30 julho 2011

Tranquei as palavras no meu íntimo.
Ensaiei pronunciá-las para ti, mas a ocasião não se colocou.
Fui guardando um rascunho da ideia, reservei um espaço na memória para que elas ganhassem realidade no momento certo. A mina boca estava já preparada para as soltar quando me abraçasses e eu sentisse tudo aquilo que me transmitias por imagens.
Mas o instante diluiu-se, a emoção esfumando-se na sequência das semanas vorazes.
E o ensaio geral ganhou mofo, os vocábulos não chegaram a tomar vida. Ficaram sepultados em mim, nunca chegando a ser nossos. Porque até as palavras têm de ser conquistadas.

25 julho 2011


Se soubesse escrever, deixaria hoje aqui todas as palavras feitas de estrelas.
Nasceria neste espaço um firmamento de emoções só teu, nascido dos momentos foram nosos e que ficaram.
Se tivesse força, gritaria. Duma margem para a outra. Gritos de saudade e de dor. De angústia e solidão.
Se ainda houvesse taças feitas de flores, brindaria à nossa alegria, ao brilho nos olhos do futuro, a todos os ocasos de esperança amarrotada.
Se ainda pudéssemos olhar as estrelas juntos, saberias que eram holofotes apontados à vida, satélites habitando um espaço de sentimentos.
Mas eu já não sei escrever, as emoções desbotaram, a voz foi engolida pelo cansaço, as flores murcharam. E as estrelas esconderam-se.
Também só agora me dei conta que tu nem deves saber ler-me…

23 julho 2011

18 julho 2011

Nélson Mandela completa hoje 93 anos de uma vida totalmente consagrada à afirmação da dignidade humana e à luta contra a opressão racial na África do Sul.
Uma vida de luta contra a desiguadade, motivada pela esperança e pelo espírito combativo que, finalmente, o conduziu ao Prémio Nobel da Paz e à presidência do seu país.
Em homenagem a este lutador incansável, deixo as suas próprias frases, extraídas da obra autobiográfica Longo Caminho para a Liberdade:

“Eu não nasci com fome de liberdade. Nasci livre- livre de todas as formas minhas conhecidas. Livre para correr pelos campos perto da cabana da minha mãe, livre para nadar no ribeiro claro que atravessava a vila, livre para assar milho sob as estrelas e montar na garupa larga de toiros vagarosos. Enquanto obedecesse ao meu pai e respeitasse os costumes da minha tribo, não me incomodava com as leis do homem ou de Deus.
Foi só quando comecei a aperceber-me que a minha liberdade de criança era uma ilusão, quando descobri, como jovem, que a minha liberdade já me fora tirada, que comecei a ansiar por ela. (…)
Mas, então, comecei lentamente a ver que não só não era livre, mas também os meus irmãos e as minhas irmãs não o eram. Vi que não era só a minha liberdade que era limitada, mas a liberdade de todos os que se pareciam comigo. Foi quando me inscrevi no Congresso Nacional Africano e foi quando a minha grande fome de liberdade para mim próprio se transformou na maior sede de liberdade para o meu povo. Foi este desejo de que o meu povo tivesse a liberdade de viver a sua vida com dignidade e auto-respeito que motivou a minha vida, que transformou um jovem assustadiço numa pessoa audaz, que levou um advogado respeitador da lei a transformar-se num criminoso, que fez de um marido amigo da família um homem sem lar, que forçou um homem que amava a vida a viver como um monge. Eu não sou nem mais virtuoso, nem mais abnegado do que qualquer outra pessoa, mas descobri que não conseguia nem sequer desfrutar das liberdades mesquinhas e limitadas que me eram permitidas, sabendo que o meu povo não era livre. A liberdade é indivisível. (…)
Foi durante esses longos anos solitários que a minha fome de liberdade para o meu povo se transformou na fome de liberdade para todos os povos, brancos e negros. (…)
A verdade é que não somos ainda livres; alcançámos apenas a liberdade de sermos livres, o direito a não sermos oprimidos. Não demos o último passo da nossa viagem, mas sim o primeiro de uma estrada ainda mais comprida e difícil. Pois ser livre não é somente arredar as correntes, mas viver de uma forma que respeite e realce a liberdade dos outros. O verdadeiro teste da nossa dedicação à liberdade está a começar.
Percorri esse longo caminho para a liberdade. Tentei não fraquejar; dei passos errados ao longo do percurso. Mas descobri o segredo: que, depois de escalar uma grande montanha, apenas se descobre que há muitas mais montanhas para subir. Parei aqui um pouco para descansar, para deitar uma olhada à vista maravilhosa que me rodeia, para olhar para a distância, de onde vim. Mas posso descansar somente por um momento, porque com a liberdade vêm as responsabilidades- e não me atrevo a demorar-me, pois a minha caminhada ainda não terminou.”

07 julho 2011

Férias



Vida, simplesmente.

Não horas, não obrigações.
Folga ao relógio.
Complacência para com as regras.

Calma.

Respirar fundo, sorvendo momentos de brincadeiras infantis.
Eu, infantil também.

Livros, a par com pás de areia e baldes.

Outras paragens, praias por conhecer.
Riso. Fotografias. O chapinhar na água, o cheiro do campo.

03 julho 2011

Olho, num relance sem importância, as palavras que rabisquei ontem num bloco de apontamentos e não sei porque me detive a assentar ideias tão triviais.
O que me terá conduzido ali, feito depositar naquela folha tais imagens peregrinas, tão sem jeito hoje, tão não-minhas?
Deve ter a ver com os ímpetos desconcertantes de quem escreve por necessidade de equilíbrio. Uma qualquer falha de razoabilidade, a mesma que me faz andar sempre com um pé no chão e o outro sabe-se-lá-onde…
Porque o terei feito? Talvez tomada por um assomo instantâneo de pretensiosa psicose...? São notas esparsas, sobre coisa nenhuma, bem mais interessantes do ponto de vista clínico -pelo menos para certos clínicos ligados à área da saúde mental- do que para quem quer que aprecie a leitura de uma crónica que divirta ou dê que pensar.
Sempre achei que, a qualquer criatura que sinta necessidade de criar (e falo de criar o mais miserável texto ou a mais completa sinfonia, o mais singelo quadro ou a coreografia mais arrebatadora), devia a lei conceder períodos de tempo exclusivos. Para que pudesse dar largas à sua obra (e quem diz obra, diz disparate, também- porque não?), num contexto totalmente afastado da realidade. Assim. Sem mais nem menos.
Apenas a dedicação ao ímpeto criador. Sem empecilhos mesquinhos. Agenda, família, documentos para entregar no banco, reuniões de condomínio, toda e qualquer tarefa doméstica absolutamente renegadas para contexto secundaríssimo.
Para que o processo criativo possa fluir, sem espartilho. Respirar, inundar de vida o espírito que as imaginou, permitir-lhe a aproximação à qualidade.
Para que as criações não sejam produtos fugazes de mentes tolhidas, destinados ao ecoponto. Sem direito a exéquias ou elogio fúnebre.
Como acontece com esta minha divagação.

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