27 setembro 2016



Há um monstro que é o da minha idade adulta. Não pertence ao universo que nos ensombra a infância, antes se impõe quando assistimos, por uma e outra vez, ao declínio dos que nos antecedem: é o monstro da degradação.

Uma dor que se aninha cá dentro e se alonga no tempo. Ver alguém perder a iniciativa, a força, os sentidos, a responsabilidade, a compostura. Assistir à insinuante estalactite da mente encortiçada, cada dia mais teimosa. Mais dependente.
Quem nos livra?

20 setembro 2016

Vida de cão


(imagem retirada da internet)

Andou por aqui durante toda a tarde.
Olhando para cima, reparando em cada pessoa que saía, não largou a entrada do prédio onde vivemos.
Tinha olhos de meiguice castanha clara, perscrutava cada esquina, cada movimento, todos os abrires e fechares de porta. De início, ainda pensei que se tinha tomado de simpatia por nós. A ideia agradou-me, como me cativara há meses a ternura dum gato que nos chamava para se rebolar entre carinhos. Depois, caí na realidade e apercebi-me que esta era mais dura. O cão estava de sentinela, convicto de esperar alguém. Fiel à última imagem de alguém que o deixou para trás? Romântico, perseguindo a sua amada? Perdido e confuso acerca do edifício onde procurar o dono?
Por aqui andou, sempre de olho na entrada do prédio. Não trazia número de contacto na coleira. Afastou-se quando tentei fotografá-lo.
De esperança e ternura se fez a sua tarde.
Tomara que a ternura e a esperança sejam recompensadas, nesta vida de cão.

06 setembro 2016

Cartas de Guerra (no grande ecrã)



Encantar-me com um filme após ter lido o livro que esteve na sua base não é coisa que costume acontecer-me.
Aconteceu agora. Com um filme de guerra. Uma poesia servida na grande tela. Pintada em tons de preto e branco, fazendo-nos viajar na cronologia e na latitude.
Impossível não me emocionar com o amor em tempo de guerra daquele enredo que enredou a actriz Margarida Vila Nova enquanto lia para a barriga. O livro já me fizera pele de galinha em certos capítulos. As interpretações e a fotografia deste filme complementaram-no. Seguiram-lhe o compasso. Um compasso lento, como lentíssimo era o tempo de quem foi arrancado ao amor recente, à vida em semente, para ter de participar num conflito longínquo e por lá ficar durante anos. Fieis ao sentir do protagonista, o ritmo e o tom da história. Um Ivo Ferreira ao nível dum António Lobo Antunes: crítico, sensível, cru, apaixonado. Como só alguns homens das artes sabem ser.
Um filme que aconselho, aos que gostam de  pensar. E sentir.

01 setembro 2016

Mais um sonho realizado (II)

Berlenga


Praia deserta


Farol de S. João Baptista


Fortaleza


O que nós descemos para aqui chegar!


A maré estava vaza


 Ao sairmos do forte, já a maré enchera




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