06 maio 2022

Dia do Azulejo

 
Quinta de Cima, Oeiras
 
 
História do Chapeleiro, no Museu do Azulejo.
Talvez a primeira história do tipo banda desenhada (em azulejo) no país. António Joaquim Carneiro é o exemplo da ascensão social. Chegou a chapeleiro da Casa Real e foi "compadre" do meu 5º avô
 
 
 Mapa de Lisboa, no museu do Azulejo
 
 
Entrada da Fábrica da Pólvora, Barcarena
 
 
Museu da Cidade, Lisboa
 
 
 
Jardins do Palácio do Marquês de Pombal, Oeiras
 

 

 





 

25 abril 2022

25 de Abril sempre


 Agora que já floriu
A esperança na nossa terra
As portas que Abril abriu
Nunca mais ninguém as cerra (...)

(José Carlos Ary dos Santos)

22 abril 2022

O prospector

 


A 22 de Abril de 1920 nascia o meu tio Alberto. O primeiro de oito filhos de um casal que acabou por ficar apenas com este filho e três filhas, tendo perdido os restantes logo nos primeiros meses de vida.
O meu tio nasceu em Lisboa, mas foi vivendo aqui e ali, consoante o trabalho do meu avô, para a Junta Autónoma de Estradas, exigia. Moraram em Coimbra, no Porto, em Mértola e por fim em Silves, onde concluiu a instrução secundária. 
Tal como o pai, também Alberto se empregou na JAE.
Casou com Maria Isabel Tenente aos 24 anos, em Ponte de Sor, onde o casal ficou a residir. Por pouco tempo.
Os dias eram rotineiros, o trabalho pouco exigente e a sua ânsia de fazer mais e de ser melhor fizeram-no aspirar a outros desafios. Candidatou-se à Diamang e, em Fevereiro de 1948 embarcou no Quanza, rumo a Angola.
Pelas centenas de cartas que o seu pai guardou, senti que o conheci quase melhor que as irmãs, mais novas uns anos valentes. Soube como a estranheza inicial deu lugar a um entusiasmo crescente. Rapidamente o trabalho na Contabilidade era História e o meu tio passara a ser “homem do mato”, começando a trabalhar na prospecção.
Vivia em casas de pau a pique, algumas com diversos quartos e com frigorífico, em pleno mato, em 1951.
Liderava o trabalho de equipas de nativos, caçava (sobretudo para alimentar os seus homens) e fazia o levantamento de zonas vastíssimas, onde por vezes nenhum branco havia sido visto.
No Dundo aprendeu a guiar, embora o seu dia-a-dia consistisse em caminhar dezenas de quilómetros e prospectar. Adquiriu noções de primeiros socorros, tratou e foi tratado. Injecções de quinino e todo o material de assistência básica acompanhavam aqueles homens por todos os pontos onde assentavam por uns tempos.
O casamento não deu certo e Alberto acabou por se sentir ali tão bem quanto os leões ou os macacos. Convivia por vezes com outros prospectores e com os elementos da equipa de Geologia e só esporadicamente com outros empregados e suas famílias, nos “lupangos” mais próximos de onde se encontrava.
Descobriu o maior kimberlito da história até então, o que ficou documentado em publicações internacionais da especialidade. Mas também se apercebeu de alguns desvios, o que talvez tenha estado na origem dos ocasionais desaparafusamentos de porcas dos pneus do Land Rover que conduzia.
Passou a viver com um mini zoo, onde havia sempre espaço para mais algum animal, enquanto algum acabava por morrer. Se, na metrópole, já gostava de filatelia, no Dundo apaixonou-se pela fotografia e vídeo. Encomendava câmaras, rolos e filmes do estrangeiro.
Colaborando frequentemente com o laboratório de Biologia da companhia, acabou por se dedicar também ao embalsamamento. Encomendava câmaras, rolos e filmes do estrangeiro.
Nas férias, vinha ao “Puto”, rever a família e fazer tratamentos na termas, indo também a Espanha e Marrocos.Morreu subitamente, sem descendência conhecida, naquele que planeava ser o último contrato, quando o Land Rover onde seguia entre Xá-Mutemba e Iogo capotou, poucos dias após completar 44 anos.
Deixou desolado o pai, já viúvo, e as irmãs, todos órfãos de um corpo a quem fazer as exéquias.
Foi o meu tio quase mítico. E hoje, quis lembrá-lo, mesmo sem ter chegado a conhecê-lo pessoalmente.

17 abril 2022

Parabéns, Pai!


Hoje seria dia de festa: o aniversário do meu pai e o de casamento dos meus pais.
Se ainda estivesse nesta dimensão, o meu pai completaria hoje 85 anos.
Não está, mas estão os dois filhos, os dez netos, dezoito bisnetos e três trinetos; fica bem representado, em número de descendentes.
Foi um Homem com H maiúsculo, um exemplo de sageza.
Íntegro como poucos ousam ser (perdeu a oportunidade duma vida por não esconder a sua ideologia política), não teve quem lhe amaciasse o caminho. Cedo teve de deixar a escola e começar a trabalhar, consertando guarda-chuvas.
Colmatou a falta de estudos com um forte temperamento auto-didacta. Leu muito, aprendeu sobre diversas áreas e ainda não era adulto quando começou a escrever críticas para os jornais. Nunca parou de ter um papel activo na sociedade e foi isso que me transmitiu.
Ensinou-me aos doze anos a bater-me por justiça. Sozinha. E foi com os meus meios que passei a enfrentar tudo.
Incentivou-me a ser a melhor (não posso dizer que o tenha conseguido, mas ficou a lição). A não desistir. A batalhar pelas minhas convicções e a questionar tudo quanto me quisessem fazer crer. Orientou-me. Deu-me conselhos, a maioria dos quais não pedi. Mas segui-os.
Sonhava viver numa biblioteca. O máximo que conseguiu foi reunir tantos livros em casa que a minha mãe receava que o escritório caísse sobre o vizinho. Resolvia todas as palavras cruzadas do jornal. Mesmo as que traziam as quadrículas pretas por preencher.
Deixou-me, com o seu exemplo, o gosto pelo saber, a liberdade, a tolerância, a perseverança.
O meu pai foi o meu primeiro orgulho. Um herói com pés de Barros.
Tanto do que sou provém dele.
A doença de Alzheimer atacou-o precocemente e foi pouco o tempo que tivemos. É sempre pouco, quando se ama.
Mas valeu tanto!
Abraço-te, pai. Nesse plano da utopia, onde agora estás.
E segredo-te “parabéns, pai!” por tudo o que a tua vida significou para mim, pelo exemplo que foste.

(imagem retirada na Net)

09 abril 2022

Dia do Combatente






9 de Abril

Batalha de La Lys

Fotos da cripta e do talhão dos combatentes, no Cemitério do Alto de S. João, em Lisboa

30 março 2022

Deolinda

 

Fez ontem sessenta anos que Deolinda morreu.
Cresceu na Sobreira, perto do Porto, numa família numerosa, onde apenas a última filha, adoptada, foi à escola. Os restantes dez foram ajuda nos trabalhos de campo e domésticos dos pais.
Não sei muito sobre a sua vida. Sei que aos 23 anos, quando casou, trabalhava como ama dum menino num palacete na Foz, no Porto. O casamento, bichanaram-me recentemente, parece ter sido arranjado pelos patrões. Deolinda casou com outro empregado da família e tiveram um filho, que os patrões apadrinharam, e uma filha, com menos de dois anos de diferença.
Quando estes eram crianças, o peso da autoridade do marido fez-se sentir. Mas ela não era mulher para se encolher. Injustiçada e indignada, pegou nas crianças e saiu. Num tempo em que as mulheres não deixavam os homens, ela saiu. Sem apelo.
Tentou que a zanga do pai dos filhos, despeitado, não se reflectisse sobre estes, mas sem sucesso. As vidas continuaram a decorrer nas proximidades uns dos outros, porém o pai não falaria mais a nenhum dos três.
Como padeira, Deolinda mudou de vida. Moravam numa ilha e distribuía pão às portas das freguesas. Não sabia ler, o que lhe causava desgosto. Mas nas contas ninguém conseguiria enganá-la.
Por vezes levava consigo a filha e a menina recebia guloseimas, que fazia questão de partilhar com o mano.
Era uma mulher de fé. Criou os filhos no cumprimento dos sacramentos. Quando chegou o momento de fazerem a primeira comunhão, a mãe ofereceu um fio a cada um, com um anjo da guarda.
As crianças cresceram ouvindo-a cantarolar as canções da fadista preferida, Amália.
Dos seis netos que viria a ter, só conheceu o primeiro, meu irmão, que ajudou a criar.
Um dia, a doença rasteirou-a. Era ainda nova.
O menino de quem fora ama, então já médico, foi uma das visitas que recebeu no Hospital de Santo António, onde já nada pôde ser feito.
Faleceu com 49 anos. Ontem, que foi o 60º aniversário da sua morte, lembrei-me de partilhar o que sei desta minha avó, a paterna.

27 março 2022

Eu sou a minha própria mulher

 

 


São duas horas de monólogo de Marco Almeida, que demonstra uma versatilidade a toda a prova.
Dá corpo e vozes a 35 personagens, nesta “celebração da liberdade e da identidade, do respeito por cada um e a luta por direitos iguais” com que o Teatro experimental de cascais resume a peça.
Duas horas sem intervalo, entre a pele de uma Charlotte von Mahsdorf e 34 outras. Num segundo encarna os gestos pausados e a voz de inflecções súbitas e trejeitos femininos e no instante seguinte irrompe num vozeirão tonitroante que se destaca entre uma cenografia toda ela espantosa.
São tons que vão do masculino corrente ao feminino exibicionista duma pivot, do gutural quase exclusivo dos filmes de animação ao queixume rastejante dum velho que sofre.
Com esta Charlotte andamos de montanha russa, entre o riso e a apreensão, o escárnio e a surpresa, onde nenhum pormenor desta encenação de Carlos Avilez é menor que perfeito.
Com esta Charlotte, vamos, pela mão duma idosa amante de antiguidades, conhecer a história do museu Gründerzeit e explorar os acontecimentos do século XX, numa Berlim fustigada pela guerra e passada a pente fino pelos nazis e depois pelos comunistas. Uma Berlim não acolhedora para que não se encaixava nos padrões “normais”.
Se, com o enredo, somos levados a encontrar semelhanças com a actualidade, a música fez-me viajar entre recordações, quer de viagens, quer de quando, aluna do secundário tive o gosto de na mesma sala assistir, com a minha família, a outros momentos dramáticos.
Passaram quase 24 horas e continuo a pensar: como é possível? Uma recordação que ficará, pelo desempenho brilhante de Marco Almeida. Por tudo.

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin