Olhando para cima, reparando em cada pessoa que saía, não
largou a entrada do prédio onde vivemos.
Tinha olhos de meiguice castanha clara, perscrutava cada
esquina, cada movimento, todos os abrires e fechares de porta. De início, ainda
pensei que se tinha tomado de simpatia por nós. A ideia agradou-me, como me
cativara há meses a ternura dum gato que nos chamava para se rebolar entre
carinhos. Depois, caí na realidade e apercebi-me que esta era mais dura. O cão
estava de sentinela, convicto de esperar alguém. Fiel à última imagem de alguém
que o deixou para trás? Romântico, perseguindo a sua amada? Perdido e confuso
acerca do edifício onde procurar o dono?
Por aqui andou, sempre de olho na entrada do prédio. Não trazia
número de contacto na coleira. Afastou-se quando tentei fotografá-lo.
De esperança e ternura se fez a sua tarde.
Tomara que a ternura e a esperança sejam recompensadas,
nesta vida de cão.
1 comentário:
Oxalá encontre o seu lar. tenho tanta pena dos animais abandonados.
Um abraço
Enviar um comentário