29 abril 2008

- Mamã, quando os bebés nascem fazem logo um ano, não é?
- Não é logo, Vasco; até fazerem um ano é preciso que passem doze meses.
- Mas com a minha mana foi logo!...

25 abril 2008

O Escrito a Quente comemora um ano


Hoje, o Escrito a Quente completa um ano de existência. Escolhi o dia da liberdade para lançar este blogue na blogosfera, por motivos que expus logo no primeiro post.
O balanço desta escrita na blogosfera é francamente positivo. Como quase todos os bloguistas, também eu comecei por pensar num blogue como meio de contar histórias ou, de vez em quando, desabafar ou criticar situações sociais ou políticas.
Considero que fui bem-sucedida neste intento, mas de onde me veio o maior ganho foi das presenças que passaram a acompanhar-me, umas mais pontualmente, outras de forma reiterada. Presenças geradoras de ligações, de amizades, de partilhas. Presenças que vieram sublinhar amizades já existentes, de pessoas que me conhecem, acompanham a faz que atravesso e sabem o que sinto em relação à escrita.
À Zé, à Cândida, à D.A. e seus heterónimos, ao Casado, ao Psi, ao Carlos, à Maria Mamede, à Sophiamar, à Maria, ao Pedro Neves, à Sei Que Existes, à Maneluska, ao Alexandre, ao José Gomes, à Alex, ao Barão Van Blogh, à Jograis e Trovadores, ao Victor Nogueira, à Belisa, à Bárbara Cecília, à Amigona, à Sol da Meia Noite, à Blue Velvet, ao Tiago’, à Inês Pimentel, à Elvira Carvalho, à Alda Inácio, à Carminda, à Secreta, ao Vladimri, ao José Neves, à Sonhadora, ao Profeta, ao Vieira Calado, à Carla, à Zita, à Jasmim, à Sky Wlaker, ao Homem Sem Rosto, ao Pena, ao Paulo Sempre, à Margusta, ao Luis Galego, ao Bruno, à São, à Dilean de Bragança, à Carlinha, ao Rastinov, à Odele Souza, às Marias, ao Netmito…, à Outono Desconhecido, ao Rui Caetano, ao LopesCa, ao Eremita, ao Fernando Vasconcelos, à Luma, à Pitanga, ao Jo Ra Tone, à Kalinka, à Bettips, ao Oliver Pickwick, ao António Inglês, à Fernandinha, à Começar de Novo, à Meg, ao Provokactor, à Lisa’s Mau Feitio, à Tulipa, ao Waldo Lima, ao Conhecimento, à Perla, à Pikenatonta e ao Miguel, a todos, todos, o meu MUITO OBRIGADA num abraço quente. Todos vieram acrescentar valor a este blogue, alguns passando a patentear a sua presença no meu dia-a-dia.
Alguns vieram com as mão cheias de elogios, diversos trouxeram amizade, humor, uma capacidade extraordinária de me fazerem chegar o seu afecto. A entreajuda. A opinião.
As vossas presenças são importantes e a minha gratidão acompanhar-vos-á.
Agradeço também a todos os que por aqui passaram sem deixar comentário e me disseram de viva voz as suas opiniões.
Um agradecimento igualmente sentido, e quente, à minha mãe e à minha tia Beatriz, que não me lêem online, mas na forma tradicional: em papel.
Termino, oferecendo uma fatia de bolo (virtual, lamento) a cada um de vós.

25 de Abril



("A Liberdade"- cartaz de Vieira da Silva)

Era uma vez um país
Onde entre o mar e a guerra
Vivia o mais infeliz
Dos povos à beira-terra (…)

Um povo que era levado
Para Angola nos porões
Um povo que era tratado
Como a arma dos patrões
Um povo que era obrigado
A matar por suas mãos
Sem saber que um bom soldado
Nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
Que dentro de um povo escravo
Alguém que lhe queria bem
Um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
Feita de força e vontade
Era ainda uma criança
Mas era já a liberdade.

Era já uma promessa
Era a força da razão
Do coração à cabeça
Da cabeça ao coração
Quem o fez era soldado
Homem novo capitão
Mas também tinha a seu lado
Muitos homens na prisão (…)


Essas portas que em Caxias
Se escancararam de vez
Essas janelas vazias
Que se encheram outra vez
E essas celas tão frias
Tão cheias de sordidez
Que espreitavam como espias
Todo o povo português.

Agora que já floriu
A esperança na nossa terra
As portas que Abril abriu
Nunca mais ninguém as cerra (...)

Seleccionei algumas estrofes do poema As Portas que Abril Abriu do José Carlos Ary dos Santos, que considero verdadeiramente emblemáticas, para recordar o 25 de Abril de 1974.
É com cravos vermelhos que formulo um desejo: que a liberdade nunca mais seja silenciada.

23 abril 2008

Dia Mundial do Livro

- Tia, que livros é que tens aí para eu ler?- perguntava eu numa das noites que fui passar a casa desta tia que já referi aqui no blogue.
- Olha, acho que não tenho nada para a tua idade- respondeu-me. Eu tinha sete anos.
- Não?!...
- Só se leres o jornal- contrapôs, no que assume ter sido uma tentativa de pôr termo à conversa.
- Então, empresta aí!

A minha relação com os livros é uma relação sensorial. Contemplo-os, sinto o quanto são suaves ao toque ou, nos casos mais antigos, ásperos como as rugas da idade; inspiro o seu aroma.
Gosto de ler. É das coisas que mais gosto na vida. A necessidade de leitura é, em mim, tão imperiosa como a alimentação ou o afecto.
Leio de tudo, mas os livros ocupam o lugar de eleição.
Começou cedo, a minha relação com os livros. Os meus pais souberam incutir-me o bichinho da leitura ainda antes de eu ter idade para ler. Eu, sigo-lhes o exemplo e faço o mesmo com os meus filhos, que também já não dispensam histórias.
Transmito-lhes que os livros são amigos, ali sempre à mão. Para nos entreterem, nos ensinarem, nos fazerem pensar. Nos deleitarem com histórias mais ou menos verídicas, com imagens belas ou com banda desenhada de humor desconcertante.
Amigos que não nos virarão as costas e não se zangarão se não gostarmos muito do que nos dizem.

22 abril 2008

Nunca se está preparado

(Perdoem-me nova incursão no mesmo tema, mas sinto necessidade desta catarse, de quem não pôde fazer um luto em devido tempo. Só depois poderei passar para temas menos confrangedores. Compreendo quem quiser apenas voltar no próximo post)

O telemóvel tocou. Era a minha mãe.
Conversa de circunstância. A minha intuição a dizer-me que era apenas o prelúdio para algo mais sério. Grave.
Instei-a a passar à razão da chamada. Só queria acabar com aquela expectativa.
A notícia veio. Dura e simultânea com uma torrente de lágrimas minhas, a minha mãe a controlar-se como nunca.
A minha mão percorreu o volume redondo da barriga grande, de quase oito meses. O Vasco e a senhora da loja onde nos encontrávamos, aflitos, por me verem perdida no desgosto. Ela oferecendo-me uma cadeira para eu me sentar.

Agora, era definitivo; perderamo-lo para sempre.
Ninguém, nem mesmo quem leva anos e anos face-a-face com a doença, está preparado.

Saímos da loja, trazendo os doces regionais de lembrança para a minha mãe e a minha tia.
O Pedro a ver-me chegar junto dele, desfeita. A perguntar o que acontecera. O Vasco a responder "Foi o avô...".
Ter de explicar a um menino de três anos que o avô se cansara de estar doente e resolvera ir para junto dos seus pais. Tudo isso e muito mais eu revejo com clareza, como se tivesse sido ontem. Todos os momentos desse dia 22 (o hospital não ligou a 21 por ser já tarde) e do dia 23, em que cumprimos a sua últma vontade.

21 abril 2008

17/4/1937- 21/4/2006


Aposto que, para te levar, teve de ser por decisão tua.
Digo isto porque já afugentaras diversas vezes, anos a fio, os emissários que ela enviara.
Perante o teu ar determinado e a tua atitude combativa, ela aprendeu a respeitar-te. O seu tempo teria de ser o teu tempo.
Nos últimos minutos do dia 21, sorriste a essa criatura tão perseverante como tu. Os vossos olhares cruzaram-se e assim ficaram por instantes, num entendimento mútuo, já sem intenções antagónicas.
Ela aceitou o teu convite, cordial, para uma dança leve. Pela primeira vez, puderam entender-se. Na sua dança. A dança da morte.

(Não sei como foi a tua partida. Lamentavelmente, estavas no hospital. Para ludibriar o meu coração, que chora a tua morte rodeada de solidão, a minha mente prefere imaginar-te partindo deste mundo assim, numa dança como os famosos tangos da tua juventude.
Até sempre! Aqui, comigo.)

17 abril 2008

Hoje, já não é dia de festa...

Parabéns, pai!

Pelo grande homem que foste.

Por tudo o que me ensinaste.

Há "milhentas" (como tu dirias) coisas que poderia escrever sobre ti hoje, mas ainda não consigo.

Dói demais...

Um beijo chorado, da tua filha que te sente sempre presente em todos os momentos, mas que hoje não consegue deixar de sentir a tua falta.

14 abril 2008

Simone de Beauvoir


A "menina bem-comportada", que se tornaria uma mulher anticonformista e crítica dos valores ditos "burgueses", morreu há 22 anos.
Autora de obras autobiográficas e ensaios sobre o Existencialismo, foi uma das primeiras mulheres a quem dediquei admiração, na idade inspiradora da adolescência.
Admiro a mulher e a filósofa, embora não subscreva a totalidade das suas teses. Aliás, admiração e concordância não são sinónimos, na minha maneira de ser.
A sua obra, tanto literária como filosófica ou política, reflectiu a posição dos intelectuais em relação ao pós-guerra.
A célebre frase "Não se nasce mulher; torna-se mulher" reflecte a tese de Simone segundo a qual a mulher não se define biologicamente; a sua condição feminina é, antes, impostapor factores sociológicos.
Em meados do séc. XX, reconhecer a mulher como ser responsável e livre de fazer as suas escolhas era de tal forma revolucionário que colocava em causa os próprios fundamentos da sociedade.
A sua leitura é um desafio filosófico emocionante. Bem-humorado, crítico, mordaz.

Deixo-vos duas das suas inúmeras frases que nunca esquecerei:

A amizade é uma construção delicada; aguenta algumas partilhas, mas exige também certos monopólios.

... a feminilidade não é nem uma natureza; é uma situação criada peloas civilizações a partir de certos dados fisiológicos.
Au revoir, Castor!





13 abril 2008

Os Descobrimentos: um treino?


O meu filho adora histórias. Nisso, parece-se com a mãe.
Adormecer sem o ritual da historinha é, para ele, um castigo.
Numa destas noites, voltámos ao tema que ele aprecia, os Descobrimentos. Gosta de aprender o nome dos navegadores, das naus e as rotas percorridas.
E eu aproveito e refresco a memória.
A história era sobre o Infante D. Henrique, o Navegador, precisamente.
Como sempre, à medida que leio, faço tradução simultânea, já que a maioria dos livros não tem uma linguagem muito adequada a crianças de cinco anos.
Comecei por enquadrar o infante no seu meio familiar. Contei-lhe a forma como D. João I e D. Filipa de Lencastre incutiam valores e conhecimentos aos seus filhos, espicaçando-lhes a vontade de aprender. Expliquei-lhe o significado de estes filhos serem conhecidos por "Ínclita Geração".
Continuámos pelo estudo da cosmografia, pela aprendizagem da equitação e pelo manejo da espada. A explicação do que era isso de ser cavaleiro.
Prosseguimos viagem, até Ceuta. Seguiu-se a cerimónia em que D. João I armou cavaleiros os seus filhos.
A seguir, exponho-lhe as ideias expansionistas do Infante D. Henrique, preparando-o para as descobertas que se seguiriam: Porto Santo, Madeira, costa ocidental de África.
Quando me preparo para lhe mostrar onde ficava a Serra Leoa, o meu filho sai-se com:
- Estavam a treinar?
- A treinar o quê, Vasco?
- A ser cavaleiros.

Moral da história: valores económicos, patrióticos ou de expansão da fé cristã não dizem nada a quem ainda usa dentes de leite. De modo que não os vinquei, apenas enfatizei a determinação em descobrir, ir mais longe e vencer medos.
Porém, na cabeça de um menino de cinco anos, nada tem maior importância do que treinar...
Boa dica para próximas histórias: estavam a treinar a navegação e as descobertas.


11 abril 2008

Já temos o nosso símbolo da Primavera!

Tínhamos acabado de chegar a casa, a meio da tarde. A Mafalda adormecera no carro.
O Vasco, do alto dos seus cinco anos, pedia-me que jogasse com ele ao Monopólio. (Reconheço no jogo um carácter materialista, mas eu também adorava jogá-lo; além disso, faz com que comece a aperceber-se do valor relativo dos números).
Respondi-lhe que sim, jogaria com ele, mas apresentei-lhe outro entretenimento, prioritário e estimulante:
- E se fôssemos semear girassóis, primeiro?
- Posso ser eu? (voz ligeiramente elevada, denunciando o entusiasmo que eu antevira, e olhos de riso brilhante).
- Claro! Pegas nesta pá, vais pondo terra no vaso e, quando estiver quase cheio, deitamos as sementes.
- E quando é que elas nascem? (aos cinco anos, tem de ser tudo para já...)
- Deixa ver... Aqui na embalagem diz que é daqui a três ou cinco dias. Mas não sei se será; a mãe guardou-as demasiado tempo. Além disso, não sei se é neste mês a época certa para semeá-los ou se isso já devia ter sido feito. Vamos ter de ter paciência e esperar para ver.
Passaram 3 dias. 5 dias. Vários.
E nada de girassóis...
Até que, esta manhã, doze dias após a cena, deparo com um rebento no vaso.
À tarde, descubro o segundo. Eureka!
A Natureza pode não saber fazer contas aos dias.
Eu posso não saber se as sementes estão velhas e se esta é a época indicada para as colocar na terra.
Mas a Primavera já nos presenteou. Agora, é só cuidarmos bem do nosso símbolo primaveril e ir apreciando os seus progressos.

09 abril 2008

Hoje não há acção nem reacção.
Estou refém da inércia, aliada da indiferença.
A razão? Um misto de vazio e de saudade. Saudade infinita.

08 abril 2008

Tantras, preces e outros emails em cadeia

Não adianta.
Não repasso emails com tantras, preces ou apresentações pedindo isto ou prometendo aquilo.
Reconheço que alguns são lindos, outros engraçados, mas continuo sem conseguir perceber porque é que eles circulam com tanta frequência pela internet, como é que ganharam tantos "seguidores".
E, o pior é que, além de te pedirem que os reencaminhes, ainda pedem que os remetas de volta ao emissário.
Tenham paciência com uma mulher que, além de fundamentalista no que concerne ao tempo, não consegue descortinar porque é que, para "provar" que se é amigo de alguém, se deve reencaminhar este tipo de "tralha" informática.
Não quero, nunca quererei, com isto, ferir a susceptibilidade de quem quer que seja. Respeito que gostem de receber e dar seguimento. Só peço que compreendam que não o faço, a não ser em caso de se tratar de alguma mensagem com informação importante, útil ou humnanitária. Ou, excepcionalmente, se for arrebatada por mensagem belíssima que ache digna de transmitir a outros.
De resto, continuo e preferir a prática da amizade diária por conversa, pessoal ou por telemóvel, email até. A reiterar a minha devoção através de gestos e práticas, como o beijo, o abraço, o riso, a dádiva, a companhia nos bons e maus momentos.
Continuo a preferir um encontro a um email com bonecada, um toque a uma promessa, uma palavra de conforto a uma frase citada, uma opinião ou um elogio a uma fotografia repassada.
Assim, espero que compreendam que, se me enviarem alguma destas apresentações e não a receberem de volta, tal não significa que não morem no meu coração.

04 abril 2008

Dias mais compridos e luminosos.
Temperaturas a subir.
Brincadeiras partilhadas.
Noites com aroma de Verão, a convidar os sentidos a celebrar a vida.
Isto sim, é energia. Inspiração em estado puro.

01 abril 2008

Ainda não foi desta

- Estou...
- Boa tarde, estou a falar com a...
(obviamente, pois se foi para o meu telemóvel que ligaram...)
- Está, sim.
- Eu estou a falar da (nome da empresa)...
(claro, isso já eu tinha reparado, pelo número do telefone)
...- a... esteve cá em entrevistas, a últimas das quais na Segunda-feira...
(jura! E, que eu saiba, a Segunda-feira foi ontem.)
- Eu estou a ligar-lhe para lhe agradecer a sua presença nestas entrevistas...
(já percebi, não foi desta)
... e para lhe dizer que a ... não foi seleccionada para este lugar.

Sensação de vazio e de déjà vu, seguida de pensamento imediato: tenho de ir consultar os sites de emprego outra vez.
Não faz mal: a vida continua e lá fora o Sol brilha.

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