04 fevereiro 2014

Ai, as letras!

Tem sete anos e todos dizem que é linda.
Para mim, sua mãe, ela é perfeita.
A luz que emana do seu olhar faz o Sol sentir-se pequenino.
Contagia todos com as suas gargalhadas.
Deixa rasto das suas tropelias onde quer que passe.
Embalagens vazias de maquilhagem inertes num canto, recortes dos seus desenhos colados nos móveis, folhas espalhadas na mesa comprovam a sua criatividade com tinta, cola, missangas, folhas de revistas…
É incapaz de permanecer sentada e sossegada durante uma refeição. Ah! E está fora de questão não comer directamente com as mãos algumas das porções do jantar. O prazer de comer é muito melhor do que com os talheres!
Corre, pula, dança, canta e não se cansa.
Tanto mergulha numa piscina sem pé como escala uma parede bem alta e, superado o desafio, repete a proeza.
Organiza creches com os seus bebés, imagina coreografias que depois me incita a pôr em prática, quer participar nas actividades domésticas que lhe agradam.
Como qualquer criança, esta miúda é um desafio às capacidades de atenção e dedicação da família.
Há apenas alguns momentos que parecem angustiá-la. Acontecem quando as letras lhe pregam partidas. Ou as sílabas trocam de lugares ou lhe fintam a memória. Mesmo sem fechar os olhos, a Mafalda perde, por vezes, as imagens que elas lhe deviam dar.
Com os algarismos, ainda se entende. Mas as letras parecem ainda mais brincalhonas que ela.
Para ver se compreende as armadilhas que elas lhe preparam, a Mafalda começou uma gincana de consultas. Tem uma equipa do seu lado que a vai ajudar a perceber a estratégia das palavras. Sente que não está sozinha. Em casa, a mãe lê as histórias que, um dia, ela poderá decifrar sem ajuda. Na equipa, há médicos, terapeutas e psicólogos que, depois de concluídos os jogos que vão desvendar como funcionam as letras na sua cabeça, lhe revelarão os truques que ela e a professora não podiam descobrir sem as varinhas mágicas emprestadas apenas a algumas crianças, cheias de vivacidade e imaginação.

1 comentário:

Lídia Borges disse...


O importante é que a intervenção seja atempada, como parece ser o caso, e depressa as letras perderão os seus segredos.

Um beijo para a Mafalda. Outro para a mamã.

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