23 fevereiro 2014

Amo-te


Amo-te desde sempre.
O amor não conhece limites, é intemporal.
Por isso, sei que te amei ainda antes de nascer e amar-te-ei sem que a eternidade seja medida suficiente.
Amo-te por tudo o que és e pelo que de ti desconheço.
Amo-te sem necessitar de ti e sem que precises de mim.
Sem exigências.
Amo-te na liberdade de nos falarmos ou na telepatia do silêncio.
Na quietude da escrita ou no fogacho da paixão.
Amo-te porque não és perfeito, mas és verdadeiro.
Para terminar, e só porque gosto de dizê-lo: amo-te!

12 fevereiro 2014

Uma aventura com nome de perturbação


Cada minuto parecia infinito.
Sentia-me quase a sufocar, à beira do desmaio.
Habituada a resolver tudo sozinha, a solidão desta vez oprimia-me quase tanto como a expectativa.
A consulta começou com uma hora de atraso. A minha ansiedade era velha, tendo-se arrastado penosamente a partir de ontem.
Os resultados actuais foram-me comunicados em linguagem difusa, frisando não constituírem ainda um diagnóstico: perturbação específica da linguagem.
Uma série de considerações que me foram chegando numa cadência ondulante: défice de atenção…  o funcionamento diferente do cérebro da minha filha (“não se trata dum atraso ou falta de inteligência” – isso eu sabia…)… dificuldade crónica na leitura, sobretudo nos textos literários, históricos, filosóficos… um artigo legal que prevê certas prerrogativas na educação de crianças com estas características… a vantagem em conversar com uma assistente social… a eventual necessidade de, um dia, a professora também ser esclarecida sobre estratégias…
Esperei muito tempo por este instante.
Primeiro, deixei-me enredar nas frases bem intencionadas que me diziam que aguardasse pelo “clique” da leitura. Depois, tentei ensiná-la a ler durante as férias, através dum método diferente. Já no segundo ano, foi a frustração revelada pela minha própria filha que me impeliu a procurar, por todos os meios, ajuda.
Precisamos dum diagnóstico, ainda que não gostemos de “rótulos”, para podermos integrar-nos numa situação inesperada.
No entanto, mesmo quando este se conjuga com as nossas suspeitas, será sempre como um corpo estranho, uma peça alheia ao esquema.
Estamos no primeiro passo duma longa caminhada. A aventura começou.

04 fevereiro 2014

Ai, as letras!

Tem sete anos e todos dizem que é linda.
Para mim, sua mãe, ela é perfeita.
A luz que emana do seu olhar faz o Sol sentir-se pequenino.
Contagia todos com as suas gargalhadas.
Deixa rasto das suas tropelias onde quer que passe.
Embalagens vazias de maquilhagem inertes num canto, recortes dos seus desenhos colados nos móveis, folhas espalhadas na mesa comprovam a sua criatividade com tinta, cola, missangas, folhas de revistas…
É incapaz de permanecer sentada e sossegada durante uma refeição. Ah! E está fora de questão não comer directamente com as mãos algumas das porções do jantar. O prazer de comer é muito melhor do que com os talheres!
Corre, pula, dança, canta e não se cansa.
Tanto mergulha numa piscina sem pé como escala uma parede bem alta e, superado o desafio, repete a proeza.
Organiza creches com os seus bebés, imagina coreografias que depois me incita a pôr em prática, quer participar nas actividades domésticas que lhe agradam.
Como qualquer criança, esta miúda é um desafio às capacidades de atenção e dedicação da família.
Há apenas alguns momentos que parecem angustiá-la. Acontecem quando as letras lhe pregam partidas. Ou as sílabas trocam de lugares ou lhe fintam a memória. Mesmo sem fechar os olhos, a Mafalda perde, por vezes, as imagens que elas lhe deviam dar.
Com os algarismos, ainda se entende. Mas as letras parecem ainda mais brincalhonas que ela.
Para ver se compreende as armadilhas que elas lhe preparam, a Mafalda começou uma gincana de consultas. Tem uma equipa do seu lado que a vai ajudar a perceber a estratégia das palavras. Sente que não está sozinha. Em casa, a mãe lê as histórias que, um dia, ela poderá decifrar sem ajuda. Na equipa, há médicos, terapeutas e psicólogos que, depois de concluídos os jogos que vão desvendar como funcionam as letras na sua cabeça, lhe revelarão os truques que ela e a professora não podiam descobrir sem as varinhas mágicas emprestadas apenas a algumas crianças, cheias de vivacidade e imaginação.

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