O sonho ameaçava ser adiado.
O telemóvel tocou quando eu me preparava para me dirigir
para a praia, a fim de assistir à 1ª aula de surf do Vasco.
Era ele. A sua voz doce de menino de 9 anos pedia-me que
fosse busca-lo à escola “não fui ao surf. Faltava um papel, que não me
entregaram porque faltava papel na impressora da escola…”, o desalento
estampado no tom em que me relatava o triste imprevisto.
Eu respondi-lhe, em igual dose de desapontamento e de
combatividade “como assim?!? Como é que por falta de papel te deixam na escola
e perdes a aula?”.
Na minha memória, a sucessão de démarches para esclarecer as
questões ligadas ao início do Desporto Escolar, os papeis para casa e para a
escola, a assinatura, as idas à escola, os emails que, na qualidade de representante
dos encarregados de educação, enviei à directora de turma.
Quando cheguei à escola, o meu filho estava à minha espera
junto ao portão e os colegas que também não tinham conseguido ir ao surf já
tinham ido embora.
Consegui localizar o professor de Educação Física, que se
lembrava de ter entregado a ficha de inscrição do Vasco ao professor de surf e
que se demorou em hipóteses para o sucedido, enquanto me garantia que na sexta
o assunto ficaria resolvido.
Eu respondi-lhe que, se estava ali e tudo tinha sido
tratado, não seria na 6ª mas ontem mesmo que s situação se resolveria e que não
se impunham decepções destas aos miúdos em nome duma falha de comunicação ou
duma burocracia secundária. Disse-lhe que levaria o Vasco de imediato para a
praia e falaria com o professor de surf. Aos comentários de que provavelmente
eu o iria encontrar já dentro de água, respondi que até podia esperá-lo na
areia, mas que se o assunto não se resolvesse ontem mesmo eu iria mesmo
aborrecer-me.
Chegados à praia, damos logo de caras com o prof de surf q a
conversa sobre papeis repetiu-se, assim como se repetiu a garantia de que na
sexta tudo seria tratado. Não vou aqui relatar todos os argumentos que
apresentei ao professor. Seria desgastante para os leitores.
O que importa é que o Vasco surfou ontem pela 1ª vez. A ambivalência
entusiasmo/receio que sentiu na areia quando vestia o fato foi vencida, tal
como eu calculava, o miúdo sentiu-se como peixe na água, esteve bem e, quando
regressávamos, ainda me encheu a alma ao exclamar “foi o dia mais feliz da
minha vida!”.
Agradeci ao professor de surf a compreensão e a resolução de
contornar o que quer que estivesse a impedir o sonho do Vasco e sei que o meu
filho registou, uma vez mais, que quando nos batemos pela concretização de um objectivo,
não podemos desistir ao embatermos em obstáculos, sejam eles quantos forem.
4 comentários:
Não se pode desistir à primeira resposta.
E pelos filhos nunca desistimos. Eu até já consegui que uma diretora de uma escola chorasse com os meus argumentos... mas cedeu e eu consegui o que o meu filho tinha direito legal e moral.
É assim mesmo, minha amiga. Gostei de saber que lutas pelo interesse justo dos teus filhos.
Um beijo.
E como uma coisa que nos pode parecer pequena se torna enorme aos olhos de uma criança.
Assim se vai formando a sua personalidade, assim vão aprendendo a lutar pela realização dos sonhos.
Um beijo
Então temos um surfista? Booom!
beijos em dia de chuva.
As grandes lições aprendem-se com coisas pequenas.
Nem que tivesse sido necessário mover uma montanha, haverá lá melhor dia que aquele em que uma criança diz que foi feliz.
Adorei ler este texto. Por todos os motivos!! :-)
Um beijinho muito grande, amiga.
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