Brincámos juntos desde sempre.
Na minha casa, na dele em Cascais, no hotel que o meu padrinho dirigia no Algarve, em qualquer parque ou restaurante onde os compadres (os meus pais e os seus) resolvessem parar.
Apanhávamos flores, trocávamos partidas e mimos, fazíamos brincadeiras cúmplices como só os mais inocentes sabem fazer.
Apanhávamos flores, trocávamos partidas e mimos, fazíamos brincadeiras cúmplices como só os mais inocentes sabem fazer.
Ele, cabelos louros e olhos azuis, eu no tradicional castanho, saltitando ou caminhando de mão dada. Juntos, tanto podíamos ser anjos como pequenos diabinhos. Os castigos que lhe infligiam, também eu os sentia, as minhas ausências traduziam-se em saudades suas.
Um dia, o meu amigo de sempre, o meu amigo de casa e de férias, o meu companheiro de sempre adoeceu.
Eu visitava-o, primeiro em casa, onde lhe lia histórias e lhe dava doces às escondidas. Depois, no hospital. Com uma máscara que nos descaracterizava. Ele sem forças, branco e de feições alteradas, eu com a secreta esperança que tudo passasse e um dia voltasse a ser como antes. Como sempre tinha sido até então. Disparates, risadas, castigos e novamente brincadeira.
Mas não foi.
Mas não foi.
Lembro-me da minha mãe, a tentar explicar-me que poderia perder o meu amigo, nunca mais o ver. Recordo-me das minhas perguntas. Das minhas exigências: queria a verdade.
99% de probabilidade de não resistir.
“O que é 99%, mãe?”
99% de probabilidade de não resistir.
“O que é 99%, mãe?”
Aguardava um transplante de medula óssea, que lhe seria dada pela irmã. Coisa que, então, se fazia em Londres. Não compareceu à data, pois o seu coraçãozinho parou antes.
Morreu com leucemia faz hoje vinte e sete anos. Faria dez anos daí a menos de um mês.
Morreu com leucemia faz hoje vinte e sete anos. Faria dez anos daí a menos de um mês.
Chamava-se Vasco.
Hoje, este é o nome do meu filho.
18 comentários:
Um abraço apertado e saio daqui a fugir...
(desculpa)
Tristes estes aniversários.
Deviam até ter outro nome.
Uma coisa que eu já sabia mas que este post só veio confirmar: a tua fidelidade às amizades e o valor que lhes dás.
Um abraço apertadinho, amiga
Os amigos nunca esqueçem...
Beijos
É muito triste amiga. É sempre, mas numa criança é-o muito mais. Sabe que aquele conto vidas trocadas foi escrito por causa de um amiguinho que morreu de Leucemia. O Felipe, tinha 20 anos quando descobriu. Durante um ano lutou com todas as forças contra a doença. Finalmente no final de Junho fez o transplante, e em Julho estava todo feliz, porque o médico lhe disse que estava curado. Morreu 20 dias depois com um virus qualquer que apanhou provavelmente no hospital, a que o corpo demasiado debilitado não foi capaz de resistir. Tinha completado 21 anos há 5 dias.
Um abraço e uma boa semana
Nem sei o que dizer e acho mesmo que o melhor é sair daqui em silêncio.
Um abraço amigo
António
dorido este momento que a memória nunca esquecerá
deixo um beijo e um carinho
Espero que, nesta altura, estas recordações apenas te tragam saudades e não te façam sofrer;
Vasco é um nome que gosto: tenho 4 na minha vida. :D
E uma amizade que foi ceifada cedo, pelos vistos perdurou.
De certeza que o Vasco adoraria a tua homenagem.
Filoxera,
Um dia destes irá ler a minha homenagem a um Carlitos que conheci.
Ainda não tive coragem de a publicar.
Um beijinho grande
Que bela homenagem ao Vasco. Saio com um brilhozinho nos olhos.
Também o meu filho tem o nome de uma pessoa muito importante na minha vida que morreu assim de repente, quando eu era ainda tão novinha... Não foi de doença, foi de um acidente estúpido.
Vivem para sempre na nossa memória.
É como te dizia hoje ao telefone a propósito do meu pequenino - há coisas bem piores !
Beijinhos
Querida Amiga, linda amizade, final triste Amiga, saio com o coração magoado...Beijinhos de carinho,
Fernandinha
Teve sorte o meu rapaz que tem uma amizade assim com a prima desde de 87, quando ele tinha dois anos e ela tres. E um mar imenso a separá-los.
Quanto a ti, o trarás sempre no coração e abençoarás cada dia que passaram juntos.
beijos de carinho
Puxa, punhas o polegar na boca como faz o meu sobrinho de 3 anos, heheheh!!!!
Memórias de um tempo que ficou e que vale uma vida!!!
Filoxera:
De saudade eu entendo e sei de cor. Há poucos dias escrevi o meu primeiro blog, há pouco tempo navego, só hoje conheci o seu blog, mas gostei dos sentimentos que dele exalam. Quando quiser me visite vamos trocar sobre sentimentos.
Abraços. Stella Tavares
http://manualdoinseguro.blogspot.com/
Filoxera, cheguei aqui hoje pela mão da Si e gostei muito. Reconheço "o lugar onde pertenço" como sendo também o meu lugar.
Gostei desta homenagem.
Bjs
Puxa!!!! És tramada, vou deixar de cá vir, com estes textos saio de cá a chorar.
Tou a brincar, claro!
Lamento imenso o que aconteceu ao teu amigo.
Nunca se esquece uma amizade. Uma amiga minha de infância também faleceu com 31 anos de repente e 2 meses após se ter casado. Ainda hoje lamento não lhe ter dito algumas coisas que gostava de ter feito.
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