22 abril 2015

21 de Abril


Quando telemóvel tocou, tinha um filho de três anos e meio junto de mim e uma filha com quase oito meses de gestação no meu interior.
A notícia não era boa.
Foi há nove anos e as circunstâncias, como de costume, não ajudavam.

Tive dez anos para me habituar a uma doença que nunca aceitei. 
Feitas as contas, perdi o meu pai há dezanove.
Mas consegui apaziguar a saudade.
Aprendi a viver com olhos de ver bonito. Como os seus.
Não conheci mais ninguém para quem a felicidade parecia renascer, todos os anos, no dia em que as andorinhas regressavam aos nossos beirais, procurando a Primavera.
Nem que fizesse do acender do cigarro um ritual incandescente, com início numa lupa exposta ao Sol.
O meu pai e eu tínhamos sorrisos próprios, olhares codificados, uma dança exclusiva, “bocas” e disputas dum repertório só nosso.
É tudo isso que hoje recordo. Para ver se reponho a asa num espírito desasado. O meu, desde que ele voou para outro plano.

(Ontem, tinha eu acabado de publicar este texto noutro espaço, tocou o telemóvel. Nove anos depois, a notícia voltou a não ser boa.
A minha mãe sofreu nova queda grave. Novo hematoma sub-dural.
Um dia de cada vez. E ela mais fragilizada...)

1 comentário:

Rogério G.V. Pereira disse...

Esqueça a data
O destino não se rege
por calendários
nem há dia azarados

solidário com a tua memória

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