16 agosto 2017


Há 4 anos, partiu a minha tia mais próxima
Fui reler o que escrevi em 2013. O mesmo sentir, quatro anos depois. Por isso, publico esse meu texto, com as devidas adaptações no que respeita ao tempo:
"Afaguei-te o rosto pela última vez. A vida despedira-se de ti minutos antes. Eu soube que ficarias sempre presente em nós.
Quando o senhor da funerária perguntou se queríamos um epitáfio a acompanhar as flores no estilo habitual, de eterna saudade, respondi de imediato que não. Que queríamos “estarás sempre presente”.
A despedida foi como eu gostaria que fosse. Com toda a família, os antigos vizinhos e os novos. Amigos e conhecidos elogiando-te.
Ontem, sozinha à noite, permiti-me a dor, ao percorrer fotografias de viagens. Impressionante, como algumas retratam grupos em que a maioria dos fotografados já viajou para o plano infinito…
A nossa ligação foi cúmplice e marcante.
Recordo-me de me incitares a enfrentar os meus medos quando era criança.
De acordarmos cedo para irmos para a quinta da Azambuja.
De viajar contigo até Ceuta e Tetouan aos 13 anos. A Benidorm no ano seguinte.
De me deixares treinar a condução a partir dos 14 anos, com o teu Micra.
Lembro-me de, poucos anos depois, me zangar quando deixaste a dentadura no meu copo dos dentes numa das viagens à ex-URSS. Das caminhadas e das subidas às montanhas na Sibéria.
De ir esperar-te ao aeroporto em 2002, eu muito grávida do Vasco. Tu viajando de maca, com o colo do fémur fracturado. Uma viagem em que passaste a maior parte do tempo num hospital. Não saíste com os restantes passageiros. De repente, apercebi-me de uma ambulância que arrancava da zona das chegadas. Desatei a correr na sua direcção, com aquela barriga grande à frente. Gritei. Consegui dar nas vistas. A ambulância parou. Só te levou para o hospital depois de eu te acarinhar.
Nos dias de Natal, eras tu quem tratava do peru. Eu fazia o bacalhau, a minha mãe o pudim. 
Não tiveste filhos. Foste presença constante nos primeiros anos de vida dos meus, como na minha infância.
Agora, suponho que estejas mais próxima de outros espíritos que acompanham a minha história. Sinto-os como se os visse, num relance por cima do ombro.
Estarás sempre presente."

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