29 janeiro 2013

A cadeira



No estúdio,  soçobra  uma melodia.
Os espelhos retribuem a pele suada.
A bailarina, só, na sala vazia
Limpa o suor à toalha lavada.

Após o plié e os passos de dança
Firma a barra, fita o espelho.
Desenha um cambré, fica, descansa
Na réstia de acordes dum ritmo velho.

Abraça com as pernas uma cadeira
Despida de cor, calada, triste,
E recorda, da manhã, a brincadeira
Que a despertou para o sexo em riste.

Quebra-se o remanso
No abrir da porta,
Vai-se o descanso
Fica a sala torta.
 
Quando o amante,
Veloz e selvagem,
Entra de rompante
Buscando a miragem
 
Das coxas de seda
Rodeando a cadeira
Numa labareda
Envolvendo-a, inteira.

Estende-lhe a mão,
Puxa-a para si
E já a outra mão
Lança o frenesi.
 
Ateado o fogo,
Procuram-se as bocas.
Começa o jogo
Das línguas loucas.
 
O membro ereto
Voraz, sedento,
Num ângulo reto,
Lambe-a por dentro.

Um pas-de-deux nunca ensaiado
Esboça-se na luxúria dos sentidos,
Faz da cadeira leito improvisado
Ao som de beijos, gritos e gemidos.

Reflete-se no espelho o desejo urgente,
Ergue-se o punhal para o festim guloso
Dança, sobe, desce, num prazer crescente
Que leva ao orgasmo doce e langoroso

Termina empatada a luta de titãs
Caem saciados os beligerantes
Jaz encolhida a espada que,  pelas manhãs,
Saúda o dia com ímpetos escaldantes.

22 janeiro 2013

Volúpia

 

É o convite que te lanço, muda súplica
E a voz que me responde, excitante.
É a urgência de um querer inebriante,
A intenção duma brincadeira lúbrica.

São as tuas mãos que, lentas, me percorrem,
Sou eu, exposta ao sabor do teu desejo,
É o meu sangue que pulsa quando vejo
A espada que as tuas vestes não escondem.

São os beijos nos mamilos a causar
A nascente que se forma no meu centro.
São os teus dedos moldando por dentro
A rosa que se abre para te saudar.

É a língua com que me provas, buscando
A polpa do meu fruto permitido.
São as coxas que libertas do vestido
E a volúpia com que segues explorando.

É o teu sexo roçando a minha pele,
O erotismo com que me brindas a boca.
A pujança forte e doce que me toca
Quando na minha taça derramas o teu mel.

É o grito de guerra que deflagra
Num assalto à roupa desarmada.
É o instante da minha ânsia penetrada
É a onda de prazer que se propaga.

É o fogo promissor de um orgasmo
A sede com que sorvo a tua seiva
O calor da labareda quente e meiga
O teu archote comungando o meu espasmo.

20 janeiro 2013

Abrigo



O tempo pára quando contigo me deito. Faço-me tua, saboreando-te me deleito. Sigo-te os gestos. Os murmúrios. Os beijos. O ritmo que me inflama. Na soleira da nossa cama.
O tempo que pára para nós, nas vontades cegas de tanto amar. Nos corpos desejosos de se abrigar. Na urgência de fugir e de partilhar. Abrigo livre onde vens desaguar. 

13 janeiro 2013

Nostalgia



Quando me procurares,
Guia-te pela estrela da fantasia,
Sem Norte, seguindo todos os luares
Onde nos encontrámos, um dia.

Se me procurares,
Segue o trilho de dor que me guia,
Sem réstia daqueles mares
Revoltos da nossa orgia.

Se me encontrares,
Será somente numa via:
De múltiplos sentires e pesares
Que hoje eu chamo “nostalgia”.

10 janeiro 2013

Acidente


A chuva pingava o dia num compasso lento, nesse Outono de 1947.
As ruas do Porto apresentavam-se quase desertas, à excepção dos grupos de meninos que diariamente enchiam os bairros numa brincadeira que se estendia até à janta.
Vestiam calções puídos e camisolas desbotadas. Uns calçados, outros descalços, brincavam às apanhadas, faziam estafetas, competições de berlinde. Corriam atrás de bolas, feitas à mão com velhas meias de senhora.
Os dias escoavam-se sem história, em jogos que se repetiam, amizades infantis no bairro das Antas. Tanto lhes dava para roubar fruta nas árvores próximas - para satisfazer os défices dos estômagos revoltos - como para desatarem a correr como se as forças nunca lhes fossem faltar e o mundo estivesse para acabar.
Podia ter acabado para Rui naquela tarde.
O carro surgiu, galgando terreno desalmadamente numa velocidade excessiva para a Av. Fernão de Magalhães. Só deram por ele quando os travões produziram aquela chiadeira assustadora de quem se depara com o perigo demasiado tarde.
Bonc! Um estrondo de colisão, um miúdo que voa, projectado pelo impacto do acidente.
Os amigos afluíram num ápice para ver como Rui se encontrava. A queda fora aparatosa, o embate bastante forte. Ele, só se apercebeu do sucedido uns momentos depois. Fora tudo demasiado rápido, sobretudo inesperado. O mundo de pernas para o ar, a respiração suspensa, a compreensão toldada.
As dores só viriam mais tarde. Muito depois de se ter levantado, amparado pelos outros miúdos. Muito depois de ter recusado a oferta que o condutor lhe fizera, levá-lo ao hospital. No seu susto, a ingenuidade falou mais alto e ditou-lhe que não aceitasse. Temia pela descompostura que a mãe lhe infligiria se suspeitasse do sucedido. Que, naquele tempo, o receio da ira materna era o maior dos males para quem só esperava um dia após o outro, numa eterna brincadeira de rua despreocupada, apenas ensombrada por um ou outro momento de fome…

(este conto baseia-se numa história que o meu pai me contou, que ele próprio protagonizou em criança)

07 janeiro 2013

Problema sanado

Era, de facto, devido ao navegador. Com o Chrome já consegui.
E eu que pensava que eles tinham limitado a sua ação a uns séculos atrás... :-)
Obrigada, querida Alex!

05 janeiro 2013

Pedido de ajuda

Socorro!
Não me aparece a janela de diálogo para carregar fotos do pc. Só me possibilita de URL, webcam, Picasa, telemóvel...
Não consigo fazê-lo aqui nem no Duas Lentes... :-(
O que será que se passa?

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin