20 setembro 2016

Vida de cão


(imagem retirada da internet)

Andou por aqui durante toda a tarde.
Olhando para cima, reparando em cada pessoa que saía, não largou a entrada do prédio onde vivemos.
Tinha olhos de meiguice castanha clara, perscrutava cada esquina, cada movimento, todos os abrires e fechares de porta. De início, ainda pensei que se tinha tomado de simpatia por nós. A ideia agradou-me, como me cativara há meses a ternura dum gato que nos chamava para se rebolar entre carinhos. Depois, caí na realidade e apercebi-me que esta era mais dura. O cão estava de sentinela, convicto de esperar alguém. Fiel à última imagem de alguém que o deixou para trás? Romântico, perseguindo a sua amada? Perdido e confuso acerca do edifício onde procurar o dono?
Por aqui andou, sempre de olho na entrada do prédio. Não trazia número de contacto na coleira. Afastou-se quando tentei fotografá-lo.
De esperança e ternura se fez a sua tarde.
Tomara que a ternura e a esperança sejam recompensadas, nesta vida de cão.

1 comentário:

Elvira Carvalho disse...

Oxalá encontre o seu lar. tenho tanta pena dos animais abandonados.
Um abraço

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