25 abril 2022

25 de Abril sempre


 Agora que já floriu
A esperança na nossa terra
As portas que Abril abriu
Nunca mais ninguém as cerra (...)

(José Carlos Ary dos Santos)

22 abril 2022

O prospector

 


A 22 de Abril de 1920 nascia o meu tio Alberto. O primeiro de oito filhos de um casal que acabou por ficar apenas com este filho e três filhas, tendo perdido os restantes logo nos primeiros meses de vida.
O meu tio nasceu em Lisboa, mas foi vivendo aqui e ali, consoante o trabalho do meu avô, para a Junta Autónoma de Estradas, exigia. Moraram em Coimbra, no Porto, em Mértola e por fim em Silves, onde concluiu a instrução secundária. 
Tal como o pai, também Alberto se empregou na JAE.
Casou com Maria Isabel Tenente aos 24 anos, em Ponte de Sor, onde o casal ficou a residir. Por pouco tempo.
Os dias eram rotineiros, o trabalho pouco exigente e a sua ânsia de fazer mais e de ser melhor fizeram-no aspirar a outros desafios. Candidatou-se à Diamang e, em Fevereiro de 1948 embarcou no Quanza, rumo a Angola.
Pelas centenas de cartas que o seu pai guardou, senti que o conheci quase melhor que as irmãs, mais novas uns anos valentes. Soube como a estranheza inicial deu lugar a um entusiasmo crescente. Rapidamente o trabalho na Contabilidade era História e o meu tio passara a ser “homem do mato”, começando a trabalhar na prospecção.
Vivia em casas de pau a pique, algumas com diversos quartos e com frigorífico, em pleno mato, em 1951.
Liderava o trabalho de equipas de nativos, caçava (sobretudo para alimentar os seus homens) e fazia o levantamento de zonas vastíssimas, onde por vezes nenhum branco havia sido visto.
No Dundo aprendeu a guiar, embora o seu dia-a-dia consistisse em caminhar dezenas de quilómetros e prospectar. Adquiriu noções de primeiros socorros, tratou e foi tratado. Injecções de quinino e todo o material de assistência básica acompanhavam aqueles homens por todos os pontos onde assentavam por uns tempos.
O casamento não deu certo e Alberto acabou por se sentir ali tão bem quanto os leões ou os macacos. Convivia por vezes com outros prospectores e com os elementos da equipa de Geologia e só esporadicamente com outros empregados e suas famílias, nos “lupangos” mais próximos de onde se encontrava.
Descobriu o maior kimberlito da história até então, o que ficou documentado em publicações internacionais da especialidade. Mas também se apercebeu de alguns desvios, o que talvez tenha estado na origem dos ocasionais desaparafusamentos de porcas dos pneus do Land Rover que conduzia.
Passou a viver com um mini zoo, onde havia sempre espaço para mais algum animal, enquanto algum acabava por morrer. Se, na metrópole, já gostava de filatelia, no Dundo apaixonou-se pela fotografia e vídeo. Encomendava câmaras, rolos e filmes do estrangeiro.
Colaborando frequentemente com o laboratório de Biologia da companhia, acabou por se dedicar também ao embalsamamento. Encomendava câmaras, rolos e filmes do estrangeiro.
Nas férias, vinha ao “Puto”, rever a família e fazer tratamentos na termas, indo também a Espanha e Marrocos.Morreu subitamente, sem descendência conhecida, naquele que planeava ser o último contrato, quando o Land Rover onde seguia entre Xá-Mutemba e Iogo capotou, poucos dias após completar 44 anos.
Deixou desolado o pai, já viúvo, e as irmãs, todos órfãos de um corpo a quem fazer as exéquias.
Foi o meu tio quase mítico. E hoje, quis lembrá-lo, mesmo sem ter chegado a conhecê-lo pessoalmente.

17 abril 2022

Parabéns, Pai!


Hoje seria dia de festa: o aniversário do meu pai e o de casamento dos meus pais.
Se ainda estivesse nesta dimensão, o meu pai completaria hoje 85 anos.
Não está, mas estão os dois filhos, os dez netos, dezoito bisnetos e três trinetos; fica bem representado, em número de descendentes.
Foi um Homem com H maiúsculo, um exemplo de sageza.
Íntegro como poucos ousam ser (perdeu a oportunidade duma vida por não esconder a sua ideologia política), não teve quem lhe amaciasse o caminho. Cedo teve de deixar a escola e começar a trabalhar, consertando guarda-chuvas.
Colmatou a falta de estudos com um forte temperamento auto-didacta. Leu muito, aprendeu sobre diversas áreas e ainda não era adulto quando começou a escrever críticas para os jornais. Nunca parou de ter um papel activo na sociedade e foi isso que me transmitiu.
Ensinou-me aos doze anos a bater-me por justiça. Sozinha. E foi com os meus meios que passei a enfrentar tudo.
Incentivou-me a ser a melhor (não posso dizer que o tenha conseguido, mas ficou a lição). A não desistir. A batalhar pelas minhas convicções e a questionar tudo quanto me quisessem fazer crer. Orientou-me. Deu-me conselhos, a maioria dos quais não pedi. Mas segui-os.
Sonhava viver numa biblioteca. O máximo que conseguiu foi reunir tantos livros em casa que a minha mãe receava que o escritório caísse sobre o vizinho. Resolvia todas as palavras cruzadas do jornal. Mesmo as que traziam as quadrículas pretas por preencher.
Deixou-me, com o seu exemplo, o gosto pelo saber, a liberdade, a tolerância, a perseverança.
O meu pai foi o meu primeiro orgulho. Um herói com pés de Barros.
Tanto do que sou provém dele.
A doença de Alzheimer atacou-o precocemente e foi pouco o tempo que tivemos. É sempre pouco, quando se ama.
Mas valeu tanto!
Abraço-te, pai. Nesse plano da utopia, onde agora estás.
E segredo-te “parabéns, pai!” por tudo o que a tua vida significou para mim, pelo exemplo que foste.

(imagem retirada na Net)

09 abril 2022

Dia do Combatente






9 de Abril

Batalha de La Lys

Fotos da cripta e do talhão dos combatentes, no Cemitério do Alto de S. João, em Lisboa

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin