24 junho 2007

De repente, uns fulanos que nunca antes viste estão à tua frente a entrevistar-te e têm na mão a possibilidade de te oferecer o emprego que mereces e que te esforças por alcançar.
Vês, nas anotações que o condutor da entrevista dispôs diante de si, que a última questão desta conversa é, simplesmente, "venda-se". Vá lá, o sujeito consegue colocar o desafio de forma mais cortês e dispara: "Neste momento, o que me preocupa é escolher a pessoa certa. Sabe, é que tivemos muitas respostas a este anúncio e eu preferia ter tido menos; é difícil escolher. Porque é que devemos escolhê-la a si?".
E o teu processador tem de funcionar a mil para não deixar sair de rajada tudo o que poderia ser dito neste momento: que a tua responsabilidade e o teu empenho são totais, que és honesta e pontual, que sabes estar e falar, que os resultados do teu trabalho nesta área têm comprovado a tua capacidade persuasiva, que estás cheia de vontade de te dedicares novamente a uma ocupação profissional, que vestes a camisola de quem te dá uma oportunidade, tal como promoves o espírito de equipa ou colocas questões quando as achas pertinentes, que mesmo nos momentos piores não desisites de virar o jogo em teu favor, que, que, que...
E, durante dias, toda tu és expectativa. Uma expectativa optimista, mas afastada da lembrança, para não tornar mais pesados os ponteiros do relógio, que se arrastam.
Quando, finalmente, sabes a arrasadora resposta, partes de novo para a incessante busca. E as sucessivas vagas de anúncios nos diversos meios vêm demonstrar-te que quase só há lugar para operadores de telemarketing/call-centers. Ah! E que convém que tenhas idade inferior a trinta.
Depois há aquelas ilusões, oásis enganaadores quando se sonha com algo que se quer muito. O ambiente é óptimo até à segunda ou terceira entrevista. Fazem-nos acreditar que encontrámos o lugar certo para trabalhar: instalações modernas e aprazíveis, gente simpática, pontual e cordial, instituição com solidez financeira e... uma remuneração muito inferior à que se auferia antes. Aliada a exigências de trabalho frequente tanto à noite como ao fim-de-semana.
É como se a vida se pudesse datar como AD e DD, antes do despedimento e depois do despedimento. Antes, quando nos sentimos estáveis e nos preparamos apenas para a subida das taxas de juro ou o crescimento da família. Depois, quando tudo se converte num buraco negro.
Primeiro, transmitem-te consideração e, mesmo, admiração pelo teu trabalho. Depois, o cepticismo, a dúvida em relação às tuaas capacidades. Agora cabe-te a ti comprovar que o teu despedimento foi um acto de pura arbitrariedade.
É como se uma pessoa, uma vez desempregada, perdesse o direito à credibilidade. Em alguns casos, até mesmo à dignidade.

3 comentários:

SOBE E DESCE disse...

Ó meu comentário foi só para lhe dizer que melhor que ninguém a compreendo. As situações porque passei foram muito difíceis e muitos sacrfícios foram feitos.
Ainda por cima não se podia protestar. Impossível a palavra protesto.

Unknown disse...

Como eu te compreendo... O mercado de trabalho está mesmo uma mer...
Tem paciência...Melhores dias virão...

Anónimo disse...

Quanto maiores eles são, pior!
És só mais um número, talvez o 5123 ou o 3456 mas não passamos de números.
Sorte a dos amigos, afilhados, e mais familiares do genero, para eles empregos nunca faltam.

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