01 maio 2018


Fez hoje três anos que saímos de casa ansiosos, a caminho do hospital. Passara a manhã a ligar para o serviço onde a minha mãe estava internada, sem que ninguém atendesse. Até que, coincidência ou não, me atendeu precisamente uma neurologista que acabara de vê-la. O hematoma subdural ameaçava com uma hemiparesia e lá fomos nós, assinar a autorização, dar-lhe um beijo e esperar que a intervenção decorresse bem.
A espera foi sufocante. Sabia que a intervenção era minimamente invasiva, mas não deixava de sentir ansiedade. O procedimento foi bem-sucedido, a recuperação demorada, mas com sucesso também.
Hoje, a minha mãe pode ter-nos observado, a mim e à neta, a ir ao encontro da sua amiga de mais longa data. Quero imaginar que sim. Que nos viu abraçar e conversar com a sua colega de escola primária, deixar lembranças e, infelizmente, esquecermo-nos de tirar uma fotografia.
Andei anos a tentar que fosse connosco a Mértola. Queria que os netos conhecessem a sua terra natal pela sua voz. Ouvissem da boca da avó as lembranças da casa onde nasceu. Que rissem na sua companhia com as histórias e peripécias da meninice nos anos 40.
Não consegui concretizar o desejo. A minha mãe certamente já se sentia muito fraca há demasiado tempo, para conseguir alinhar em “aventuras”.
Hoje, soube a pouco o reencontro com quem não via há anos e não pôde acompanhar a despedida da minha mãe. Mantinham uma proximidade telefónica que eu tenho desempenhado, em certa medida, no lugar dela. Tal como com outras amigas.
É bom ter com quem recordar. E mais recompensador que na dispersão dum velório ou funeral. 
Foi, provavelmente, a tarde mais emocionante que podia ter vivido, hoje. 
O sonho permanece.

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