28 março 2011

O mar nos olhos


Onde vais, amiga?- perguntou-me ela

Nem eu sei; zarpo sem carta de marear.

Fecho os olhos, decido partir sem tê-la

Sulcando as ondas, contrárias, deste mar.



Inspiro o ar gelado, cheirando a maresia

Certa que, desta vez, partirei sozinha

Para chegar não sei onde, nem em que dia

Mas o que importa é a viagem, só minha



Determinação à proa, choro feito coragem

Preparo-me para enfrentar mais uma tormenta

Munida, apenas, da força que me sustenta



E assim vou, guiada pela minha estrela,

Ao som das marés, rumando nas vagas,

Em busca de promessas que nunca são pagas.

27 março 2011

Já não me movo por palavras.
Tinhas razão. As palavras têm o sentido que lhes quisermos dar.
Cansei-me das encruzilhadas aonde elas me conduziam. Entroncamentos onde, por vezes, me parecia vislumbrar a sombra de outro alguém, à procura do mesmo trilho.
É tempo de um percurso novo, num sentido totalmente diferente, movido a gestos.
Arrojado. Destemido. Vertical.
Pode não ir dar ao local pretendido, mas será, certamente, uma nova experiência.
Quero um horizonte mais alargado, um matraquear de lembranças cúmplices, feitas de instantes sorridentes, que não se arrumem nunca, sempre prontas para novos improvisos.

23 março 2011


Na noite sou Lua se tu fores estrela
No teu céu encontro o meu paraíso
E o dia começa da forma mais bela
Sempre que o estreio com o teu sorriso.

(foto oferecida por um amigo)

15 março 2011

Saíam-te dos dedos palavras, sorrisos sentidos

Trazidos pela luz, ao som do relento

Adivinhava-te segredos tão bem escondidos

Enquanto a chuva caía, batida a vento

E banias a noite escura, ao raiar do dia

Nesse olhar doce, de trovador vaidoso

Deitado no silêncio, que tão bem conhecia

Náufrago na corrente desse rio perigoso.

Esperando manhãs claras, nesse ir e vir,

Eras corrente calma, após a tormenta

E brindavas o dia assim, a sorrir,

Como quem na palete de pintor se inventa.

11 março 2011

Para recordar...

... que tudo termina.
Até a vida. Por vezes, abruptamente…
Noutras, mesmo por vontade própria.

Para lembrar. Que o Sol vai continuar lá.
Haverá sempre luz.
Mesmo que não a vejamos em determinados momentos.
Se todos nascemos e todos teremos de morrer, porque não aproveitar o entretanto?
Porque viver é preciso. Não desistir, essencial.
Esta canção* vicia-me, ouço-a uma e outra vez.
Arrepiante.
Para recordar que vale a pena arriscar. Tomar uma atitude. Encetar conversa com um desconhecido, mudar de emprego, terminar um projecto, iniciar um trabalho voluntário, dedicar um sorriso a quem nos dá atenção.
Vencer as barreiras que nos impomos.
VIVER...

* Jueves, dos Oreja de Van Gogh

08 março 2011

Tentei, re-tentei e voltei a tentar. Não me saiu um post especial.
Não há género especial, como os dias não são especiais porque sim, apenas por decreto.
Neste momento, sinto-me incapaz. Por muito que escreva ou sintetize, não conseguirei nunca descrever o que é ser mulher.
As dores, sejam elas de parto ou de amores.
A dedicação, que nos leva tantas vezes a protelar os nossos sonhos, a deixar marinar os projectos, a esquecer o embate dilacerante das tragédias pessoais para que não se tornem um desconforto familiar.
A determinação, que insiste em mover cordilheiras, extravasando os limites físicos, aparentemente frágeis.
A força. Infinita. Que faz levantar uma e outra vez, após cada tropeção nas irregularidades do caminho. Mesmo às escuras, mesmo sem uma mão para agarrar…
O amor. Incondicional. Ilimitado. Irracional.
As mãos. As mesmas que descascam cebolas, mudam fraldas, amparam velhos, que percorrem os caminhos do prazer, unhas pintadas de vermelho.
O choro e o riso. A gargalhada e as rugas de expressão.
O vestido que enaltece o ego, os sorrisos que se trocam, as flores que se recebem; ou não…
Tudo tão humano, tão unisexo. No entanto, tão inconfundivelmente feminino…
Calo-me. Porque as mulheres (quase) não choram e eu tenho uma amiga com quem começar este dia a conversar e a rir…

04 março 2011

Soletra-me

Saboreio a paisagem que se estende por diante, convidativa.

O Sol reflecte-se, cá dentro, numa homenagem à vida.

Lua dos meus dias, Norte dos meus passos,

Estrela Polar pela qual me deixo guiar,

Traz-me a força, o abraço, a esperança servida em pedaços.

Ri comigo. Um riso solto, cúmplice, num olhar amigo,

Autêntico, puro, como as cores do entardecer

- como tinha de ser. Como sabemos ser…

Mostra-me de que alentos se constrói uma vitória.

Ensina-me a soletrar-te, também, a nossa história…

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