28 março 2015

Maria Rapaz

Maria Rapaz. Era assim que chamavam as meninas que trepavam às árvores, jogavam à bola ou assobiavam.
A tia Beatriz era a Maria Rapaz da família porque, na idade das tropelias, apanhava cobras do rio e levava-as para casa. Assobiando, pois claro!
Quando a minha filha começou a romper joelhos das calças com o mesmo afinco e regularidade com que o irmão costumava fazê-lo, a tia passou a chamar-lhe Maria Rapaz.
Já não tenho a minha tia para coser calças.
Fazia-o com a perfeição alcançada por um enorme gosto e muitos anos de prática de antiga professora de corte, costura e bordados.
Abria as costuras laterais da sarja e, com a ajuda de uma máquina que permitia o ziguezague, cerzia com cuidado onde as crianças haviam cortado a direito, muito tortamente. O trabalho era tão cuidadoso que nem se notava, por vezes, onde tinha havido um rasgão.
Agora, faz-me companhia no pensamento. Recordo a sua habilidade enquanto me esforço por deixar apresentáveis os joelhos das calças da Mafalda, com os pontos mal azambrados (como a tia diria) de quem cose à mão, sem jeito nem gosto.

19 março 2015

Dia do Pai


No Dia do Pai, porque seria tão bom que todos os pais fossem como uma casa onde os filhos regressam sempre...
A CASA
Sei dos filhos
pelo modo como ocupam a casa:
uns buscam os recantos,
outros existem à janela.
A uns satisfaz uma sombra,
a outros nem o mundo basta.
Uns batem com a porta,
outros hesitam como se não houvesse saída.
Raras vezes sou pai.
Sou sempre todos os meus filhos,
sou a mão indecisa no fecho,
sou a noite passada entre relógio e escuro.
Em mim ecoa a voz
que, à entrada, se anuncia: cheguei!
E eu sorrio, de resposta: chegou?
Mas se nunca ninguém partiu…
E tanto em mim
demoram as esperas
que me fui trocando por soalho
e me converti em sonolenta janela.
Agora, eu mesmo sou a casa,
casa infatigável casa
a que meus filhos
eternamente regressam.

Mia Couto

08 março 2015

NO DIA DA MULHER * autora Sofia Barros - diz Luiz Vinagre



Hoje faz 13 anos que soube que a minha vida ficaria mais completa. Foi quando soube que esperava o primeiro filho.
Será sempre um dia especial.
Para assinalá-lo, partilho as minhas palavras sobre o Dia da Mulher, na voz de Luiz Vinagre.


04 março 2015


Podíamos ter ficado na pré-história.
Preferimos arriscar. Fizemos a nossa história.
Repentinámos o apelo, que sabia esperar.
Não soube mais.

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