Soube há momentos da morte da minha amiga de maior idade.
A Dulce era uma doce senhora. Olhos azuis intemporais e sorridentes, alma de poeta, idade de muito saber e de muito aprender.
A Dulce era uma doce senhora. Olhos azuis intemporais e sorridentes, alma de poeta, idade de muito saber e de muito aprender.
Nasceu há mas de noventa
anos, no Alentejo interior, onde as meninas educadas em moldes rústicos não
estudavam muito. Descobriu aquele sabor especial dos livros e apaixonou-se por
eles, como pelas planícies alentejanas.
Os estudos não puderam
prolongar-se, mas a imaginação e a determinação impuseram-se. Escreveu muito.
Sobretudo contos e quadras de amor à terra. Ainda o fazia, num jornal
alentejano local.
Revolucionária sem se
aperceber, contrariou as mentalidades bolorentas das suas origens quando, já
passados os oitenta anos, “juntou os trapinhos” com um senhor um pouco mais
novo.
Perdeu-o contra o tempo,
que estava contado para ele.
Estou a vê-la levantar-se
no lançamento do meu livro e eu a lacrimejar ouvindo um poema pela sua voz. O seu sorriso gaiato...
No Verão passado, perdeu
uma das amigas de mais longa data, a minha tia.
Era Agosto e as lágrimas
reforçavam as palavras com que despediu dela, junto ao caixão. Ali recordou
tanto, daquela amizade com mais de oito décadas, numa dolorosa despedida que
ainda acentuou a tristeza de todos quanto estávamos presentes.
Agora, tenho mais alguém
a quem recordar com saudade. E com orgulho.
E lágrimas.
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