25 novembro 2009

Dia Internacional contra a violência contra as mulheres

(foto retirada do site da APAV)

Existem situações que são problemas sociais graves mas que não levam cada um de nós a reflectir sobre elas.

Hoje comemora-se o Dia Internacional Contra a Violência contra as Mulheres. A violência, é importante frisar, não é constituída "apenas" pelo estalo, o encontrão, o pontapé, o empurrão, a violência sexual. Esta é a violência do macho (por vezes com capa de ser social perfeito, bom anfitrião, aparentemente atencioso com mulher e filhos), reiterada, com repetidos pedidos de desculpas que vão sempre redundar num regresso à agressão.

Violência é muito mais abrangente que isso. Pode ser insidiosa; instala-se sem que a vítima se aperceba inicialmente. Primeiro perde-se a comunicação, depois a calma, a seguir o respeito, por fim qualquer limite pode ser ultrapassado. Ou não. Mas ficam as sequelas psicológicas. E, consequentemente, sociais, económicas.

Se os números dos registos da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) têm registado uma tendência de aumento, o projecto europeu DoVE (Domestic Violence against Women/Men in Europe: Prevalence, determinants, effects and policies/practices) frisa que se estima que um terço das mulheres em Portugal tenha sido já vítima de algum tipo de violência doméstica.

Um terço é demasiado! Imaginem quantas pessoas cada um de nós conhecerá que se enquadra nestas estatísticas! E não sabemos… Será que fazemos por saber?

Para quando a conscencialização global? Para quando a denúncia por parte de quem tem conhecimento, já que boa parte das vítimas não apresenta queixa? Para quando a punição real, e em tempo útil, desta forma de violência cobarde, socialmente escamoteada e destruidora de famílias?
Para quando uma sociedade justa, igualitária e com uma consciência global?
Talvez quando cada um de nós faça algo mais que leitura, quando o tema é um tema como este. Delicado. Porque não dizer: vergonhoso?

10 comentários:

gaivota disse...

vergonhosos, sim... e passa-se ao lado de tanta gente, impávida e serena, que até assiste...
sempre contra toda a espécie de violência, física ou psíquica, lutar até ao fim!
bom texto, parabéns
beijinhos

bettips disse...

Os números (os conhecidos) são arrepiantes; não só a violência, a morte horrorosa, tantas vezes tão novas...
Ter a consciência de, chamar a atenção de, educar para.
Abraço e as melhoras do menino.

AnaMar (pseudónimo) disse...

Que a violência não é só contra as mulheres, embora este dia seja simbolizado para este tema.
Eu nem queria acreditar (só porque eles são, na generalidade, mais fortes) mas há violência dirigida a homens.

Vergonhoso.
Decadente.
Inadmissível.
Que vamos fazer para para esta crescente tendência?

Bj

Maria disse...

A quente, quente, não tenho palavras.
A frio talvez amanhã... estou a falar a sério, filoxera.

Beijinho

Carlos Albuquerque disse...

Este seu texto dá-me um puxão de orelhas! Aceito. Devia ter-me referido ao tema. Talvez ainda o faça.
Cortantes as suas palavras, que nos levam a reflectir.
A tolerância, a compreensão, o respeito, a partilha e o amor são hoje valores cada vez mais ausentes.
A voracidade predadora da sociedade consumista em que vivemos leva as pessoas a esgrimirem sentimentos, não na busca de pontos de concórdia, mas tão só desembocando na violência vergonhosa (não só física), como lhe chamou, e bem.
É a violência sobre crianças, mulheres e, até, sobre o homem.
Uma das formas de violência que mais me magoa é a obscura ignorância em que a sociedade actual vai crescendo, perante uma passividade quase global.
Continua actual o pensamento de Luther King:
"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons".
É urgente que o ser humano replante a árvore do amor, para voltar a ser coisa viva. Hoje mais se assemelha a um zombie.
Foi Mia Couto que escreveu:
"O amor é a mãe de toda a coisa viva".
Desculpe ter-me alongado.
Um beijo

ANTONIO SARAMAGO disse...

é???
Então vais já levar uma grande tareia de beijinhos!!!!!
É Vergonhoso tanta falta de escrúpulos, ainda ante-ontem se passou um assassinato aqui na minha terra, sem apelo nem agravo e lá está, de que se tirou a vida a uma pessoa e o assassino continua a viver.

Meg disse...

Filoxera,

Felizmente, apesar de tudo, já se avançou muito nos últimos anos.
Há uns anos atrás, perante uma agressão violentíssima que se estava a verificar no prédio em que vivia - o homem, um jovem, agredia a mulher e ameaçava atirar o bebé do 2º andar - chamei a GNR e a resposta foi a da altura, não podiam fazer nada.
Como a tarde ia a meio, tentei contactar pessoas que conhecessem a família da jovem, e só eles é que vieram pôr fim ao desacato.
Agora imagina a impotência com que assisti a sucessivas cenas destas.

Agora uma coisa que acho tremendamente injusta é a mulher, depois de agredida, ser obrigada a deixar o lar.
Porquê? Porque não levam o agressor para longe?
Se alguém souber, agradeço que me responda.

Bem hajas, amiga!

Um beijinho

Filoxera disse...

Gaivota:
Normalemente, as vítimas não dão luta... Infelizmente, muitas vezes nem recorrem aos meios disponíveis para obterem ajuda.

Bettips:
Obrigada. Pelo comentário e pelos votos de melhoras :-)

AnaMar:
Claro que os homens também são vítimas de violência; eu, por acaso, tinha noção disso. Apenas me referi à violência sobre as mulheres por ser o dia desta, mas qualquer tipo de violência é condenável.

Maria:
De cabaça fria e mais descansadas, havemos de falar.

Carlos:
Quanto ao comentário, adorei, pelo que o pedido de desculpas não faz sentido. Como sempre, as suas pertinentes palavras contêm uma mensagem forte e uma poesia inerente, uma poesia realista. Contêm o saber de uma vida rica e o sabor de quem as prova e as reparte com quem o lê.
Senti-me honrada com o comentário, porque me deu a entender que o post poderia cosntituir uma fonte de inspiração.

António:
Tareias de beijinhos, isso sim, é admissível; por vezes, até, desejável.

Meg:
que sufoco, essa sensação de perigo eminente!
Quanto à deslocação da vítima, claro que devia era ser o inverso: uma medida cautelar que afastasse o agressor, permitindo à vítima continuar a sua vida normalmente...

A todos: beijinhos.

BlueVelvet disse...

Ninguém tem noção do que isto é, antes de passar por isso.
Um dia, talvez tenha coragem para falar abertamente do assunto.
Agora não tenho.
Beijinhos

Sofá Amarelo disse...

Eu antecipei-me um pouco e falei há dias neste drama...

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