Pediste-me que te surpreendesse com um presente.
Não um presente comercial; não. O que querias era algo
único, simbólico, nosso.
A ideia era surpreender-te com uma oferta que fosse tudo. Menos
banal.
Ofereci-te um rio.
Um rio de vida, lito de sonhos, cama de peixes e de algas.
Espelho de luz, reflexo do Sol, estrada de barquinhos de papel.
Um rio que corre ao som do coração, em salpicos de correntes
tumultuosas ou águas chãs.
Um rio como os dias: calmo ou agitado, criativo, saltitante,
um fio de água ou um caudal de vida.
Alonguei-me nas duas margens que me deste para sonhar e aí
desenhei campos verdejantes e moinhos preguiçosos, rebanhos indolentes que
homenageiam os raios solares. Uma criança que corre, sob o olhar dum avô que a
pastoreia mascando uma azeda.
Ofereci-te um rio.
Tu sorriste um sorriso de todas as palavras, de todos os
sorrisos.
E nele aprendeste a nadar.