26 maio 2009

Há dois anos foi assim

Ainda bem que aqui estás. Senta-te aqui, junto a mim.
Tenta não me julgar.
Hoje, só nós.
Conversemos. Há tanto tempo que adiamos esta conversa...
Com um café estaremos melhor. Trago dois da cozinha e um pratinho com bolachas. O aroma do café traz-me uma sensação de reconforto e bem-estar quase incomparável.
Podemos ficar horas, tens todo o tempo para mim? Excelente! É que estou em cacos, e os cacos levam muito tempo a juntar. E, já se sabe, nunca ficam 100% como antes.
Estou assim, carente de tudo. Considera-me a planta mais sensível da tua estufa. Enche-me de atenções. Ouve, diz, pergunta, conta. Segura-me bem. Transporta-me cuidadosamente, leva-me para um porto de abrigo secreto. Envolve-me em atenções.
Senta-te ao piano e toca para mim. Lê-me um poema; melhor: escreve um poema para mim.
Ajeita-me a melena que teima em vir para a cara, redescobre alguma da minha beleza desvanecida. Segura-me na mão, ri-te comigo, traz à memória velhas histórias de infância.
Reassegura-me que gostas de mim mesmo nas fases obscuras, oferece-me um elogio.
Preciso de sentir-te parte do meu universo. Não basta saber, é necessário sentir. Mostra-me que és um bocadinho meu, que há coisas que ninguém nos pode tirar. E, desta vez, perdoa-me a lamechice; alimenta-a, peço-te. Faz-me a transfusão emocional, vital nesta fase.
Porque é de abraços que preciso, e de surpresas, e de uma festa-surpresa. É urgente redescobrir a vida e tu podes ajudar-me. Traz-me um desenho teu, ou um recorte de jornal. Eu dou-te, em troca, um livro, um postal.
Fica. Rebola-te a rir. Ou a chorar. A sentir esta breve passagem (hoje estou com umas saídas pirosas- dá-me um desconto...). Prepara-me um jantar à luz de velas. Vamos saborear a meias o gelado, directamente da embalagem. Deixa-me aninhar em ti e massaja-me a garganta, a ver se o aperto vai embora.
Faz tábua rasa de todas as situações em que possa ter-te desiludido. Eu assim o farei também. Faz-me companhia na insónia.
E vamos ficar estáticos na alegria do momento.
Com alguma arte, talvez consigamos esticá-lo no tempo...

12 comentários:

Anónimo disse...

Feliz anivervário. É tão bom ter uma data para comemorar o que quer que seja. Evocar uma traição ´no "blogobairro" é uma atitude "sensata". Quem trai também é traído.
Cumprimentos de um leitor de longa data e muito assíduo.
plm

Maria disse...

Abraço-te, só.
Porque não sei dar massagens na garganta... vou aprender e, quem sabe, um dia destes...

Beijos

Alex disse...

Um dos textos mais ternos que já li, apetece-me "pegar" nele, abraçá-lo, senti-lo, sorrir e deixar que a ternura me invada (a tua inspiração é sempre tão saudável, tão sincera, tão à flor da pele), tão sentida.

És uma pessoa muito especial, tens sido uma pessoa muito especial na minha vida, tens o dom de me conseguir enternecer, de me fazeres pensar nas coisas essenciais da vida. Obrigada por isso.


Tu sabes que já te "desviei" alguns dos melhores textos que tenho lido de ti. Este vai ser outro ...


Um beijinho enorme.
Alexandra

Elvira Carvalho disse...

Um texto muito bonito.
Cheio de sensibilidade, angústia, ternura. Não sei se já o tinha lido, mas talvez não. Um texto destes não se esquece facilmente.
Um abraço grande.

São disse...

Hoje apetecia-me chamar-te pelo teu nome real, porque só assim chegaria mais perto do teu coração e te poderia dizer que este foi um dos textos mais lindos que já li na net.


Que a cumplicidade se mantenha sempre entre vós!

O meu abraço, bem sentido!

Carminda Pinho disse...

Amiga,
esta tua prosa, leva-me a uma realidade que...
Faltam-me as palavras, mas sempre te digo que adorei este post.

Beijos e abraços.
Obrigada.

Vera disse...

Fantástico ;)
A história poderia ser real e ter acontecido com qualquer um de nós, porque qualquer um de nós tem momentos em que a fraqueza é insuportável, em que a necessidade de protecção é um grito que encravado na garganta precisa mesmo de alguém que o ajude a soltar-se. Não são estas fraquezas que destroem seja o que fôr. São estas fraquezas que nos dão o sinal de que precisamos para iniciar as mudanças que adiamos.
Força Filoxera :-)

Carla disse...

LINDO. SIMPLESMENTE.

Anónimo disse...

depois de ler este post, fiquei com um nozinho na garganta.

Louro disse...

QUERIDA AMIGA, ADOREI CONHECER O SEU BLOGUE, OS MEUS PARABENS PELO BELO TEXTO APESAR DE TRISTE... FIQUE NA PAZ DE DEUS... UM BEIJO DE CARINHO E RESPEITO,
LOURENÇO

Maria disse...

Olá Filoxera:
Este é só para responder ao seu comentário no meu "O que os meus olhos viram", não é pato não, é uma ave que é muito estranha, leva horas assim, mas ao perguntar ao guarda do Parque como se chemava, ouvi logo três nomes e pareceu-me que não ficaria por ali.
Odiei aquela ave, salvo seja, pois mostra falta de vida, e como a preguiça pendurada numa árvore, ela ainda faz mais... escolhe aquela posição e é capaz de levar um dia assim.
Os estranhos "motivos" que a Natureza nos oferece!... e são tantos!
Vou dar notícias...
Até lá bjs

Pitanga Doce disse...

Ainda havia o que dizer.

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