19 março 2009

PAI


Bate forte, fortemente, esta saudade latente

Podia começar assim, um poema que escrevesse para ti, pai.
Mas nunca fui capaz de tecer poesia. Se fosse, tu merecê-la-ias.
Dizem que hoje é o Dia do Pai. Não te tenho comigo, nem ao meu pai emprestado, o inglês que partiu há pouco para esse plano onde se diluem as angústias, se anulam as preocupações.
Fazes-me falta. Já o disse aqui muitas vezes e continuarei a dizê-lo. Nunca foste do estilo "pai galinha". Eras aberto, comunicativo, frontal. Pouco dado a manifestar emoções, no entanto, sensível.
Hoje, para mim, não é dia de cemitério. Não quiseste ocupar o espaço e o tempo dos rituais fúnebres. Respeitámos, até porque também acho mais sensata, a tua opção.
E, porque este é um texto dirigido a ti, quem achar que não está para tristezas pode acabar aqui a leitura.
É que eu estou cheia de segredos para deitar cá para fora. E, enquanto não consigo fazê-lo quanto aos outros, pelo menos vou recordar os bichinhos de conta que enrolávamos na mão, era eu miúda de uns cinco anos, as noites de quarta, quando víamos os filmes na tv juntos, já adolescente, as conversas que tinhas comigo sobre temas que para outros pais eram tabú.
A doença. Essa devastação chamada Alzheimer que me roubou o pai cedo demais. Até uma morte que antecedeu uns dias o nascimento da tua neta. Gravidez enlutada. Quando ela nasceu, não chorei de dor, chorei pelo vosso desencontro. Pelas cinzas que fui obrigada a espalhar ao sabor das ondas porque a mãe assim teimou... Foi aí que te disse adeus. Adeus é, para mim, palavra apenas para esta situação: a morte. Estava demasiado perturbada para me despedir de ti quando a urna entrou para a tua última vontade, pelo que só disse adeus dias mais tarde. Junto ao infinito azul.

Tanto do que eu sou provém de ti! Tanto que eu te sinto aqui, junto a mim, todos os dias...
E agora, que não te tenho, que nunca mais te vou ter, dou por mim a pensar que ainda bem que foste poupado ao que se tem passado por aqui.
Precisava tanto de ter um pai agora! E os teus netos, esses, precisavam tanto de um avô...

14 comentários:

Pitanga Doce disse...

"E porque este é um texto dirigido a ti, quem achar que não está para tristezas pode acabar aqui a leitura".

Não faria o menor sentido estarmos aqui se não fosse para te ouvir (ou ler)quando precisasses falar.

beijos carinhosos e bom dia (na medida do possível)

Carminda Pinho disse...

É o que faz, andar a navegar só à noite. Perdi a hora, e o dia, mas deixo-te beijinhos.:)

Maria, Simplesmente disse...

Só hoje acertei com a chave Filoxera, é a primeira vez que tento entrar num espaço fechado.
Normalmente não gosto mas realmente será talvez melhor maneira de desabafar.
Vou sabendo notícias, nada agradáveis mas... esperadas!
A vida é dura mas como vê... a Primavera voltou.
Os que partiram deixaram-nos uma lição para estudarmos muito bem:
... só com luta pela vida venceremos. Eles já não nos podem ajudar, compete a nós escolher.
Está bonito o seu Blogue.
Voltarei.
Beijos
Maria

Gi disse...

Se estamos aqui é porque queremos e não batemos com a porta só porque algo é mais triste; apesar de muito pessoal há aqui coincidências com o meu pai a quem, igualmente, disse adeus, há menos tempo do que tu.

Mare Liberum disse...

Querida amiga, todos os dias o são do pai, da mãe, da criança...mas ontem a saudade doeu. Eram tantas as referências por onde passava! Fazem-nos falta os nossos progenitores!

Bem-hajas!

Beijinhos para três

Pena disse...

Oh, Linda Amiga:
Um texto que segui deliciado.
Tão lindo...!
Sem palavras.
Beijinhos

pena

FABULOSO! PARABÉNS!
O seu pai adoraria. Força.

Carla disse...

li-te com um arrepio de emoção...felizmente tenho pai, mas sei que um dia que ele parta dizer-lhe adeus será demasiado doloroso. Por isso acompanhei uma a uma as tuas palavras
beijos e tudo de bom

Maria disse...

Só consigo dizer-te que estou aqui. Contigo.

E deixar três beijos num enorme abraçoa...

Sofá Amarelo disse...

«É tão bom ser pequenino, ter pai, ter mãe, ter avós, ter esperança no destino e ter quem goste de nós»... a minha mãe cantava-me esta canção há muitos anos....

Oliver Pickwick disse...

Ora, Filoxera! De algum modos ele contempla a vida dos pequenos "terroristas". E a sua também, é claro. É pena que esta turma do "andar de cima" não é muito dada a conversas com o pessoal cá de baixo. Mas estão lá, acompanhando tudo.
Um beijo!

BlueVelvet disse...

Como sabes não tenho andado pela net.
Mas hoje vim espreitar-te.
Fora de tempo quanto ao dia. Mas entre amigas é sempre tempo de te deixar um abraço sentido e apertado.
Beijinhos

Patti disse...

Um grande beijinho e um abraço sentido.

1/4 de Fada disse...

Acho que por esta altura já toda a gente percebeu que fujo o mais que posso dos assuntos pessoais, mas não posso deixar de te dizer que te compreendo muito melhor do que imaginas.
Um grande beijo.

A.S. disse...

Com emoção,
deixo um terno beijo!...

AL

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