Chamava-me Filoxera
O Porto o viu nascer
A ordem dos factos é outra
Mas por esta o quero dizer
Lembro o meu pai-herói
Faz dez anos que partiu
Abalara já na garupa
Da memória que lhe fugiu
Era Rui e era Barros
Não jogava futebol
Com uma lupa acendia
Cigarros expostos ao sol
Fez teatro n’Os Modestos
Na juventude do tempo
Escreveu para os jornais
Leitor crítico e atento
Homem sempre de Abril
Desde o berço até à morte
Votou, amou e viveu
Do lado esquerdo da sorte
Dançou quando eu nasci
Q’ um homem também dança
Se contido, mas babado
Ao nascer-lhe uma criança
Chorava as dores alheias
Vivia de punho erguido
Dizia que o povo unido
Jamais seria vencido
Apontava-me os beirais
Na primavera, exultante
Saudando as andorinhas
No regresso triunfante
Ensinou-me a perseverança
A rectidão e a coragem
Mostrou-me, desde criança,
Como viver esta viagem.
1 comentário:
Por teu pai
como se fosse meu
(gostaria que uma filha minha me recordasse assim...)
Enviar um comentário