OS RIOS ATÓNITOS (Ouvindo "Kongo", por Miriam Makeba)
Há palavras a dormir sobre o seu largo
assombro
Por exemplo, se dizes
Quanza ou dizes Congo
é como se houvesse pronunciado os próprios
rios
Ou seja, as águas
pesadas de lama, os peixes todos e os perigos
inumeráveis
O musgo das margens, o escuro
mistério em movimento.
Dizes Quanza ou dizes Congo e um rio corre
Lento
em tua boca.
Dizes Quanza
e o ar se preenche de perfumes perplexos.
E dizes Congo
e onde o dizes há grandes aves
e súbitos sons redondos e convexos.
E dizes Quanza, ou dizes Congo
e sempre que o dizes acorda em torno
um turbilhão de águas:
a vida, em seu inteiro e infinito assombro
José Eduardo Agualusa
9 comentários:
Quem não souber o que me prende a estas águas, a estas terras diamantíferas vermelhas, poderá ter um vislumbre nos textos arquivados nas etiquetas em "Minhas Histórias".
Nasceste em Angola?
Este poema trouxe-me imensas saudades do rio Zaire, em cuja foz eu vivi durante um tempo feliz da minha vida... Descreve-o na perfeição.
Vou seguir o seu conselho. Nada me liga a Angola, a não seer o imaginário e uma vontade recente que cresce de lá ir desde há alguns meses.
Filoxera,
Um belíssimo poema do Agualusa que, não há muito tempo também publiquei. Já vi que tu, como eu, precisas de respirar a nossa África, de saborear as palavras que lá deixàmos, os sabores e os cheiros que trazemos, apesar de tudo, no nosso subconsciente.
Um abraço com cheiro a terra quente e molhada
Um belo poema. Não conheço de Angola, mais do que a cidade Luanda, único sítio onde vivi. O resto só de imagens. Meu marido esteve no Luso e no Lungué-Bungo, mas eu só conheço mesmo Luanda. E gostaria imenso de voltar a revê-la.
Um abraço e boa semana
Olá, belo poema...Espectacular...
Beijos
Tens parte do teu coração lá... lá naquele local mágico... deixa lá ficar esse pedaço do coração...
E de longe, se faz perto...
É só imaginar, imaginar...
Beijos, Filoxera.
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