(Perdoem-me nova incursão no mesmo tema, mas sinto necessidade desta catarse, de quem não pôde fazer um luto em devido tempo. Só depois poderei passar para temas menos confrangedores. Compreendo quem quiser apenas voltar no próximo post)
O telemóvel tocou. Era a minha mãe.
Conversa de circunstância. A minha intuição a dizer-me que era apenas o prelúdio para algo mais sério. Grave.
Instei-a a passar à razão da chamada. Só queria acabar com aquela expectativa.
A notícia veio. Dura e simultânea com uma torrente de lágrimas minhas, a minha mãe a controlar-se como nunca.
A minha mão percorreu o volume redondo da barriga grande, de quase oito meses. O Vasco e a senhora da loja onde nos encontrávamos, aflitos, por me verem perdida no desgosto. Ela oferecendo-me uma cadeira para eu me sentar.
Agora, era definitivo; perderamo-lo para sempre.
Ninguém, nem mesmo quem leva anos e anos face-a-face com a doença, está preparado.
Saímos da loja, trazendo os doces regionais de lembrança para a minha mãe e a minha tia.
O Pedro a ver-me chegar junto dele, desfeita. A perguntar o que acontecera. O Vasco a responder "Foi o avô...".
Ter de explicar a um menino de três anos que o avô se cansara de estar doente e resolvera ir para junto dos seus pais. Tudo isso e muito mais eu revejo com clareza, como se tivesse sido ontem. Todos os momentos desse dia 22 (o hospital não ligou a 21 por ser já tarde) e do dia 23, em que cumprimos a sua últma vontade.
5 comentários:
Venho agradecer , comovida,a solidariedade.
Fiz trezentos quilómetros hoje para estar dois ou três minutos junto à campa que guarda o corpo de meu Pai desde 22 de Abril de 1999...e nada mitiga uma saudade sempre em crescendo.
Abraço-te fraternalmente neste dia , que te é também doloroso.
Bem hajas!
:((
É verdade... nunca se está preparado...
Um beijto para ti neste dia doloroso, mas recordado com grande saudade
Só posso repetir o título do post: Nunca se está preparado...
Um abraço forte
Minha querida,
faz bem desabafar, põe cá para fora tudo o que te atormenta...
Esses são dias que não é fácil esquecer, apenas vão desvanecendo a poder de tempo.
Beijinho para ti e força!
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