comunicação cativante, fizeram desta senhora a minha amiga mais distante no BI e das mais próximas na cumplicidade.
A nossa história é feita de coincidências e, também de procura. De força e de admiração.
No dia em que a D completa um aniversário capicua, eu deixo-lhe aqui um agradecimento muito sentido e reitero os parabéns. Pelo dia de hoje e por tudo.

09 outubro 2007

Paralelismos

1992, Manila.
Durão Barroso afirma que o comportamento da Indonésia em Timor-Leste (invasão, violação dos direitos humanos) impede a assinatura dos Acordos Comerciais CE-ASEAN. Presidência da Comunidade exercida pela Grã-Bretanha.


2007, Lisboa.
Gordon Brown diz que nenhum ministro britânico comparecerá na Cimeira UE-África se Mugabe estiver presente, devido às violações dos direitos humanos no Zimbabué.
Presidência da Comunidade exercida por Portugal.

Paralelismos? Divergências?

07 outubro 2007

Verão


Há pouco, a Blue Velvet comentou comigo que gostou duma definição do Verão que eu deixara no seu blog: "os sentidos em alerta laranja".
E eu gostei que ela tivesse gostado e, sobretudo, que mo tivesse referido.
Deixo-vos, agora, o desafio de definirem o Verão, de que já sinto saudades.
Quem o aceita?

Provedor do Desempregado

Foi criada uma nova instituição para lidar com as inúmeras reclamações relativas à política do desemprego: o Provedor do Desempregado.
Esta política tem tamanhas injustiças e incongruências que eu bem pensava escrever aqui no blog um rol delas, mas nem sabia quando teria tempo para o fazer. E receava esquecer-me de alguma, pois são demasiadas.
Não sei com que eficiência poderemos contar, por parte desta figura. O certo é que eu e mais dezoito colegas metidos à força num curso de Gestão de Instituições Sociais (sob pena de nos retirarem o subsídio de desemprego), dos 24 aos 61 anos e com os mais diversos currículos académicos e profissionais, vamos meter mãos à obra e escrever-lhe uma carta.
Porque tivemos a sorte de conseguirmos criar um grupo coeso e um ambiente agradável, trabalharemos em conjunto na sistematização de uma lista de pontos que devem ser corrigidos ou abolidos, em nome do respeito pelas liberdades dos cidadãos.
Quando esta estiver concluida, publicá-la-ei, então com a certeza de estar completa.
Para alertar mais consciências, porque esta questão pode, de um momento para o outro, afectar muitos mais do que os que já estão desempregados.

02 outubro 2007

Porto


Ando a balançar-me entre duas hipóteses.
Porto, este fim-de-semana: será que vou? Será que não?
Entre les deux, mon coeur balance. Mas é provável que ainda não seja desta. Infelizmente...

01 outubro 2007

Música


Hoje, Dia Mundial da Música, a minha filha faz 16 meses.
Amanhã, ela terá a sua primeira "aula" de música na escola. Fabuloso! Nós, tínhamos de esperar pelo 7º ano. E aposto que as aulas agora serão mais apelativas.
Para ela, estou certa que será uma festa. Já há uma semana, enquanto assistia a um teatro de fantoches, de meio em meio minuto flectia as pernocas enquanto exclamava "eeeh" e batia palminhas. Qualquer acorde musical é sinónimo de bracinhos no ar e rodopio sobre si própria.
Quem me dera assistir!


Desta vez tive sorte. Um plano correu bem.
Pude realizar algo que planeava há muito, mas era obrigada a adiar sistematicamente.
Fui ao lar onde o meu pai passou os seus últimos anos.
Faltavam já diversas pessoas que o acompanharam no dia-a-dia desses tempos. Mas ainda pude falar com outras. E abraçar a D. Mariana, a quem eu costumava emprestar livros. Pude conversar com ela, que ficou muito contente de me rever e aos meus filhos. Constatei que está bem. Que alegria!

28 setembro 2007

Tarefas do Estado

Como alguns de vocês sabem, estou novamente numa de estudante. Trocado por miúdoas, sou uma formanda. À força, tal como 19 colegas que, como eu, são canalizados para cursos ministrados pelo IEFP para mascarar a situação real do desemprego neste país.Acerca das incongruências destas formações, espero ter paciência para lhes contar, um dia destes, uma série de factos que deixam qualquer cidadão estupefacto. Hoje, porém, deixo um desafio aos que me lêem, um desafio semelhante a uns a que nos temos dedicado com algum entusiasmo e bastante revolta.

Assim, deixo aqui alguns (note-se bem: eu escolhi alguns, mas entendo que todos eles são susceptíveis de serem questionados) dos artigos fundamentais da Constituição da República Portuguesa, apelando a que se detenham sobre as tarefas do Estado. O exercício é simples, e eu já sei uma grande quantidade de respostas possíveis. É atentarem no que a lei fundamental estipula e reflectirem até que ponto o Estado não só não garante muito daquilo que deveria assegura, como também é, frequentemente, o primeiro a ir contra os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Alguém quer responder ao desafio?

Constituição da República Portuguesa

Princípios fundamentais

Artigo 9.º(Tarefas fundamentais do Estado)

São tarefas fundamentais do Estado:
a) Garantir a independência nacional e criar as condições políticas, económicas, sociais e culturais que a promovam;
b) Garantir os direitos e liberdades fundamentais e o respeito pelos princípios do Estado de direito democrático;
c) Defender a democracia política, assegurar e incentivar a participação democrática dos cidadãos na resolução dos problemas nacionais;
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais;
e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correcto ordenamento do território;
f) Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa;
g) Promover o desenvolvimento harmonioso de todo o território nacional, tendo em conta, designadamente, o carácter ultraperiférico dos arquipélagos dos Açores e da Madeira;
h) Promover a igualdade entre homens e mulheres.

PARTE I

Direitos e deveres fundamentais

TÍTULO I

Princípios gerais

Artigo 12.º(Princípio da universalidade)
1. Todos os cidadãos gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição. 2. As pessoas colectivas gozam dos direitos e estão sujeitas aos deveres compatíveis com a sua natureza.

Artigo 13.º(Princípio da igualdade)
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

TÍTULO II


Direitos, liberdades e garantias


CAPÍTULO I


Direitos, liberdades e garantias pessoais


Artigo 24.º(Direito à vida)
1. A vida humana é inviolável.
2. Em caso algum haverá pena de morte.

Artigo 25.º(Direito à integridade pessoal)
1. A integridade moral e física das pessoas é inviolável.
2. Ninguém pode ser submetido a tortura, nem a tratos ou penas cruéis, degradantes ou desumanos.

Artigo 26.º(Outros direitos pessoais)
1. A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da personalidade, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra, à reserva da intimidade da vida privada e familiar e à protecção legal contra quaisquer formas de discriminação.
2. A lei estabelecerá garantias efectivas contra a obtenção e utilização abusivas, ou contrárias à dignidade humana, de informações relativas às pessoas e famílias.
3. A lei garantirá a dignidade pessoal e a identidade genética do ser humano, nomeadamente na criação, desenvolvimento e utilização das tecnologias e na experimentação científica.
4. A privação da cidadania e as restrições à capacidade civil só podem efectuar-se nos casos e termos previstos na lei, não podendo ter como fundamento motivos políticos.

Artigo 27.º(Direito à liberdade e à segurança)

1. Todos têm direito à liberdade e à segurança.
2. Ninguém pode ser total ou parcialmente privado da liberdade, a não ser em consequência de sentença judicial condenatória pela prática de acto punido por lei com pena de prisão ou de aplicação judicial de medida de segurança.
3. Exceptua-se deste princípio a privação da liberdade, pelo tempo e nas condições que a lei determinar, nos casos seguintes: (...)

26 setembro 2007

Que bem que se está na blogosfera...!

É mais forte que eu. Devia estar a dormir, mas venho ao meu cantinho ouvir esta melodia que uma amiga descobriu e partilhou, ler os comentários que tão bem me fazem...
Vivemos livres numa prisão e este espaço, que é o nosso ponto de encontro, preenche a minha necessidade de evasão.
É feito do que quero partilhar convosco, de "tiradas" do meu filho, de desabafos quanto à minha situação de desempregada (ver posts de Maio) ou a outras, é até feito do que tem de se omitir, o que se deixa velado por não se conseguir retratar. E, cada vez mais, fornece-me a necessidade calórica diária de bons textos, literatura e poemas fabulosíssimos que encontro nos posts que visito.
O ritmo a que me deparo com tantos corações enormes, com tanta inspiração, com tamanha capacidade de união, partilha e afecto daqueles que vamos descobrindo através da escrita é tal que se torna como que um vício.
É extraordinário vir, no final do dia, recolher os comentários, receber os abraços e os beijos e espalhar os louvores que todos os meus amigos, virtuais ou não, merecem.
Todas as expressões carinhosas ou de elogio me aquecem interiormente, acompanham-me num arrepio agradável e duradouro e fazem com que eu própria passe esse ânimo para os meus filhos e para aqueles que estão junto a mim, de uma forma ou de outra.
Identifico-me com este ou aquela, não deixo de ler outros, admiro alguns. A troca de ideias passsa, em um ou outro caso, do blog ao email e fica profundamente gravada neste coração sequioso de oásis.
OBRIGADA por todos os momentos, por cada palavra...
- "Hoje já tomei banho?", pergunta-me ele no regresso a casa, num anoitecer de fim-de-semana.
- "Tomáste, de manhã, não te lembras? Até a tua mana andava por ali a deitar coisas para dentro da banheira".
- "Quer dizer que já não tenho de tomar quando chegar a casa?"
- "Já não tens que tomar, não".
- "Obrigado!..."

21 setembro 2007

Dia Mundial da Pessoa com Doença de Alzheimer

Hoje, volto a falar-lhes da Doença de Alzheimer. Não na perspectiva de médica ou técnica de saúde, nem de investigadora ou jornalista.
Falo-lhes, como habitualmente, do que vivi, como filha de um doente.

No princípio, era a negação. A minha mãe estranhava os comportamentos, criticava-o por não ir ao médico, já que ouvia tão mal... Quando a resposta se tornou inequívoca de que não se tratava de falta de audição, chamei-a à realidade; ele não podia estar a protelar. Porque respondia "mas nós temos máquina?" quando o informava que a louça que procurava ainda devia estar por retirar da máquina. Ou quando lhe dizia "vê ali pela janela da marquise" e ele ripostava "onde é a marquise?".

Não se pense, como há tendência, que é uma questão de falta de memória progressiva. É muito, muito mais que isso.
Por acaso, eu sabia o que a doença operava numa pessoa. E dava-se a coincidência de ter acabado de me estrear na indústria farmacêutica. O médico que nos dava formação pressentia, tal como eu receava, tratar-se de uma situação de demência.
A vida já fora dura comigo, no que tocava a situações de doença. Mas aproximava-se a confirmação da que eu mais temia.

Quem não conhecesse o meu pai não notaria nada. Só nós, conscientes de que ele já não completava as palavras cruzadas (que habitualmente só punha de lado após resolver até as que requeriam o próprio preenchimento das quadrículas pretas) nem lia o jornal, nos apercebemos.
Nesta primeira fase, o empobrecimento do léxico era também um sinal. E, novamente, apenas para nós. Para os outros, que passavam menos tempo com ele, não era visível. Os cachimbos permaneciam intocados. Aos cigarros, ainda proporcionava passeios, em que não sabia o uso que haveria de dar-lhes.

Tendo dedicado a sua vida aos transportes marítimos, era conhecedor de todos os nomes de portos do mundo. Enquanto eu trabalhava e finalizava a licenciatura em Relações Internacionais, cheguei a dedicar-me ao estudo das matérias teóricas, contando com o resumo diário que o meu inspirador para a vida me fazia acerca do que andamento do planeta.

Um ano depois, apenas 59 anos da sua vida percorridos, desaba sobre nós o rótulo que nos recusávamos a pronunciar: Alzheimer.
Não lho comunicámos, pois de nada valia. Julgo que, nos momentos de lucidez que então ainda tinha, terá desconfiado. Chegou a ter conversas acerca de como a morte, se viesse entretanto, o não perturbaria, porque, dizia, já vivera bastante.

Eu tinha-o levado ao médico. Ele, muito contrariado e receoso (lembrava-se da situação de um vizinho e temia que lhe fizessem "um buraco na cabeça"), apenas anuiu porque o convenci que ia apenas para não me deixar mal vista, já que se tratava de uma consulta difícil de obter. Disse-lhe que queríamos ver como estava o ouvido dele.

Para nós, foi a teatralização das emoções. Dar um tom de normalidade quando tudo ruía.
Era aterrorizador imaginar o futuro. Alzheimer é, desde logo, a depressão de uma família. A dedicação total, que nos envelhece precocemente. É a quase ruptura económica. O luto antes da morte. Um luto que se nos cola à alma para nunca mais a largar.
Para o doente, é a cessação da vida enquanto ainda existe. O doente era o meu pai.

Tudo arrasado: os planos de viajar, ler a restante biblioteca que não pudera enquanto trabalhara (no sector marítimo, a recessão levara-o, como a muitos outros colegas, a pré-reformas um tanto ou quanto forçadas). O livro, cujo título idealizara muitos anos antes.

A partir daí, lamentei cada minuto que passava sem a sua companhia.
E temi o que estaria para vir: o dia em que ele perderia a noção do certo e do errado, do seguro e do perigoso. O dia em que deixaria de controlar os esfíncteres. O dia em que não saberia mais orientar-se na rua, ou mesmo em casa. O dia em que não reconheceria mais a mulher. Ou a filha. O momento em que o equilíbrio lhe faltaria, o momento em que as pernas deixariam de suportar o seu peso. O tempo em que andaria de internamento em internamento, alternando entre infecções respiratórias e infecções urinárias. Ou simplesmente para ser hidratado e nutrido. Porque a doença compromete, também, a capacidade de deglutir. Como todas as restantes.

E todos esses dias e todos esses momentos vieram.
E todas essas etapas nos faziam sentir mais roubadas, mais mergulhadas numa do interminável...
Quantas vezes era ele o doente com aspecto mais frágil de toda uma enfermaria de Neurologia!

Mas vencemos muitas fases, atrasando-as. Levando-o a passear, tentando fazê-lo rir, alimentando-o de acordo com as necessidades e o seu gosto, hidratando-lhe a pele e fazendo-o exercitar músculos e articulações enquanto estava acamado. Chegámos a tirá-lo da situação de acamado, fazendo com que voltasse a andar, e por muito mais tempo.
A minha mãe, lutadora, dava frequentemente o seu testemunho na tv, em dias como este, ou em peditórios.

As hospitalizações eram um retrocesso: não há pessoal hospitalar para se ocupar destes doentes. De modo que são limitados ao uso de fralda, quando, como o meu pai, ainda conseguíamos levá-lo à casa de banho. Regressava com escaras, unhas de quilómetros se não as cortássemos nas visitas. E pouco comeria se não fizéssemos por isso, estando presentes à hora das refeições.

O dia-a-dia, em casa durante a maioria dos anos de evolução da saga, era feito de desorientação, visões, agressividade, sapatos guardados em gavetas, dedos enfiados em tomadas ou mergulhados em tachos ao lume. Felizmente, acções logo contrariadas por alguém que se apercebia.
Porque ninguém consegue olhar por uma pessoa assim 24 horas por dia, teve de se recorrer a ajuda exterior. A peso de ouro, evidentemente.

A família e os amigos escassearam. Aqueles que iam lá a casa frequentemente almoçar, passaram a descartar-se com a desculpa de que não suportavam vê-lo assim. Sem pensarem se eu, e sobretudo a minha mãe, que vivia ali sozinha com ele, suportávamos este percurso sem apoio. À excepção da cunhada, minha tia, o meu pai recebeu, nos seus últimos três anos de vida, passados num lar, quatro pessoas que o visitaram pontualmente. Nós, íamos vê-lo diariamente, por vezes combinando uma alternância entre a minha ida e a da minha mãe.

De ambas, ele recebeu todo o suporte e o amor. Médicos elogiaram a forma como conseguimos, em diversas fases, ludibriar a doença.

Não há cura para a dor que nos acompanhará para sempre.
Vi-o definhar, perder a capacidade de reconhecer e de comunicar. Pareceu entender quando, pela segunda vez, lhe disse que estava grávida do meu filho, muitos dias após a primeira tentativa de lho comunicar, que fora uma tentativa gorada.
Ainda dedicou uns carinhos ao neto.
Falhou a contemporaneidade com a neta, nascida poucas semanas após a sua morte. De qualquer forma, não teriam dado pela existência um do outro, cada um na sua ignorância.

Faz hoje 17 meses, uma pneumonia soprou sobre a pluma em que se tornara o meu pai e levou-o para a esfera da eternidade. Ou o que restava dele...

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