Tivemos pouco tempo para rirmos juntos.
Trinta e três anos são escassos, sobretudo quando não sei se
nos últimos cinco saberias sempre quem eu era.
São pouco tempo quando se trata dum pai e duma filha.
Quando há um orgulho mútuo, uma cumplicidade que dispensava
palavras.
Farias hoje anos. No mês da liberdade. No mês que seria teu
até pela data da morte.
São dias de fortes memórias, estes. Entre hoje e vinte e
dois.
Continuas a fazer-me companhia. Estás presente na educação
que transmito aos meus filhos, nos livros que completam a minha casa, nas
recordações das viagens, no meu amor à tua terra natal, o Porto.
Juro que ainda sinto os aromas dos teus perfumes, o cheiro
dos tabacos, ouço-te a voz e vejo a tua expressão que mais me marcou.
A celebração do 17 de Abril é menos festiva, mas o seu
significado permanece.
Adoraria ter tido mais tempo. Seria emocionante ver-te
conviver com os meus filhos, falarmos sobre certas fases desta viagem, poder
transmitir-te mais algumas ideias, como fizeste comigo.
Não nos foi possível.
Abraço-te nesse plano da utopia, onde agora estás.
E segredo-te “parabéns, pai!” por tudo o que a tua vida
significou para mim, pelo exemplo que foste. Por esta herança que nenhuma
fortuna poderia ter valido.
(P.S: Perdi o meu par quando deixaste de poder fazer “a
nossa dança”, mas o teu neto faz-me agora companhia nessa nossa patetice :-) )
2 comentários:
A partida do pai, ou da mãe, nunca é completamente ultrapassada.
Por isso, temos que fazer como se eles estivessem presentes na nossa vida e nos vissem. E se calhar até acontece mesmo isso... sei lá.
Um texto muito bonito, cheio de amor. Gostei muito.
Minha querida amiga, tem uma boa Páscoa.
Beijo.
Enviar um comentário