É com ternura que dá a mão à avó para descer as escadas,
receosa que a avó, cuja vista operada ainda piorou, não veja bem os degraus. A
mesma ternura com que colhe uma flor silvestre para me vir dar ou faz umas
espetadas de fruta, reserva a primeira para o irmão “porque ele ADORA espetadas
de fruta” e ainda leva uma para a professora.
A minha filha é assim. Ternura e rebeldia em doses
generosas.
Parecia não querer criar raízes cá dentro. Quando, com poucas semanas de gestação, era
suposto ouvir-se um coraçãozinho a bater, a eco ainda não revelava nada. Cinco dias
depois, já se ouvia o coração anunciando vida, mas detectava-se um descolamento
de placenta ameaçando-a. E houve ainda segundo descolamento. De modo que a
Mafalda passou boa parte das suas primeiras semanas de gestação num repouso
total que tanto me desgastou, por não ter feitio para estar quietinha.
A situação clínica normalizou mas, perto do final da
gravidez, o luto pelo meu pai fez-me recear o efeito negativo que a perda
pudesse ter na formação duma bebé incapaz de se subtrair aos neurotransmissores.
Cedo concluí que nenhum destes percalços foi marcante para a
minha menina. Ou, se o foi, teve o resultado oposto: ela anda
sempre apressada. Corre, não anda. E feliz, sorridente, extrovertida. Como quem
rejeita as condicionantes em que foi amadurecendo no ventre da mãe.
Ao nascer, assim que a parteira se apercebeu que ela vinha aí, disse-me que ia chamar o obstetra. Quando ambos regressaram, já a Mafalda estava cá fora.
Ao nascer, assim que a parteira se apercebeu que ela vinha aí, disse-me que ia chamar o obstetra. Quando ambos regressaram, já a Mafalda estava cá fora.
Ainda não tinha dois anos quando partiu a cabeça, graças às correrias.
Quem a vê, lourinha, olhos azuis, ar quase angelical, não pressente a força
desta criança que tem tanto de autónoma quanto de quase bebé.
A Mafalda é um furacão. Deixa marcas à passagem. Depois
dela, nada permanece igual. Tatua os corações, enche os ambientes, marca paredes.
O seu espírito criativo tudo impregna com o seu cunho pessoal. Mas é também uma
brisa doce que nos acarinha, nos brinda com o melhor sorriso e faz com que nos
sintamos importantes. É generosa, tanto quanto é linda. Sagaz, tanto quanto
teimosa.
E é a filha mais amada do mundo. Porque é a minha filha. Que
hoje completa sete aninhos.
4 comentários:
É claro que não sei comentar.
Beijos às duas...
Já está uma mocinha. Beijinhos da tia Pitanga.
Há muito tempo que não passava por aqui. Hoje enchi o peito de ar com esta brisa fresca. :) Beijinho.
Textos escritos com a ternura de todas as palavras capazes de se aproximarem do que é indizível...
Filhos incriveis têm mães maravilhosas... só pode!
Um beijinho grande
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