21 abril 2016

Pai


Chamava-me Filoxera
O Porto o viu nascer
A ordem dos factos é outra
Mas por esta o quero dizer

Lembro o meu pai-herói
Faz dez anos que partiu
Abalara já na garupa
Da memória que lhe fugiu

Era Rui e era Barros
Não jogava futebol
Com uma lupa acendia
Cigarros expostos ao sol

Fez teatro n’Os Modestos
Na juventude do tempo
Escreveu para os jornais
Leitor crítico e atento

                            Homem sempre de Abril                            
Desde o berço até à morte
Votou, amou e viveu
Do lado esquerdo da sorte

Dançou quando eu nasci
Q’ um homem também dança
Se contido, mas babado
Ao nascer-lhe uma criança
  
Chorava as dores alheias
Vivia de punho erguido
Dizia que o povo unido
Jamais seria vencido

Apontava-me os beirais
Na primavera, exultante
Saudando as andorinhas
No regresso triunfante

Ensinou-me a perseverança
A rectidão e a coragem
Mostrou-me, desde criança,
Como viver esta viagem.

14 abril 2016


Tudo começou com uma batuta que ganhou vida e saltou da mão do maestro. Estávamos no penúltimo andamento do concerto.
Uma risota. Conseguiste não a apanhar em pleno voo. De outra forma, teria sido o fim do espectáculo. Um riso incontido ecoando por toda a sala. Maestro e músicos descompassados, a confusão reinante.
Sonos de não dormir, até tarde. O almoço lanchado. Gente nómada com cadela atrelada. Miúdos eléctricos de fritar cérebros.
A cozinha no centro das operações e tanto que rir, tanto que falar. Refeições inquietas, o serão vagueando por Marte. A lembrar aquele jantar, quando a criança arrota e a mãe pergunta: “O que é que se diz?”, sendo a resposta pronta: “Arrotei!”.
Filmes e mais cinema, das pipocas ao pecado da não gula.
O dia a terminar com a cadela a correr, e o dono em sentido contrário. Perdidos de riso, misturam-se polares. Serão ursos? Serão roupas? Roupas não são, certamente. E os ursos não riem assim.

(só para dizer que o humor faz sentido para quem detém o código).

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