Tudo começou com uma tempestade encenada. Muita gente, o
madeirame do palco tonitroante, num azul inquieto. A história parecendo
realidade. O teatro que me entrou no sangue numa disciplina dos tempos de
liceu.
Depois, o improviso levou-nos por estradas onde o Sol parecia
derreter qualquer tipo de vida. Árvores prometendo sombras que logo o avançar
da viagem dissipava. Vilas sucedendo-se num desfile de vaidades justificadas. O
adivinhar de tanto que está por descobrir, num país que tem diversidade
paisagística na razão inversa da sua dimensão reduzida.
O deslumbre pintado de verde e esculpido em xisto. A realidade
imitando os cenários.
Um reencontro onde a conversa tenta condensar o que a distância
ocultou. Vilas históricas onde nos imaginamos medievais, sentimos outros tempos
sob a pele, reacendendo memórias que não vivemos, batalhas que outros travaram
para hoje sejamos o que somos.
O cansaço acumulando-se, a sede acompanhada das chamas que,
bem próximas, consumiam o arvoredo da montanha sagrada. Ali, o combate era
outro; a paisagem trocara o belo pelo inferno. Que a vida também tem disto: a
devastação no mais lindo quadro. O lamento em dias de harmonia extrema.
De quilómetros e de belezas se fazem os momentos que
sobrepõem as nossas vidas. Consolidamos afecto e memórias. Para que, mesmo nos
dias sem história ou nas horas de perda, o espanto de existir volte a
lembrar-nos quem somos. E o muito que vivemos.
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