O meu filho adora histórias. Nisso, parece-se com a mãe.
Adormecer sem o ritual da historinha é, para ele, um castigo.
Numa destas noites, voltámos ao tema que ele aprecia, os Descobrimentos. Gosta de aprender o nome dos navegadores, das naus e as rotas percorridas.
E eu aproveito e refresco a memória.
A história era sobre o Infante D. Henrique, o Navegador, precisamente.
Como sempre, à medida que leio, faço tradução simultânea, já que a maioria dos livros não tem uma linguagem muito adequada a crianças de cinco anos.
Comecei por enquadrar o infante no seu meio familiar. Contei-lhe a forma como D. João I e D. Filipa de Lencastre incutiam valores e conhecimentos aos seus filhos, espicaçando-lhes a vontade de aprender. Expliquei-lhe o significado de estes filhos serem conhecidos por "Ínclita Geração".
Continuámos pelo estudo da cosmografia, pela aprendizagem da equitação e pelo manejo da espada. A explicação do que era isso de ser cavaleiro.
Prosseguimos viagem, até Ceuta. Seguiu-se a cerimónia em que D. João I armou cavaleiros os seus filhos.
A seguir, exponho-lhe as ideias expansionistas do Infante D. Henrique, preparando-o para as descobertas que se seguiriam: Porto Santo, Madeira, costa ocidental de África.
Quando me preparo para lhe mostrar onde ficava a Serra Leoa, o meu filho sai-se com:
- Estavam a treinar?
- A treinar o quê, Vasco?
- A ser cavaleiros.
Moral da história: valores económicos, patrióticos ou de expansão da fé cristã não dizem nada a quem ainda usa dentes de leite. De modo que não os vinquei, apenas enfatizei a determinação em descobrir, ir mais longe e vencer medos.
Porém, na cabeça de um menino de cinco anos, nada tem maior importância do que treinar...
Boa dica para próximas histórias: estavam a treinar a navegação e as descobertas.
8 comentários:
Incutir o gosto pelas histórias já é importante. Pela História também o é mas as noções de espaço e de tempo não são fáceis de adquirir. Nem aos oito anos. Continua Amiga a falar com ele, muito, de viagens de sonhos,mas não avances com ventos desfavoráveis.Olha a idade!
Beijinhosss
E treinaram bem.
Tomara que os nossos governantes também treinassem.
Só que tinha que ser muito.
Grande Vasco!
Beijinhos para ti e para ele
Após o regresso de Ceuta, o infante D. Henrique, o Navegador, jamais participou de nenhuma expedição marítima ou descoberta.
No entanto, como sabia tudo de navegação (e ainda mais uns 30%), fixou-se em Sagres, onde criou uma Tercena Naval - mais conhecida como Escola de Sagres, reunindo mestres nas artes e ciências ligadas à navegação. Formou descobridores tais como: Vasco da Gama, Cristóvão Colombo, Gonçalves Zarco, Diogo de Silves, Gil Eanes, dentre outros.
Desenvolveu ali novos métodos de navegar, desenho de novas cartas e adaptação de navios. Foi o responsável-mor pelas descobertas portuguesas. Grande personagem.
Um beijo!
Sophiamar: tento adequar a h(H)istória à idade dele, para não o deixar sem reposta à curiosidade. Mas é como com o xadrês: não quero avançar demasiado, para que não perca o entusiasmo.
Blue: pena que se viva com os olhos postos nas realizações do passado, né?
Oliver: De facto, de Navegador só tinha o cognome. Por acaso, disse ao Vasco que D. Henrique nunca mais se aventurou.
Muitos séculos depois tivemos um senhor, autoritário e déspota qb, que, além de presidente do conselho, chegou a ser ministro dos negócios estrangeiros e nunca pôs um pé fora do país, o "orgulhosamente sós" Salazar.
Deliciosa a história da tua ... história! Ainda por cima fica tudo em aberto como nas histórias de suspense!
Tão bom eles gostarem de histórias e terem mães que as gostam de ler - uma raridade, que fará dos pequenos pessoas melhores e mais felizes! Tenho a certeza!
Parabéns pela mãe e pela pessoa que és!!!
LOL ... Pois treinar eles entendem bem !
Bom dia
Vou entrando e sem mais delongas deixo-lhe parabéns, sobretudo porque conversa com seu filho.
Como lhe lê e lhe conta histórias da nossa história, melhor ainda.
O que mais me agrada é que encontra tempo para dialogar com ele. Isso vai sendo raro nos pais de hoje.
Quanto à resposta dele, se calhar não é tão inocente assim... não é da boca das crianças que sai a verdade?
Um abraço e uma boa semana
António
Treinar !! Essa é boa ! Ele tem cada saída... é o máximo...
A minha filhota também não dispensa a historinha antes de dormir - é um bom hábito, sem dúvida - ouve o que lhe leio, aprende sempre alguma coisa e, ao mesmo tempo, sente que naquele bocadinho é só ela e eu...
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