29 julho 2008

Noite estrelada


Vincent Willem Van Gogh, universalmente conhecido como um dos maiores pintores de sempre, foi também um excelente desenhador e um adimrável epistológrafo.
Viveu uma vida curta e atormentada por motivos de saúde. Foi alvo de 30 diagnósticos diferentes, entre eles: envenenamento pela tintas, distúrbio bipolar, esquizofrenia, sífilis, epilepsia, porfiria aguda agravados por insônia, má nutrição, ingestão de álcool (absinto principalmente).


O seu carácter sombrio e excêntrico não lhe facilitou o percurso pessoal, quer nas relações com os outros, quer na procura de serenidade, que terá, porventura conseguido alcançar apenas quando pintou A Colheita e nas horas que precederam a morte, quando, após semanas de actividade criativa, disparou um tiro no peito, a 27 de Julho de 1890.
Já em Dezembro de 1888, num dos assomos de violência que tinha, sobretudo contra si próprio, chegara a cortar um pedaço da sua orelha esquerda, que depois enviou, embrulhada em papel de jornal, a uma prostituta sua amiga.
Em todos os outros momentos, a sua vida pautou-se por uma intensidade inquieta que dele se apoderava.
A obra visual, fruto de uma curta, mas fulgurante, carreira artística de menos de 10 anos, entre 1880 e 1890, deve ter atingido cerca de 2500 trabalhos, a grande maioria dos quais foi preservada.

Se, enquanto viveu, apenas conseguiu vender um quadro (O Vinhedo Vermelho), hoje as suas obras são valiosíssimas e originam filas intermináveis nos museus e exposições onde são expostas.
Os estilos de pintura acompanhavam as suas mudanças de espírito, indo desde os pontilhados às pequenas pinceladas e, depois, às curvas espiraladas, frequentemente ao contragosto da expressão artística da época.
As suas últimas palavras, dirigidas ao irmão Theo, companheiro exemplar, “A tristeza durará para sempre”, traduzem a instabilidade de quem, embora raramente se tenha demonstrado alegre, também nuca tenha chegado a perder o sentido de humor e rematam a vida difícil dum homem que trouxe tanta beleza ao mundo e se deixou levar para outra dimensão no dia 29 de Julho de 1890.


24 julho 2008

A ideia foi lançada uns dias antes: "Gostava de fazer um pic-nic"- disse a minha mãe, quando indaguei acerca da data do seu aniversário.
Chegou a véspera e liguei-lhe: "Vou às compras. O que é que trago para o pic-nic?"
Hesitou. Voltou atrás. "Ah, estive a pensar... sabes, somos poucos, se calhar vamos comer a um restaurante qualquer, não há-de ser uma grande despesa..."
Percebi que quem falava era a falta de iniciativa, que encarnara a minha mãe.
Pressenti que a vontade não se fora embora, apenas não estava a fim de preparativos.
Não retorqui.
Fiz as compras, confeccionei umas coisas apropriadas para a ocasião, preparei o que seria necessário: mala térmica, comida, fruta e bolo, sumos e água. Não esqueci o foguete para coroar o bolo.
No próprio dia, lá fomos, rumo à serra de Sintra, a minha mãe bem-disposta, os miúdos eufóricos.
Encontrámos um bonito recanto da serra de Sintra, onde assentámos arraiais, numa mesa de madeira junto a uma pequena cascata.

Éramos seis, mas fizemos a festa.
No regresso, ainda parámos no centro de Sintra. Uma visita que o meu filho julgou imprescindível à exposição de piratas, um travesseiro para o lanche.

No final do dia, todos fizemos o mesmo balanço. Positivo, claro!

18 julho 2008

Parabéns, Sr Mandela!

(imagens do site da Fundação Mandela)

É a primeira imagem que me ocorre quando se fala de heróis.

Nélson Mandela completa hoje 90 anos de uma vida totalmente consagrada à afirmação da dignidade humana e à luta contra a opressão racial na África do Sul.
Uma vida de luta contra as contrariedades, motivada pela esperança e pelo espírito combativo que, finalmente, o conduziu ao Prémio Nobel da Paz e à presidência do seu país.
Em homenagem a este lutador incansável, deixo as suas próprias frases, extraídas da obra autobiográfica Longo Caminho para a Liberdade:
“Eu não nasci com fome de liberdade. Nasci livre- livre de todas as formas minhas conhecidas. Livre para correr pelos campos perto da cabana da minha mãe, livre para nadar no ribeiro claro que atravessava a vila, livre para assar milho sob as estrelas e montar na garupa larga de toiros vagarosos. Enquanto obedecesse ao meu pai e respeitasse os costumes da minha tribo, não me incomodava com as leis do homem ou de Deus.
Foi só quando comecei a aperceber-me que a minha liberdade de criança era uma ilusão, quando descobri, como jovem, que a minha liberdade já me fora tirada, que comecei a ansiar por ela. (…)
Mas, então, comecei lentamente a ver que não só não era livre, mas também os meus irmãos e as minhas irmãs não o eram. Vi que não era só a minha liberdade que era limitada, mas a liberdade de todos os que se pareciam comigo. Foi quando me inscrevi no Congresso Nacional Africano e foi quando a minha grande fome de liberdade para mim próprio se transformou na maior sede de liberdade para o meu povo. Foi este desejo de que o meu povo tivesse a liberdade de viver a sua vida com dignidade e auto-respeito que motivou a minha vida, que transformou um jovem assustadiço numa pessoa audaz, que levou um advogado respeitador da lei a transformar-se num criminoso, que fez de um marido amigo da família um homem sem lar, que forçou um homem que amava a vida a viver como um monge. Eu não sou nem mais virtuoso, nem mais abnegado do que qualquer outra pessoa, mas descobri que não conseguia nem sequer desfrutar das liberdades mesquinhas e limitadas que me eram permitidas, sabendo que o meu povo não era livre. A liberdade é indivisível. (…)
Foi durante esses longos anos solitários que a minha fome de liberdade para o meu povo se transformou na fome de liberdade para todos os povos, brancos e negros. (…)
A verdade é que não somos ainda livres; alcançámos apenas a liberdade de sermos livres, o direito a não sermos oprimidos. Não demos o último passo da nossa viagem, mas sim o primeiro de uma estrada ainda mais comprida e difícil. Pois ser livre não é somente arredar as correntes, mas viver de uma forma que respeite e realce a liberdade dos outros. O verdadeiro teste da nossa dedicação à liberdade está a começar.
Percorri esse longo caminho para a liberdade. Tentei não fraquejar; dei passos errados ao longo do percurso. Mas descobri o segredo: que, depois de escalar uma grande montanha, apenas se descobre que há muitas mais montanhas para subir. Parei aqui um pouco para descansar, para deitar uma olhada à vista maravilhosa que me rodeia, para olhar para a distância, de onde vim. Mas posso descansar somente por um momento, porque com a liberdade vêm as responsabilidades- e não me atrevo a demorar-me, pois a minha caminhada ainda não terminou.”

14 julho 2008

Da França para o Mundo

(foto retirada da net)


A Europa do séc. XVIII via questionados o poder absoluto dos reis e as ordens privilegiadas.
Em França, o panorama absolutista de uma sociedade estratificada dabatia-se com a difusão dos ideais iluministas pelo terceiro estado, a par de de uma burguesia em ascensão que se afirmava economicamente. Tudo isto emoldurado pela crise económica e financeira e agravado pelas guerras recentes em que a França se envolvera, a dos Sete Anos e a da Independência dos EUA.
A tensão social iria desencadear a Revolução Francesa.
A Convocação dos Estados Gerais resultou no "juramento do jogo de péla", em que os representantes do terceiro estado se comprometeram a não se separarem enqunto a França não tivesse uma Constituição.
Na segunda fase da Revolução Francesa, a da Assembleia Nacional Constituinte, elaborar-se-ia essa Constituição, que alteraria todo o aspecto político e social do país. O clima de insurreição teria como rastilho adicioanal para o levantamento o aumento do preço do pão, essencial na alimentação dos franceses. Esta fase culminou na tomada da prisão da Bastilha, no dia 14 de Julho de 1789.
No período designado por Assembleia Legislativa, os jacobinos apoderam-se do governo, abolindo a monarquia e dando origem à primeira república.
De seguida, durante a fase da Convenção e Terror, é instaurado um regime de terror conducente à morte de Luis XVI e, posteriormente, da rainha Maria Antonieta, bem como de milhares de franceses, desde nobres a cientistas (como Lavoisier), poetas, girondinos e mesmo os líderes da Convençaõ (Robespierre e Danton).
Proibia-se o culto cristão, instituindo-se como religião oficial o poder da Razão.
Porém, a burguesia consegue recuperar o poder e dissolver a Convenção. Durante o Directório, cria uma nova Constituição, embora o sufrágio continue a ser censitário, como lhe convinha.
Um golpe de estado, liderado pelo general Napoleão Bonaparte, fará cair, em Novembro de 1799, o Directório, iniciando um novo governo, o Consulado, iniciando-se o Império Napoleónico, que duraria apenas dez anos.
A Revolução Francesa deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade"- expressão da autoria de Jean-Jacques Rousseau- e conduziu à Declaração do Direitos do Homem e do Cidadão.

13 julho 2008

Pequeno excerto #1

(fotograma de filme com mais de cinco décadas)



Seiscentos quilómetros de estradas más. África do meio do século vinte. Uma aventura, viajar. Pontes móveis ligavam margens de rios e ribeiros, velozes. Ravinas sucediam-se numa sabotagem infinita dos trilhos do percurso. Planícies escaldantes, paisagens de sonho, variadas. Vontade de parar, reter na memória cada ínfimo pedacinho. Ou ficar ali, simplesmente, entregue à beleza de um quadro onde apetece criar raízes.
(as minhas ausências prendem-se com as viagens imaginárias que empreendo por estas bandas, num tempo que não foi o meu...)

09 julho 2008

Nunca é tarde para enaltecer

(foto minha)

A praia, pontilhada de grupos de crianças das escolas das redondezas e de avós com e sem netos, despedia-se deles, na hora em que o calor começaria a pesar.
Iam agora subindo a rampa de acesso ao estacionamento, de costas viradas para os tons calmos de azul e verde com que o mar enaltecia o dia.
Peles bronzeadas e camisas brancas, o casal ostentava a doçura serena de quem já viveu muitas décadas e aprendeu a valorizar cada pormenor.
Em passadas lentas, mas vigorosas, afastavam-se da paisagem estival.
Até que ele estugou o passo, apressando-se a atingir um ponto mais elevado, de onde pudesse abarcar, no écrã da câmara digital, a panorâmica que se estendia no seu rasto.
Ela não tardou em traçar-lhe o perfil:
- Davas um excelente fotógrafo artístico, tu, com a tua atenção sempre virada para as paisagens e para as coisas bonitas.
Ele não perdeu tempo a ripostar:
- E tu davas uma excelente modelo.


A cena, se tivesse sido imaginada por mim e escrita aqui, faria com que pensassem que me deu para a vertente delicodoce.
Mas desenganem-se: este casal, na casa dos setenta, talvez próximo dos oitenta, existe, a cena desenrolou-se junto a mim, originando um sorriso com os olhos e com a alma, salve a piroseira desta expressão. Mas quando se trata de amor, alguma piroseira é consentida...

06 julho 2008

Hoje foi um dia especial.
Recordei um passado não vivido, ao lado de alguém que não conhecia.
E foi emocionante. E mágico.

Porque a magia, como todos sabem, somos nós que a inventamos.
Sentindo-a.

03 julho 2008

Lince-ibérico: o felino mais ameaçado no Mundo

O meu filho adora ver os programas do Odisseia sobre a vida animal. Até eu, que não perco, normalmente, tempo a ver televisão, se me deparo com estes documentários, não consigo descolar do ecrã.

Ontem, enquanto prestávamos atenção a um destes programas, dei por mim a falar-lhe da campanha que, em miúda, costumava ver nos combóios, pela defesa e preservação do lince da Serra da Malcata.
Na altura, o cartaz, que surge aqui no início do post, nem me cativava. Confesso que aquele ar de poucos amigos do bicho não me inspirava grande empatia. O que me tocou foi o facto de o animal se encontra em vias de extinção. Normalmente, em crianças somos sensíveis a questões do foro ecológico, às vezes com maior interesse do que os adultos.

Referi ao Vasco esta campanha e disse-lhe que depois lhe mostraria as fotografias do animal.
Eu sou assim; adoro histórias, lamento que as memórias se percam de uma geração para outra. Quem me conhece, sabe o quanto sou capaz de investir na investigação e no revivar de memórias.
A juntar a isto, a minha paixão por felinos lançou-me na pesquisa de artigos na internet acerca deste lindo gatinho, quase inexistente na Península Ibérica.

Fiquei a saber que em todo o mundo existem apenas 4 espécies de linces. O ibérico é um deles.
Há duzentos anos, estava presente em quase toda a península, e em algumas áreas do Sul de França.
Contudo, desde meados do século XIX, as populações deste felino começaram a diminuir, em resultado da acção do Homem e das alterações no habitat.
Apenas 2 ou 3 agregados populacionais poderão ser considerados viáveis a longo termo.
O lince-ibérico selecciona habitats de características mediterrânicas, como bosques, matagais e matos densos.

A sua alimentação é constituída por coelhos, mas, se estes lhe faltam, opta por consumir veados, ratos, patos, perdizes, lagartos, etc.
Trepador exímio, este felino é um animal nocturno por excelência. Cioso do seu território, um macho normalmente não partilha o seu espaço com outros machos, mas não se oporá a fazê-lo com uma ou diversas fêmeas.
Acasalam nos primeiros três meses do ano, tendo a gestação uma durabilidade entre 63 e 74 dias. O mais comum é nascerem 2 crias, mas o número varia entre 1 e 4, sendo que neste caso as lutas por comida acabam por condenar à morte os mais fracos, salvando-se apenas um ou dois. Ao fim de um ano de cuidados maternos, autonomizam-se e deixam o grupo familiar.

As ameaças à sobrevivência desta espécie são o desaparecimento gradual de populações de coelhos bravos, a pneumonia hemorrágica viral (que acabou por infectar os próprios coelhos, também), as armadilhas para caçar estes roedores, a destruição dos habitats mediterrânicos, os atropelamentos e, para vergonha dos homens, a caça ilegal…
Estima-se que, em todo o mundo, não existam mais de 150 indivíduos desta espécie. Em Portugal, está «virtualmente extinta», de acordo com a Quercus.

Um programa de reprodução em cativeiro está a ser desenvolvido em Espanha, onde existem já três centros de reprodução. Para tal, linces que estejam em subpopulações inviáveis terão que ser capturados. Em Setembro entrará em funcionamento um quarto centro, na Extremadura. Estes centros têm por objectivo não só a recolha de animais feridos e crias abandonadas, e a criação em cativeiro, com o objectivo de libertar posteriormente os indivíduos, mas também a salvaguarda da diversidade genética da espécie e o estudo da biologia e ecologia do lince, bem como as doenças que o afectam.

Por cá, o primeiro centro de reprodução de lince-ibérico deverá começar a funcionar no início de 2009. O centro será construído em Silves e resulta de um acordo de cooperação entre Portugal e Espanha. Pretende-se recuperar os habitats para poder reintroduzir o lince em quatro pontos da Rede Natura, como é o caso da Serra da Malcata, lá para 2011.
E agora, digam lá: não vale a pena desesnvolver todas as iniciativas de preservação destes "gatinhos"? Basta olhar para a foto abaixo, de três exemplares nascidos já em cativeiro, para não hesitar na resposta...

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